Conto Nublar #024: TRISTE FIM DE UM MACHISTA COM FINAL FELIZ

Todo machista se gaba por ter uma mulher submissa, que nunca a deixou trabalhar, não só porque podia bancar todas as despesas doméstica e até transformá-la numa dondoca, se assim ela quisesse, mas porque, no seu pensar, mulher não tem que trabalhar. Tem que administrar bem o lar, cuidar bem do seu esposo e filhos. Manter em dia a economia doméstica.

Para isso alcançar, não mede esforços e cumpre bem o seu papel de supridor. De poucas palavras, traz tudo subjugado ao seu ar despótico. Não percebe ele que não obtém submissão por submissão, mas por puro medo e tremor. Não dado ao diálogo, costuma dar ordens que são imediatamente cumpridas, só para não experimentarem mais uma de suas histéricas explosões de fleumática neurastenia.

Passado o tempo, os filhos crescidos criaram asas e agora cada um voou para construir seu próprio ninho. Só restou um velho casal, velho rabugento que rouba vez em qual a paz de sua esposa que ele teima em chamá-la de dona encrenca.

Mas, que é daquele austero machista? Hoje, um solitário por opção, se comunica com dificuldade com sua mulher. Até que ele se esforça para ser gentil, mas, à força do hábito, mas transparece uma rudeza sem par. Agora aposentado, se sente um inútil, pois mesmo que quisesse, falta o jovial vigor para as labutas de outras eras. Não sabe o que fazer com tanto tempo. Quer jogar um carteado, mas a mulher sempre ressentida e mau humorada não quer saber de brincadeira. Está sempre a resmungar:

- “Não passe por aí! Não vê que está molhado? Acabei de passar o pano”.

- “Vai pra varanda que preciso arrumar a sala”!

- “Mije sentado! Estou farta de encontrar a droga dessa tampa salpicada de urina”!

- “Vá tomar banho! E vê se troca essa cueca! Troca a roupa! Não vista essa suada pra não ficar exalando essa inhaca de gambá'!.

Haja paciência! Aonde foi para a sua honra de machista? Agora não passa de um bobo mandado. “Tomara que nenhum de meus antigos amigos me vejam nessa situação vexatória!”, pensa apavorado o 'sol poente'. “Que coisa! Justo agora no ocaso de minha vida!”.

Aprendeu a dividir as tarefas domésticas. Agora ele, pelo menos, ele lava as louças, mas não enxuga. Enquanto ele faz isso, sua esposa vai enxugando as louças e vão alimentando um papinho que pode evoluir para um momento de ternura e intimidade. Mas esse desfecho é um pouco e raro e muito precioso.

Para manter a saúde em dia, foi-lhe imposta uma dieta que, a princípio lhe foi terrível adaptar-se a ela. Mas, aos poucos, foi-se acostumando, descobrindo o real sabor dos alimentos. Como é que pode? Estava ali o tempo todo, mas só agora é que pode descobrir como é o gosto de cada alimento que antes era mascarado pelos condimentos. E não se cansa de dar graças a Deus por, apesar de tardiamente, poder ter-se encontrado consigo mesmo, também se ajustado com sua amada e o seu Criador, reconhecendo o Verdadeiro Senhorio de sua vida.

Disso tudo a fera foi domada e aos poucos transformou-se num quase perfeito cavaleiro. Melhor assim. Pelo menos dá pra ser feliz de verdade. Tem-se respeito e não temor. Tem-se prazer em está ao lado da pessoa amada e fazê-la feliz de verdade.

Mas, número UM sentado, nem pensar!

Alelos Esmeraldinus
Enviado por Alelos Esmeraldinus em 01/05/2011
Reeditado em 10/04/2013
Código do texto: T2941872
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