O PÁSSARO CATIVO
“Tchi-tchi-tchi-tchiu!” “Scap! Scap! Scap!”
Canta a garrincha*, do alto do meu abacateiro.
Um canto talvez como um alento
ou um acalanto à pobre burguesa*
“Pou-porou”, mais que um choro; responde num gemido
Que lamenta, tristemente sua sina
De viver num viveiro, triste gaiola.
Quando tem, do céu, a amplidão
Para voar, flutuar no ar sem limite,
Mas frustrada resta só se lamentar.
Parei para ver e ouvir o que conversavam.
“Nunca mais, tudo acabado!” suspirava a triste colomba.
“De que vale o céu azul, se não posso lá voar?”
“Gosto de eu mesma catar minha comida e voar feliz da vida!”
Já o alegre pássaro de fora diz:
“Eis aqui teu céu de anil!”
“Sai já daí e solta as tuas asas!”
“Aproveita a porta aberta e … escapa! Escapa! Escapa!
“Escapar até quisera eu, mas posso”?
“Uma asa depenada para voo não mais alçar”;
“E mesmo que eu pudesse, como então sobreviver”?
“Como catar alimento e prover meu sustento”
“Se até isto me roubaram, pois nem mesmo sei mais caçar”?
“Por que mesmo assim não tenta”?
“Não vale a pena existir sem em liberdade viver”.
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Burguesa:
No Sertão Brasileiro, um pássaro columbiforme, uma espécie de pomba que costumam criar em cativeiro, em grandes viveiros, de canto triste e melancólico.
Garrincha:
Correte (Pará), cambaxirra, garrincha, cutipuruí (Pará, Amazonas), rouxinol e garrincha (Maranhão), corruíra-de-casa, carriça, garriça, curuíra, coroíra e curreca (Santa Catarina), carruíra (Rio Grande do Sul) e rouxinol em Pernambuco.
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Vale a pena recordar.