Sono



Um verdadeiro acalanto
Nos ares prévios do arrebol
Onde o ronco é um canto
Quando se espera o rei sol

Estou numa crise etérea
Existencialista onde o sono
É remédio ou doença venérea

Todos precisam dormir
Todos dizem sonhar
Todos querem descansar
Os sentidos vão sumir
Pra cedinho acordar
Mais um dia a surgir

Já não existo nessa noite
Que meus gritos não ecoem
Nem meu eu lírico tem sorte
Enquanto eles dormem

Tenho sono, é verdade
Mas os acentos se confundem
Os óbvios passam a ser maldade
E os pesadelos me iludem

O sono é pífia exigência
Domina-nos a beira da demência
Furtando-nos a complacência
Suplantando a saliência

Ah, o bocejo afinal
Repita comigo, é marginal
À margem do centro
A muito não concentro...

Preciso despertar à realidade
Despertar ao rio vermelho que me cerca
Despertar à matança dos leões
Acordar ao ensejo do cotidiano
Enfim enfrentar mais uma perda
Que o relógio maldito não tarde
Penso agora em meus botões...

Logo seja minha embriaguez
Sono, sono, sono...



***
Adam Poth
Enviado por Adam Poth em 11/10/2012
Reeditado em 11/10/2012
Código do texto: T3927284
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