Elótico

Elótico

- Glosa, glosa! – exclamava ela, autoritária.

Ele, que parecia absorto, respondeu:

- Glosa deliva do glego, “telmo obsculo”.

- Não tem jeito...- suspira ela impaciente, colocando os óculos – Humpf. Glosador.

- Espele – pede ele, colocando a prótese – hermeneuta.

- Glossa!! – rugiu ela.

Ele então, tirando a prótese, e como que se desculpando, pois a mesma lhe atrapalha a leitura, afirma:

- Glossa também deliva do glego, “plojeção linguifolme mediana dos lábios dos insetos”.

- Ah não, com a prótese, faz favor. Achou glossado?

- Lepidóptero – afirma ele.

- Então, só falta, glossantraz.

- Ok – fez ele com a cabeça, tornando a colocar a prótese – “Carbúnculo dos cavalos”. Terminamos o glossário, vocabulário em que se explicam palavras de significação obscura, e fiz-lhe um poema.

Ela arqueia as sobrancelhas.

- “Ó donzela, comentar, anotar, censurar, suprimir ou anotar, nunca nunca, vão impedir minha forma de te amar”

- E que forma é essa? – indagou ela – hã, hã, sem a prótese. Agora diga.

- Elótica – disse ele.

Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 08/01/2009
Reeditado em 17/01/2014
Código do texto: T1374454
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