Conto nublar #114 EXTERIOR RECICLÁVEL NO DIA A DIA
Hoje, enquanto lia em meu iPad as últimas notícias, incluindo as do Pedro Leonardo com ampla cobertura de sua completa recuperação, O Split dava um caprichado trato nas begônias. Desculpem-me, segundo ele, tenho que escrever o nome delas em maiúsculas, portanto, “... das Begônias”. Nisto, diviso na curva abaixo, no aclive que dá acesso ao meu jardim, quem?
O Inventon Nilson, suando aos cântaros, empurrando a magrela de corrente quebrada se aproximou lentamente, sentou-se ao meu lado.
_ Bom (Uuf!) dia (Uuf!), Od! (Uuf! Uuf!) Posso ir ao banheiro?
_ Claro, Tom! A casa é sua!
Enquanto o Inventon foi ao toalete, o Split comentava com o Od o quanto o amigo estava despreparado. Uma subidinha daquela! Está certo que é um pouco íngreme, “mas não era pra tanto, convenhamos”, dizia o Split. Já o Od embora intimamente concordasse, defendia o Tom, como às vezes também o chamava, dizendo que poderia ser algum princípio de gripe ou coisa assim. Ninguém nunca sabe. Nesse instante ouve-se estrondosa gargalhada do Inventonilton ainda no toalete. Esperávamos que isso passasse, mas a gargalhada se prolongava além do normal e aumentava de volume. E foi assim que o nosso amigo chegou ao jardim com o rosto vermelho de tanto rir e quase não parava de rir, mas ainda bem que estancou o riso. Split pregunta:
_ Pode-nos contar o motivo de tanta graça pra ver se rimos também?
Od:
_ Sim, Tom. Fiquei também curioso. Qual é a graça?
_ Enquanto tive o meu momento de realeza, sentei no trono sem cetro, comecei a observar o ambiente. Foi quando olhei para o armário do banheiro. Não havia espelho pois este fora quebrado, mas em lugar desse um compensado com um aviso colado: “Somente quem é inteligente consegue se ver neste espelho”. Comecei a me senti burro, não nego. Depois, vi duas gavetinha com uma inscrição: usar em caso de necessidade: Numa havia o desenho de “O Pensador”, de Rodin, na outra, uma barriga com uma tatuagem de uma grade de cadeia. A primeira estava vazia, mas tinha uma inscrição no fundo: “anti respingo no ânus”. E a outra, cheia de bexigas de soprar. Pergunta o Split:
_ E daí? Qual foi a graça?
_ Aí é onde está. Essas coisas só faço em casa. Mas foi uma emergência, mas travou tudo ali, sabe como é, né? Então decidi que era uma emergência e resolvi testar a segunda gaveta. Peguei a bexiga olhei e olhe e nada de funcionar. Daí lembrei que nos aniversários brincávamos de soprar, sobrar até explodir a bexiga. Então comecei a sobrar e nem chegou na metade da bexiga, fez um efeito beleza. Mas não gostei da recepção. Um respingo safado atingiu onde vocês estão pensando. Foi aí que me lembrei da primeira gaveta. Mas o que tem a ver a escultura de Rodin com o meu problema? Absolutamente, nada, mas vou descobri. Ela sugere um homem pensando, com a mão no queixo e o cotovelo no joelho. Pois assim fiz. Soprei a bexiga com uma mão live e pensei com a outra, tal a estátua do pensador. E adeus respingo. Daí, não sei porque me deu o frouxo de riso. Talvez de pensar, enquanto posava de “O Pensador” e “despachava o barro” que idiotice iria eu contar sobre isso a vocês. Seria um rasgo de cultura inútil.
Split replica:
_ Qual nada, Tom. Isso pode até ser uma cultura inútil, mas valeu, mesmo! Vou tomar esse cuidado de agora em diante. Certamente me será útil numa hora dessas.
Tom, em tréplica:
_ Só uma coisa não ficou clara, Od. Por que aquela brincadeira do espelho? Que eu saia dqui com o complexo de burrice?
_ Claro que não, Tom. Isto ali é para exercitarmos a nos olharmos por dentro porque, o que verdadeiramente somos está em nosso interior. O nosso exterior não passa uma casca descartável que o tempo vai reciclando no dia a dia.
_ Só as pessoas inteligentes conseguem se ver no espelho de sua alma.