Vida em solução de continuidade
Vida em solução de continuidade — CXX
04DEZEMBRO2012—TERÇA-FEIRA.
(continuação de 03de dezembro 2012).
Vida que segue
XVII
"Em ti, Senhor, me refugio; nunca seja eu envergonhado; livra-me pela tua justiça! Inclina para mim os teus ouvidos, livra-me depressa! Sê para mim uma rocha de refúgio, uma casa de defesa que me salve! Porque tu és a minha rocha e a minha fortaleza; pelo que, por amor do teu nome, guia-me e encaminha-me.” (Sl 31:1—3).
— Querida, eu fui aos outros aposentos porque sua mãe me levou, mas sabia desde o início que a Anabela estava em seu quarto! E claro que vou levar a minha filha, e vou entrar em seu quarto! — Voltando-se para a mãe da Kátia, Cleópatra diz: — Não é, dona Armênia? — tornando a olhar para Kátia, lhe lança um olhar de desdém demostrando que todo aquele rompante, que considerava infantil, não lhe impingia o menor temor. Armênia se dirigiu à filha dizendo-lhe que Cleópatra tinha o direito de procurar a Anabela, já que lhe informaram que ela estaria ali. Pegou delicadamente o braço de Kátia e a afastou da porta do quarto, onde havia se postado feito uma sebe, disposta a tudo para impedir Cleópatra de entrar ali. Inconformada com o desfecho da situação, começou a gritar descontrolada, dizendo estar sendo desrespeitada em sua própria casa, e como se não bastasse, também invadiam seu quarto. Sua mãe estremecida se condoía em ver o estado emocional da filha, mas sabia que aquilo precisava terminar de forma o menos trágica possível; cruzou os braços, abaixou a cabeça e esperou. Quando Cleópatra entrou, finalmente, no último aposento da casa — o quarto da Kátia estava sem ninguém. Inopinadamente, já com os nervos novamente a lhe tirar o senso, abriu as portas do armário, olhou para a janela que estava fechada, disse, reflexivamente, saber que Anabela devia estar escondida em algum lugar; e descobriu um meio-sorriso no semblante de Kátia. Olhando para Armênia, percebeu que ela lhe fazia gestos com os olhos. Por que a cama da Kátia era muito baixa, concluiu que a distância entre o piso e o colchão não passava de vinte centímetros aproximadamente, não se dera, por isso, ao ao trabalho de investigar ali, entretanto, o olhar da dona da casa lhe dera a certeza de que a menina, que era magra e faria qualquer sacrifício para não ser descoberta, devia mesmo ter se comprimido no lugar menos provável.
— Jaques, olha embaixo da cama!
Fazendo um esforço, meio contrafeito, Jaques olhou, se levantando enviesou a boca e suspendeu uma sobrancelha, o que Cleópatra não entendeu se era uma afirmação ou uma negação, e isso a deixou, por um momento, em suspense e temerosa de ter perdido a filha, mas como ele nada dizia, percebeu que não queria delatar a irmã verbalmente, percebeu que era uma questão de ética entre irmãos, um quase corporativismo fraterno. Odiava isso, mas compreendia.
(Lere).
(continua amanhã, 05dezembro2012—quarta-feira).