Conto nublar #: AUTÊNTICOS COPOS DE CRISTAL
Eu deveria estar por volta dos 20 anos.
Eu sempre fui um apaixonado por música de qualquer espécie, quer vocal, quer instrumental. Quando assisti ao filme “O SOM DO CORAÇÃO” (August Rush), identifiquei em muitos pontos no que se refere ao gosto e percepção musical no sentido intuitivo, sua fonte de inspiração etc. É incrível como a música está presente em nossas vidas, quer no campo audível, quer no silêncio, viva e latente no mais recôndito do âmago do nosso ser. Música pra mim é tudo. E tudo, significa tudo mesmo em qualquer língua que for versado.
Hoje pela madrugada, quando a alvorada se advinha, viajava eu pelos acordes sonantes e dissonantes que se formava em meus ouvidos mentais, inaudível para os outros, mas forte e latente para mim. Ah, que saudade do meu Sibelius que ficou no meu PC lá no Ceará. Não fora isso, certamente eu os teria resgatado e codificado em partitura. Infelizmente, tive que me contentar em apenas escrever esta humilde crônica que agora o caro lê.
Então! Enquanto lamentava ver diluídos os meus acordes, lembrei-me de um dia que lera sobre os copos e taças de cristal que, sendo verdadeiros, produzem sons de um timbre sui generis, super agradáveis a quem tem a sorte e os escutar. De tanto tentar, consegui gerar sons de rara beleza nesses utensílios. Com isso também adquiri a mania de quando e onde estivesse e encontrasse copos outaças de cristal, molhava o dedo indicador e suavemente se ouvia o encanto do toque de crista. As pessoas se maravilhavam e queria aprender e eu as ensinava.
Não demorou muito, fomos jantar na residência de um casal amigo. Não me lembro qual foi o cardápio, mas do meu fiasco, não deu pra esquecer. Não me contive e pedir para tocar nos cristais dos anfitriões. Eram visivelmente verdadeiros e eu, inocentemente falei:
_ Posso tocar neles. Sai um som massa! Estes aqui devem gerar os mais belos sons, vistos que são verdadeiros.
Então, fazendo o maior suspense, peguei uma taça, molhei meu indicador, friccionei e friccionei e nada de som algum a taça emitiu. Repeti o gesto em mais duas taças e nada. Então, encabulado, me desculpei:
_ É! Acho que perdi o jeito...
A anfitriã acudiu-me, sem graça:
_ Liga não, Od! Estes cristais não devem mesmo ser verdadeiros. O vendedor me passou gato por lebre.
Pense como eu “perdi a chave”! Não tive como me desculpar daquele fiasco, mas serviu-me de lição. Nunca mais fiz algo semelhante, Seria burrice repetir a dose.
* Perder a chave – bras. na Bahia = Ficar envergonhado.
Eu deveria estar por volta dos 20 anos.
Eu sempre fui um apaixonado por música de qualquer espécie, quer vocal, quer instrumental. Quando assisti ao filme “O SOM DO CORAÇÃO” (August Rush), identifiquei em muitos pontos no que se refere ao gosto e percepção musical no sentido intuitivo, sua fonte de inspiração etc. É incrível como a música está presente em nossas vidas, quer no campo audível, quer no silêncio, viva e latente no mais recôndito do âmago do nosso ser. Música pra mim é tudo. E tudo, significa tudo mesmo em qualquer língua que for versado.
Hoje pela madrugada, quando a alvorada se advinha, viajava eu pelos acordes sonantes e dissonantes que se formava em meus ouvidos mentais, inaudível para os outros, mas forte e latente para mim. Ah, que saudade do meu Sibelius que ficou no meu PC lá no Ceará. Não fora isso, certamente eu os teria resgatado e codificado em partitura. Infelizmente, tive que me contentar em apenas escrever esta humilde crônica que agora o caro lê.
Então! Enquanto lamentava ver diluídos os meus acordes, lembrei-me de um dia que lera sobre os copos e taças de cristal que, sendo verdadeiros, produzem sons de um timbre sui generis, super agradáveis a quem tem a sorte e os escutar. De tanto tentar, consegui gerar sons de rara beleza nesses utensílios. Com isso também adquiri a mania de quando e onde estivesse e encontrasse copos outaças de cristal, molhava o dedo indicador e suavemente se ouvia o encanto do toque de crista. As pessoas se maravilhavam e queria aprender e eu as ensinava.
Não demorou muito, fomos jantar na residência de um casal amigo. Não me lembro qual foi o cardápio, mas do meu fiasco, não deu pra esquecer. Não me contive e pedir para tocar nos cristais dos anfitriões. Eram visivelmente verdadeiros e eu, inocentemente falei:
_ Posso tocar neles. Sai um som massa! Estes aqui devem gerar os mais belos sons, vistos que são verdadeiros.
Então, fazendo o maior suspense, peguei uma taça, molhei meu indicador, friccionei e friccionei e nada de som algum a taça emitiu. Repeti o gesto em mais duas taças e nada. Então, encabulado, me desculpei:
_ É! Acho que perdi o jeito...
A anfitriã acudiu-me, sem graça:
_ Liga não, Od! Estes cristais não devem mesmo ser verdadeiros. O vendedor me passou gato por lebre.
Pense como eu “perdi a chave”! Não tive como me desculpar daquele fiasco, mas serviu-me de lição. Nunca mais fiz algo semelhante, Seria burrice repetir a dose.
* Perder a chave – bras. na Bahia = Ficar envergonhado.