Vida em solução de continuidade
Vida em solução de continuidade — CXXVII
11DEZEMBRO2012—TERÇA-FEIRA.
(continuação de 10de dezembro 2012).
Vida que segue
XXIII
"Exige muito de ti e espera pouco dos outros. Assim, evitarás muitos aborrecimentos." (Confúcio).
Os irmãos haviam combinado em fazer o tranquilo Jaques cair, para terem uma diversão. Afinal, ele não queria ser moleque como os outros, quase não participava das brincadeiras, e quando o fazia se magoava por pouca coisa. Então que fosse ele o brinquedo. Jaques ia voltar a ler, quando Anabela entrou, e disse: — Ei! tá com medo? se acha que é mais forte que o Fernando, dá uma lição nesse moleque, e nunca mais ele te provoca! Vamos lá, Jaques; não se preocupe, caso ele se machuque nós somos testemunhas de que foi ele quem te provocou.
Jaques tentou contra-argumentar, mas acabou por se convencer que seria melhor mostrar para o Fernando que esse tipo de brincadeira não tinha proveito nenhum, e para os outros que não seria nada divertida a provocação. Ele sabia que havia alguma combinação escusa, pois Fernando era menor e mais novo, não o desafiaria se não houvesse algo por trás, mas Jaques não se interessou em saber o que era. Quase sempre ganhava quando provocado. Desde o momento que percebia não ter como evitar o confronto, sua força interior se mobilizava e ele enxergava cada movimento da fala, das dissimulações e dos pontos fracos do opositor; sem ter medo a partir de então, entrava para vencer os desafios. George, Anabela e Renam se posicionaram ao redor de Jaques e Fernando. Cada um dos adversários segurava a ponta de uma corda. Para saber quem tinha mais força era necessário puxar o oponente até a um passo de si, ou derrubá-lo. Sempre que Jaques estava puxando o Fernando, os irmãos mandavam ele parar e iam para junto de Fernando dizer como como deveria proceder. Um dizia: “Tem que passar a corda em volta do braço antes de segurar a ponta, para que fique bem firme”. O outro dizia: “Tem que fincar o pé no chão”. Isso constrangia Jaques que não entendia por que seus irmãos tinham tanta raiva dele. Não atinava que era diferente nas atitudes, e no falar. Nunca xingava, quase nunca se revoltava exteriormente, e nunca enganava qualquer deles. Isso muito os incomodava, assim como à sua mãe. Anselmo, que chegara no início da disputa, ficou de braços cruzados encostado na parede, percebendo as artimanhas desonestas dos irmãos de Jaques, disse que aquilo era covardia, que deixassem os dois irem até o fim de uma vez. Para não parecerem maus aos olhos de Anselmo, não mais interferiram na brincadeira. Fernando estava quase ajoelhado, tentando resistir à força de Jaques, que o puxava sem muito esforço, quando Cleópatra entrou na sala, e quis saber o que era aquilo.
(Lere)
(continua amanhã,12dezembro2012—quarta-feira).