Conto Nublar #031: NONSENSE, ABSURDO, ABCEGO E ABMUDO
CONTO INSÓLITO
Através dos inexistentes projetores acústicos, um fluente locutor gago lê esta resenha escrita com uma invisível tinta fluorescente numa folha de musgo desidratada:
“Um surdo ouve atentamente o mudo que eloquentemente fala em alta voz, no cume do mais profundo abismo, abaixo de dezenas de quilômetros da camada de pré-sal, na desértica umidade da aridez oceânica.
“Enquanto isso, um bícego treina e guia um tetraplégico que com suas próprias pernas corre em tresloucada velocidade, numa olímpica corrida rústica, tendo como plano de fundo uma fralda geriátrica estampando o desabrochar de uma ofuscante lua nova a sair do casulo, do meio de um eclipse intergaláctico, do zênite da brilhante escuridade, ao sol do meio-dia”.
Diante de tão abcega, absurda e abmuda cena indescritível e nada discreta, do outro lado do rádio, um velório é abruptamente interrompido por um fato inusitado, pois repentinamente o defunto senta-se no caixão e, esfregando os olhos, fala entremeado em bocejos:
“É por isso que morri sofismando que o nosso país está tão politicamente correto, quanto dez e dez não são vinte, mas com cinquenta onze!”
“Pernas, pra que te quero?”, gritou alguém que saiu correndo e todos o acompanharam. A sala ficou totalmente deserta.
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Qualquer semelhança com a vida real teria sido mera coincidência?
Se não faz sentido, muita coisa por aí também não.
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(*) Abcego, relativo à visão, denota algo duro de ser visto.
Absurdo, relativo à audição, designa originalmente algo duro de
ser ouvido.
Abmudo, relativo à fala, implica em algo inefável, difícil de ser
falado; o mesmo que indescritível.
10/07/2011 09:54 - Nasser Queiroga
Vixxi Bosco!Lembrei daquele poema antigo...
À meia noite, o sol despontava no horizonte. Um velho de 20 anos,
sentado numa pedra redonda de quatro quinas ,lendo um jornal
sem letras ao reflexo de uma luz apagada, no qual dizia: Os quatro
profetas da terra, foram três: Jacó e Jeremias!" que eu recitava
quando criança e nem entendia a vero-semelhanca com o dia a dia
da vida!
Grande abraco poeta e desculpas por alongar-me no comentário!
Nasser.