Conto Nublar #021:O QUE ESTÁ ACONTECENDO COMIGO? Parte 4/4

CONTO CIBERNÉTICO

Epílogo

“... Não bastasse a minha crise de identidade e agora me vem o Nícolas com essa história de JP. Devo está pirando de vez! Será?”

Faço sinal para o Nícolas entrar. Recebo-o na varanda, e aponto para que ele se sente ao meu lado, em uma das cadeiras de espaguete vermelho.

“Pois, é, rapaz! Há quanto tempo”! Repetia a última frase dele, disfarçando, enquanto tentava descobri de onde o conhecia. A voz e o rosto eram-me muito familiares. Danou-se! Será que eu não o confundia com alguém parecido, talvez com algum ator e acho que ele me conhece? Mas certamente ele me conhece, só que teima em me chamar de JP.

“Nícolas! Por favor! Sinto-me meio estranho e estou numa crise de identidade como jamais experimentei antes. Você vem me chamando de JP, mas creio me chamar Demos Epimênides. Muitas coisas estranhas estão acontecendo aqui. Por favor, amigo! Pode me ajudar?”

“Claro, JP! É por isso mesmo que hoje vim aqui. Ouvi falar dessas suas esquisitices e resolvi vir tentar lhe ajudar.” Nícolas explica o motivo de sua visita. Pergunta ao amigo desde quando ele se sente assim estranho.

“Rapaz! A única coisa que me lembro é que ontem cheguei do trabalho bastante cansado. O que eu mais desejava era logo após o jantar, deitar-me e dormir. Fiz o que sempre faço: Tomei um bom banho, jantei, escovei os dentes, vesti meu pijama e fui logo dormir.” “Mas agora lembro-me de um curioso detalhe. Falei para a Moema, minha esposa, que estranhava a aparência do meu CPAP. Alguma coisa não encaixava bem.” Ao acordar hoje, muita coisa estranha aconteceu. Meu nome trocado, vejo tudo diferente, holograma por todos os lados. Quem me garante que você não é mais um holograma?” “Sei não! É como se eu estivesse doidão, entende?”

“Claro que lhe entendo, amigo! É por isso que aqui estou para trazer a solução. Vim trazer este cartão com a senha do CPAP que resolverá esse mal entendido. Esse CPAP não era para você. Era para uma penitenciária, para um serviço de lavagem cerebral de um preso de alta periculosidade. Ao acionar o aparelho, foi ativado um micro HAARP, que, enquanto você respirava, foi reprogramando a sua mente. Sabe como é. Não usamos nem 10% da capacidade cerebral. Então, Além de apagar as memórias do indivíduo, esse microchip transforma-o num mentalmente superdotado, pois milhares de softwares são instalados na parte que não usamos. Assim, para você agora, tudo é possível. Basta imaginar qualquer coisa que acontece, mesmo que só você consiga imaginar ou ver. Seu cérebro conseguiu criar uma interface GPS que pode interagir com os sistemas mais sofisticado da atualidade. É só querer e tudo será feito.

“Nada disso, Nícolas! O que eu mais quero é voltar a ser o JP de sempre. Nem que para isso eu tenho que usar menos que os normais 10% de minha capacidade. Sei lá! Isso ainda é experimental e nem se sabe ainda que efeitos colaterais isso pode trazer. Estou fora! 'Foríssimo'!” Então que solução veio-me trazer?

“Essa!" Falou, entregando-me um cartão com uma senha. E ao se despedir de mim, o JP apertou-me a mão, enquanto eu assistia estupefato, meu amigo se desintegrar em bilhões de 'bites' e 'bytes' luminosos.

Ai! Ai! Ai! Coisa mais pirante! Ainda bem que o cartão não se desintegrou juntamente com ele. Já eram 8 e meia da noite, justo na hora de dormir. Após os preliminares de costume, eu me sentei ao lado de cama, enquanto Moema ainda assistia na sala o capítulo de sua novela. Coloquei a máscara do CPAP, enquanto mentalizava o que tinha que fazer. Peguei o cartão deixado pelo Nícolas e tentei decifrá-lo. Tinha escrito o seguinte: “Senha para desprogramação. Atenção! “Este cartão se desintegrará após inserção correta da senha ou na terceira tentativa sem sucesso.”

Abri o meu Laptop e tentei inserir o código secreto: “0PT1dCCP9”. Tentei digitá-lo por duas vezes e nada de sucesso. Lembrei que, se errasse na terceira tentativa, o cartão se desintegraria e ficaria para o resto da minha vida avariado, refém daquele experimento do qual não pedi para participar. Daí, lembrei-me que eu poderia imaginar e desejar qualquer coisa que seria feito. Ao fazer isso, vi um holograma de um teclado numérico de computador e notei que o código era parecido com notação de jogo de xadrez, só que disposto de outra forma. Então vi que deveria começar no número “0” e terminar no “9”. Mentalmente, estudei as várias possibilidades e orei a Deus pedindo que me guiasse na seqüência certa. Daí, li o cartão assim: “Peão avança uma casa, Então digitei: [01]. Próximo passo: “Torre desloca uma casa à direita”. Então digitei [2]. Graças a Deus, até aqui tudo bem. Agora teria que dar dois saltos de Cavalo. Se saltasse para o [9] jamais chegaria ao [9] no final, mas ao [7]. Então digitei [76] e com mais um movimento de peão, findei no [9]. Imediatamente ouvi um bip festivo e o CPAP entrou em funcionamento e dormi feito um anjinho.

10 e meia da manhã, a Moema me acorda: “João Paulo! Veja o que acaba de chegar via SEDEX! O novo CPAP que comprei para você. Ele é do tipo inteligente, que detecta o ajuste da máscara e entra automaticamente em operação tão logo comece a respirar na máscara ajustada ao seu nariz. Não é o máximo?”

“Pelo amor de Deus, Moema! Veja se tem a marca [CPACm] em algum lugar. Se tiver não quero nem ver” E saí atordoado do quarto, enquanto a Moema, olha triste para o presente que com tanto carinho e sacrifício compara para mim, o seu amado. E sequer, nem agradeci.

Mas depois, com bastante calma, conversamos mais tarde e esclarecemos o mal entendido. Vi que tudo não passara de mais um pesadelo. Será mesmo?

Tocam a campainha. Vou atender e quem é que está ao portão? Não é o Nícolas, usando a mesma camiseta vermelha com a estampa do Che Guevara, boina grená, bermuda abaixo dos joelhos e sandália de E.V.A. de dedos, o qual me grita quando me vê na varanda: “JP, amigão! Há quanto tempo! Vim te trazer este cartão com a senha do...”

“Ai, meu Deus! De novo não!”, pensei com os meus botões. “Que cartão e senha do que, homem de Deus?” Resolvo perguntar afinal.

Da conta de acesso ao Recanto das Letras que você pediu para eu criar ontem. Lembra não? “Passei aqui só para ensinar como você acessa e tudo o mais que precisar.”

“Ufa! Ainda bem! Pensei que ia recomeçar tudo outra vez.”

F I M

Alelos Esmeraldinus
Enviado por Alelos Esmeraldinus em 01/12/2010
Reeditado em 18/01/2024
Código do texto: T2646649
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