Vida em solução de continuidade
VIDA EM SOLUÇÃO DE CONTINUIDADE — CXIX
03DEZEMBRO2012—SEGUNDA-FEIRA.
(continuação de 02 de dezembro 2012).
Vida que segue
XVI
“Descansa no Senhor, e espera nele; não te indignes por causa daquele que prospera em seu caminho, por causa do homem que executa astutos intentos”. (Sl 37:7).
Cleópatra logo percebeu que a mulher queria lhe dizer algo, e não sabia como. Entabulou uma conversa com Armênia, com o intuito de reforçar a empatia que percebia ter se estabelecido entre as duas mães — ela e Armênia tinham algo em comum: filhas rebeldes e rebarbadas, como veio a saber no início do diálogo. Contou estar quase apavorada com essa atitude da filha, mas admitia ter culpa: “sempre enalteci demais sua beleza, e lhe dava tudo que queria” — dizia arrependida. Armênia já havia passado por situação semelhante com a filha do meio, que saiu de casa e só vinha visitá-la esporadicamente; a mais velha havia casado e raras vezes visitava a mãe; ambas não aceitavam as dificuldades financeiras por que passaram, após o pai ter ido embora com outra mulher; culpavam a mãe por tudo. Kátia foi a única, provavelmente por ser ainda muito criança quando o inesperado aconteceu, a lhe dar atenção e carinho. Nessa integração de dores maternas, Armênia leva a nova amiga para inspecionar os aposentos, alteando a voz a fim de que Kátia escutasse, diz: “Vou lhe mostrar os aposentos, para que veja que sua filha não está aqui!” — Olhando, entretanto para Cleópatra, fazia gestos de cumplicidade com a cabeça. Entendendo a estratégia, a amiga segue a outra mantendo o mesmo tom de desabafo e indignação. Kátia, ao ver sua mãe se encaminhar em direção à cozinha, sente-se um tanto aliviada quanto desconfiada. Quando finalmente as mulheres retornam à sala, ela pergunta:
— Então, dona Cleópatra, satisfeita? Se convenceu que a Anabela não está aqui?
— Querida, só falta o seu quarto.
— No meu quarto, nem o presidente da república entra! — Apavorada, e sem conseguir esconder sua expressão, olha para a mãe, e gritando protesta: — Mãe, você não vai permitir que ela invada meu quarto, não é? Você sabe que não deixo nem mesmo você entrar lá! — Arqueando as sobrancelhas e apertando os lábios, Armênia levanta os ombros lentamente, e mostra as mãos abertas para a filha, dando a entender que não pode proibir Cleópatra daquela última averiguação, pois ela mesma a havia guiado pelos outros cômodos.
(continua em: 04/12/12)
(Lere)