FRUSTRAÇÃO DO GALO ROBERTO
BOSCO ESMERALDO
Cria que o seu canto, grito de um guerreiro,
Trazia o Rei Sol, o grande luzeiro;
Que sai do tálamo e um sorriso esboça,
Trazendo luz ao dia para alegria nossa.
Canta o galo do alto do cajazeiro.
Aos primeiros raios, lá no horizonte,
Abre-se em leque festivo arrebol,
Gorjeia o passaredo em ode ao sol,
Grilos se calam ao longe, trás os montes.
Vaga-lumes se apagam, ante ao sol,
Carregam as baterias pelos montes.
O galo se mudou para a cidade,
Pra uma chácara urbana com os seus donos,
Mas ficou bastante desorientado.
Qual tivesse em fuso-horário, areado,
Luminárias da avenida, sóis sem donos,
Canta o Galo, sol não vem! Barbaridade!
Roberto, Galo Rei, decepcionado,
Na cidade sem moral, não quer cantar;
Perdeu o gosto, sentiu-se desrespeitado,
Quis, por protesto, se auto depenar,
Gritar alto seu nome amplificado,
Pro sol ouvir e voltar a brilhar.
De nada adiantou, ter tanto se esforçado.
Interação:
E aqui, qual Galo Roberto
Deixei meu lar, lá na roça,
Humilde herdade, a palhoça,
Fui pra cidade, não perto.
Mas, a timidez me assalta,
Me inibe, esmaga-me tanto
Que um misto de dor e pranto,
Qual nada, meu ser me falta.
De minha terra, a saudade
De ouvir Roberto cartar
Para a roça despertar,
Chegando a felicidade.
E muitas coisas ficaram
Apenas em mi'a lembrança,
Mas, restou grata esperança
De rever as que restauram.
O engenho não existe mais,
Nem mesmo o canavial;
Transforam em bananal.
O exterpiram em tristes ais.
Da Casa Grande, a mudança,
Sua lavagem se foi,
Findou-se o Carro de boi,
Nas memórias de criança.
As brincadeiras, folguedos...
O amor tornou-se canção
Que guardo no coração.
Isso não esqueço jamais.
Meu verdadeiro tesouro,
Volto pra rever um dia:
Família, amigos, diria:
Estes valem, sim, mais que ouro.
Chegou, afinal, no inverno
Pós primavera, verão,
Outono, a introdução
Para nosso Lar Eterno.
Eis o fator verdadeiro:
Pelo Amor, sendo alcançados
Fomos, salvos, perdoados
Pelo sangue do Cordeiro,