O Operário

O Operário

Antes que eu pudesse abrir os meus olhos

você veio e me condicionou a calá-los

iminente a eu abrir os meus lábios

com o facão descerrado arrancou fora o meu linguajar.

Rastro de gordura e salitre percorre

minhas veias entupidas de comida escrava;

olho em minha volta e o que eu vejo

são paredes frias sem reboco

desmanchadas..

Deitei no colchão sem lençois

e tentei sonhar com o ideal eterno,

porem minha barriga vazia sempre

me lembrava de sua presença constante, insistente

Súbito, eu já me achava no chão

desfalecido de cansaço fome e dor.

Sentindo o cheiro de lar ao longe

e os vizinhos se esbaldando em suas cores

Foi então que eu pude perceber, deveras

tudo o que é real se desmancha, sou um ator neste espetáculo

porem tarde demais eu percebia a comédia

pagaram o meu valor no mercado

eu já sou fato consumado.

Em meu velório, uma carta da empresa chegava

trazendo para os meus filhos, com ela o descaso.

Enquanto isso o meu patrão estava

a se esbaldar com putas em Chicago.

Isis Rost
Enviado por Isis Rost em 05/12/2012
Reeditado em 06/12/2012
Código do texto: T4021749
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