Cordel #079: DESABAFOS DE UM CORRUPTO INCORRUPTO
Sou o callichirus major <--- (pron. “kalíkirus maiór”)
Sou do reino animália
Põem-me na marginália
E ao ridículo o que é pior,
Me desprezam, na maior.
Atropoda é o meu filo,
Crustácea, o subfilo,
Decápoda minha ordem,
Thalassinidea infraordem,
Melacostraca classe e estilo.
Como veem, que beleza,
Não sou um qualquer, seu moço,
Na lama ou fundo do poço.
Com linhagem e realeza,
Faço parte da nobreza.
Nobreza que Deus criou,
Detalhes de mim, quem sou,
Merecia mais respeito,
Me achincalhar desse jeito,
Por que assim me apelidou?
É certo que vivo na lama,
Nela fiz meu buraco,
Meu lar, também meu “barraco”,
Eu não preciso de fama,
Mas cá deito em minha cama.
Ninguém nunca defraudei,
Nunca o erário desfalquei,
Cuido do ecossistema,
Sem me sujar com o “sistema”,
Sou limpo e sempre serei.
Mas que absurda homenagem
Dos biólogos ganhamos
Nome que nós detestamos!
Como tiveram coragem?
Destruíram nossa imagem.
Deviam pra sua família
Ou a quem a eles se filia.
Eu sou um ser incorrupto,
Não um político corrupto
Que do bem se desfilia.