Conto Nublar #007: DPTO - Conto Surreal

Ele era um jovem preletor de multidões. Eloquente, prendia a atenção de todos. Quanta profundidade! Não havia segredos que ele não decifrasse; era versado numa infinidade de assuntos, deste o amplo universo até a subdivisão de um indivisível átimo. Suas conferências eram concorridíssimas. Convites esgotados com bastante antecedência.

Todos estavam curiosos para descobrir o segredo daquele versátil e eclético catalizador de multidões. Ninguém poderia imaginar porque um homem, até pouco tempo, desconhecido e, de um dado momento para o outro (bum!), desponta como a celebridade das celebridades. Mas não há foguete que não despenque após súbita ascensão. Aquele era o dia “A” (“a” de azar) do HMMA (homem multimídia ambulante) que o deixou extremamente arrasado. Seus óculos especias teve a perna esquerda avariada, mas aquela assumidade em pessoa, nem de longe, desconfiava a peça que o destino lhe preparava para aquela que foi sua última palestra. Mas justamente a perna esquerda! Era azar demais.

Auditório totalmente lotado. De repente, faz-se um reverente e profundo silêncio. Entra no recinto o esperado conferencista. Dá sinal com a mão direita, para que sentem. Enquanto saúda os participantes daquele simpósio com as palavras de praxe, com a mão esquerda enfiada no bolso da calça, aciona o botão do controle remoto para discretamente ligar seu DTPO (Dispositivo de 'TelePrompt' Ocular), mas nada acontece. O preletor se desfigura, treme, sua frio enquanto insiste em pressionar o botão de liga. Mas nada acontece. Retira do bolso esquerdo do paletó a estação remota de monitoração do DTPO, um dispositivo semelhante a um MP4, examina-o e vê que tudo está em ordem, inclusive o sinal de transmissão e checagem de funcionamento do DTPO etá em perfeito funcionamento.

Desesperado, numa última esperança, retira os óculos da cara e é aí que quase teve um infarto ao perceber que a lente servo monitora da esquerda estava com uma discreta rachadura e o LCD das lentes havia vazado mais da metade. Por isso não fora ionizada e nada pode ser feito. Não havia óculos DTPO becape e, por esse motivo, o nada grande pregador, mas um verdadeiro embusteiro foi desmascarado publicamente, vítima de sua própria astúcia. Sem o DTPO, 'teleprompt', inoperante, o canastrão não tinha como dublar o seu papel.

Cabisbaixo, rabo entre as pernas, e debaixo de uma tremenda vaia, saiu daquele ambiente. Além de devolver o dinheiro de todos os convites, teve o prejuízo da alocação do auditório, teve que responder ao BO e pagar fiança na delegacia do bairro e aprendeu a terrível lição de que, a mentira tem perna curta e a verdade sempre aparece, no momento em que menos se espera.

A humildade é a ferramenta principal que naturalmente exalta o indivíduo.

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Átimo = a menor fração, indivisível do tempo.

Guizalhas = dobradiças.

BO = Boletim de Ocorrência Policial.

Teleprompt = Dispositivo eletrônico de vídeo onde é listado o texto que os jornalistas e âncoras de telejornais falam, dando a impressão que falam de improviso, mas na verdade, são apenas bons leitores, quando o são.

DPTO – “Dispositivo de 'TelePrompt' Óptico” fictício, Criado especialmente para este conto de ficção. Cada lente, na verdade, seria um micro monitor de LCD onde o palestrante leria o seu 'prompt'.

LCD - 'Liquid Chrystal Device' = dispositivo de cristal líquido.

MP4 - 'MediaPlayer' – versão 4

Alelos Esmeraldinus
Enviado por Alelos Esmeraldinus em 23/09/2010
Reeditado em 10/04/2013
Código do texto: T2515048
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