Estradão Enluarado #001: VIDA DE VAQUEIRO
Bosco Esmeraldo
Trás os montes,
No horizontes,
Foi o Sol
Descansar.
Boa noite,
Papa-ceia!
Disse a Lua
E as estrelas,
Em glissando
Cintilante
Ecoante
Assentiram.
Lua cheia,
Luze à areia,
Que semeia
Paz, amor
Luz, sereno
Pudor pleno.
Puxa e solta
Em vai e vem
Vagas ondas,
Entubam vagas,
Surfam à crista.
No Sertão
Nessas noites
Assim de Lua,
De paixão
Tão pura e crua,
Dá vontade
De cantar.
Cantador
Pega a viola,
Canta em noite
Enluarada
Pra seu amor,
Faz serenata.
E nas notas
da canção
Escancara
O coração,
Solta a voz,
Doce, carente,
Derrama toda paixão.
Pelas cordas
Dedilhando,
Debulhando
O coração,
C'a batida faz compasso,
Tum-tum-tum,
Tum-tum-tum.
Parece dançando coco,
Socando o chão do salão.
E a Lua a tudo assiste,
E tudo vai registrando,
Enquanto, lá no alto da colina,
A mocinha, sorve cada modinha
Que foi na viola cantada
Ouvida, entre os seus gemidos,
Até capotar de vez.
E dormi a melé solto.
Cansado, dorme o violeiro
Que vai viajar com o vaqueiro.
Crispa os dedos.
Canta o galo,
Berra o gado,
Bale a ovelha
Zurra o asno,
Lengo-tengo
Do chocalho,
Da boiadada
Dorme a Lua,
Nasce o Sol,
Já é dia
Novamente.
O berrante
Sai tocando
O boiadeiro
Que, a ferrão,
Sai tangendo,
A boiada.
Em-pá! Bate
A porteira,
Na passagem
Da boiada,
Boiadeiro,
Se desvia
Da estrada
A mata-burra.
À noitinha,
Já exausto,
Bem cansado,
Mas disposto,
Volta alegre
Pra seu lar,
Para os braços
Da amada.