Conto Nublar #020: AMIGOS DE VERDADE - Parte I
Eram amigos desde sua infância. Eram quais irmãos de sangue. Estudavam na mesma escola, jogavam no mesmo time de futsal.
Vez em quando, um dormia ou fazia refeições na casa um do outros. Seus pais eram bons amigos.
Passou-se o tempo, foram para a cidade grande para estudarem e tentarem a Universidade.
Já formados, João Stephan, em Administração de Empresas, o Pedro Rhodson, em Letras, retornaram para sua cidade natal.
A amizade era a mesma; nada poderia, diziam, abalá-la.
Coincidência ou não, namoraram duas irmãs, gêmeas idênticas - Marina e Marian. Decidiram se casar no mesmo dia, mês e ano. Foi uma inesquecível festa.
Dois meses depois as duas estavam fazendo pré-natal. Mariana desenvolve sua gravidez dentro da normalidade. No entanto, Marian teve uma série de complicações, com o risco de perder o bebê, ou mesmo para a própria futura mamãe.
Esse fato veio definitivamente prejudicar profissionalmente o Pedro, pois para dar toda a atenção que a Marian necessitava, não preparava como antes suas aulas. Aquilo que os alunos achavam muito palpitante em suas preleções, ia, passo a passo se tornando uma mera rotina, sem brilho e sem graça. De tanta reclamação e reincidências, o Pedro foi demitido por justa causa. Debalde foram os desesperados e patéticos apelos do Rhodson, os donos da escola foram implacáveis e fora sumariamente demitido.
Agora, no sétimo mês e já gastando, por conta, a última parcela o seguro desemprego, comprou a última cesta básica que deu, e os últimos medicamentos que o obstetra passara para a sua mulher.
A estas alturas, Pedro já havia esgotado todas as chances de conseguir um novo emprego. Seu crédito acabara, pois pedira muito emprestado para suprir as necessidades do tratamento de sua esposa. Os agiotas sugaram todos os seus bens para não saírem perdendo. E ainda recebia ameaças.
Quando tudo parecia perdido, lembrou-se do João Stephan, que agora é um bem sucedido empresário. Foi até ele e contou-lhe a situação por qual estava passando.
Pedro ficou chateado porque só agora estava sabendo. Imediatamente, preencheu um cheque alto e disse que depois acertaria com ele. Que não se preocupasse.
Feliz da vida, o Pedro trocou o cheque, fez uma feira bem farta e colocou algumas continhas em dia. Comprou também os medicamentos da Marian.
Passaram-se dois anos, sua filha bem de saúde, sua esposa idem, mas passando por aquele período de maltratos pela necessidade e sem ter como superá-los, o Pedro entrou em estafa profunda, e em depressão, foi se entregando e perdendo a noção das coisas. Para complicar tudo, amigos do copo ofereceu uma dose de bebida alcoólica. Bateu a sede com a vontade de beber. Depois do terceiro gole ficou de pileque. Resultado, viciou-se e não conseguia mais se controlar. Quando mais bebia, mas vontade tinha.
O João, mandou chamá-lo e disse-lhe: "Muito bem, Pedro. Já que sua esposa está bem e o seu filho também, todos fora de perigo, é hora de acertarmos nossas contas". Puxou uma planilha e entregou-lhe. Pedro olhou para aquelas cifras e ficou pálido: "Mas o que é isso, João, R$ 13.857,38? Não estou entendendo.
João retruca: "É exatamente o equivalente ao que te emprestei. E olhe que não estou cobrando juros. É apenas o principal de sua dívida". Você foi só pedindo, pedindo, mas agora chega! A fonte secou!"
Pedro acabrunhado, cheirando a bebida, apela para a bondade, familiaridade e amizade do antigo colega: "Mas João? Eu estou desempregado! Como vou pagar esse absurdo"? Mas o outro foi muito insensível e implacável: "É o seguinte, Pedro. Amigos, amigos; família, família; negócios à parte. Não vamos confundir as coisas. Eu preciso deste dinheiro com certa urgência. Se vire! E é bom que você me pague em 15 dias, pois preciso fechar um bom negócio, um ótimo investimento".
(Continua no próximo episódio)