CORDEL #049: TRIBUTO À NAÇÃO CARIRI
Grande Nação, chão fecundo
Do Piauí à Bahia
No Nordeste a moradia
Nasceu, aqui bem no fundo
Desse imenso mar profundo.
Aqui, pacificamente
Vivia alegremente,
Dos Cariris, a Nação,
Povoava a Região;
Em cada canto, u'a nascente
Aqui era um grande mar
Que banhava este Sertão,
Dava peixe de montão
Solo fértil a cultivar
Se plantando, tudo dá.
Vivia em perfeita harmonia
Festejando a cada dia
Ao Supremo Ser Celeste
Imunes de qualquer peste
Com muita paz e alegria
Expulsos do litoral
Pelas tribos Potiguaras
Também pelos Tabajaras
Tupiniquins grande mal
Recuaram ao matagal.
O Chapadão foi seu lar
Vieram aqui habitar
O berço do Cariri
Com muito inharé, pequi
Mangaba, puçá, ingá.
Coco pindoba a valer
Que também é babaçu
Mari, catolé, urucu
Gravatá, para comer
Manga, araçá pra viver.
Caça e pesca com fartura
Garantindo boa mistura
Água pura, cristalina
Pra beber, banhar, divina
Natureza, oh que candura!
Cariri ramificava
Icós, Pegas, Sucurus
Janduís e Paiacus
O povo que aqui morava
E a paz aqui reinava.
A terra foi invadida
Abriu na honra ferida
Caracarás, Canindés
Ariús, quais infiéis
Eliminados, sem vida.
A cabeça ornamentada
Com cocar bem colorido
De penas, o preferido
A caça bem temperada
Com peri, apimentada.
Pra caça usava o machado
De pedra bem trabalhado
Também com o arco e a flecha
Certeiros, no alvo fecha,
Com o ambiente harmonizado.
Seu cacique, Keriokeiou
Forte guerreiro valente
Rei da nação, potente
Da guerra não debandou
E bravamente lutou
Junto com outro cacique
Sem disfarce ou arrebique
Com Karupoto aliou-se,
Confederação formou-se
E o invasor que se pique.
Pondo corajosamente
Os Cariris pra lutar
Pra sua Nação salvar
E guerreou bravamente
Resistiram estoicamente.
E assim, seus opositores
Lhes prepararam horrores
Tudo em nome da ganância
Valendo-se da ignorância
Foram os seus predadores.
Mas os colonizadores
Maldosos e inconsequentes
Com doenças e aguardentes
Trouxe aos índios os seus horrores
Sucumbiram seus valores.
Com o álcool viciados
Sem saúde, depravados
E da condição de dono
Ao mais completo abandono
Como escravos explorados.
No Crato executados
Lugar onde hoje é a Matriz
A Sé e assim, por um triz,
Quase são exterminados
Mas uns seis são preservados.
Hoje seus remanescentes
Dos Cariris, descendentes
Resumem-se a um reduto
Os Aniceti, o fruto
Em resgate, emergentes.
Quatrocentos e cinquenta
São de todo o que resta
Dessa Nação, uma aresta
Daquela ação truculenta
Dessa ganância nojenta.
Xucurus em Pernambuco
E os Xocós na Bahia
Salvaram-se e hoje em dia
Caboclo e até mameluco
São dos Cariris o fruto.
Termino aqui a homenagem
A esta Nação dizimada
Pelos brancos arrasada
Mas tinha honra e coragem,
Apesar de ser selvagem.
Os colonos, insensatos,
Muito hábeis em maltratos,
Em nome do ter, destroem
E quase nada constroem,
Sem honra, nada cordatos.