Apólogo da DesAVEnça
Poema de versos heptassílabos em estâncias tetrásticas, a exemplo da trova, porquanto denominado, por mim, de Troema, ou seja, poema em trovas.
Pombas! Que baita atrapalho,
que bruta mancada minha,
quando Bem-Te-Vi no galho
bem ao lado da Viuvinha!
Tal qual uma Gralha tonta,
contei pra toda a floresta!
Veio de aves um sem conta...
Papagaio fez a festa!
Falou muito de um Gavião
e de outras coisas medonhas...
que assistiu até reunião
de bem mais de cem Cegonhas!
Do Sabiá que já sabia
de tudo desde o começo,
mas não contava, fingia,
e em troca tinha o seu preço!
Do Barbudinho que teve
de por a barba de molho...
qual Coruja se conteve
em apenas ficar de olho!
Veio um Jacu espoleta
que não era nada manso:
o seu pescoço xereta
esticava que nem Ganso!
Assim que a Viuvinha soube
do que dela se falara,
sua palrice não coube
nem na palra de uma Arara!
Pôs o bico no trombone,
qual Marreta-na-Bigorna,
numa fúria de ciclone
que espantou até Codorna!
A baderna foi ferrenha,
terrivelmente maldita:
quase a mata vira lenha
e as pedreiras viram brita!
Na confusão infernal,
desde Andorinha a Condor,
alguém lembrou-se afinal
de lhe ofertar uma flor!
Dessarte, a Viuvinha que era
braba com toda a certeza,
em respeito à primavera:
pediu vênia à natureza!
Dizem, com sabedoria,
existir ave que, então,
a partir daquele dia,
Beija-Flor por gratidão!