Entrevista CLAUDEMIR SANTOS (Teatro & Literatura) - SP

CLAUDEMIR SANTOS(claudemirdarkneysantos@ig.com.br), também conhecido como, ou apelidado, ou vulgo Darkney, nasceu em São Miguel, SP, em 1975 e está beirando a idade de Cristo quando morreu. Em 16 de junho ele chega lá. Dirigiu vários espetáculos de autoria própria e adaptações de Shakespeare, Álvares de Azevedo, Edgar Allan Poe, Machado de Assis, Victor Hugo, Robert Louis Stevenson e Anthony Burgess. Atualmente dirige o grupo que fundou, Alucinógeno Dramático Teatro Experimental que estréia dois espetáculos em junho: "Natália Gay and The Homofobics Band!" e "Maquiavel, Da Vinci e o Príncipe", ambas de sua autoria. Também é arte-educador e integrante do projeto Deus Ex Machina, onde compõe e canta suas canções juntamente com Tarcísio Hayashi e músicos convidados. Aqui solta o verbo(e os cachorros) para ESCOBAR FRANELAS, nesta exclusiva para este Recanto:

EF – Quem é Claudemir Santos?

CS – Segundo dizem, um cara que escreve, canta, interpreta e dirige peças teatrais de um jeito muito particular. Dele, mesmo, eu sei muito pouco. Mas ouso dizer que ele é um garoto que ainda acredita em filmes.

EF – Como foi o início de tudo?

CS – Desde que me entendo por gente tenho o desejo de criar artisticamente. Cantava na escola e ganhei até um concurso cultural, cantando uma canção antiga do Roberto Carlos e desbancando os meninos bonitinhos que dublaram o RPM – sucesso na época com seu RPM Ao Vivo. Quando consegui comprar um violão, fui procurar um curso gratuito, mas não havia vagas; me enfiaram num curso de teatro. Isto foi em 1990. De lá pra cá, fui me envolvendo mais e mais com a música, o teatro e a literatura. Quando percebi, já era uma referência artística no meio em que vivo. E aqui estou: dirigindo, atuando, escrevendo e cantando em lugares alternativos.

EF – Todo trabalho no qual você se envolve ganha traços muito nítidos de suas influências, como a filosofia grega através do dialogismo existencial, a tradição clássica dos pensadores medievais através das longas reflexões que vão até o romantismo do séc. 19, e o expressionismo alemão, através de enunciados líricos carregados nos contrastes. Isso é perceptível quando da composição de seus trabalhos ou apenas consequência natural de uma "antropofagia cultural"?

CS – Minha mente, de fato, é um caldeirão cultural muito caótico – no melhor sentido do termo. Por ler e ver tudo e todos que me atraem, não sei ao certo definir influências exatas em meu trabalho. Ouso dizer que li muitas tragédias gregas, autores da segunda fase do romantismo, principalmente Álvares de Azevedo e Edgar Allan Poe; e sou extremamente apaixonado por expressionismo, além de todas as vertentes do rock. Esta arte diz muito no meu trabalho e na minha vida.

EF – Como está o teatro em geral hoje?

CS – Meu amigo, vou muito pouco ao teatro. Uma porque amo mais o cinema que o teatro(me desculpem aqueles que acham que o teatro está acima de tudo: acima de tudo, só a abóboda celestial no sentido científico). Hoje as peças são muito industriais e a percepção artística é quase nula. Atualmente gosto dos trabalhos da Sutil Cia., do Teatro da Vertigem e de alguns grupos menores, como a Cia. São Jorge das Variedades. O resto, Shakespeare diria que é silêncio. Muita porra-louquice e pouca arte.

EF – Das longas conversas que já tivemos, você sempre falou de Shakespeare, Edgar Allan Poe, Machado de Assis e o pessoal do MPA(Movimento Popular de Arte, em São Miguel Paulista), como Raberuan, Edvaldo Santana, Luis Casé, Ceciro Cordeiro, Cláudio Gomes, Zulu de Arrebatá e Sacha Arcanjo com a mesma paixão e eloquência. Como foi extrair o sumo de todo esse pessoal e dosar "homeopaticamente" no desenvolvimento de sua arte?

CS – Sobre os imortais, devo dizer que as visões causadas em minha alma causaram grandes transformações no meu universo artístico e pessoal tal qual uma dose de ácido lisérgico: alucinei sem perder a razão. Do MPA, devo confessar que as visões de Arcanjo, Raberuan e Edvaldo Santana muito alegram minha alma, os demais nunca me causam faísca alguma.

EF – Como nasceu o seu grupo de teatro, o Alucinógeno Dramático?

CS – Fundei o AD em 1994 porque já havia passado por três grupos teatrais e sentia grandes dificuldades e diferenças em me adaptar. Ou eles eram o problema ou era eu. De qualquer forma, decidi criar meu próprio grupo. Os outros grupos não mais existem – e a maioria dos componentes nem estão mais na arte. O AD continua seu caminho. E não creio que vá parar tão cedo.

EF – Eu nunca vi um trabalho seu que não tivesse a colaboração ou participação do Ivan Neris. Como surgiu essa parceria e como ela se desenvolve hoje?

CS – Conheci Neris em um curso sobre história do Teatro e achei sua alma fascinante. Não deu outra: convidei-o para o AD. Durante anos nossa parceria colocou o grupo no mapa cultural da cidade com espetáculos fascinantes escritos e dirigidos por mim e interpretados por Ivan Neris. Nosso último trabalho juntos no grupo foi "Elecktra: O Elogio À Vingança". Depois, por questões artísticas e existenciais, cessamos os trabalhos no grupo. Realizamos ainda o Arte Canal(Nota da entrevista: mix de sarau com mostra de dança e teatro da qual tive a oportunidade de participar), até meados de 2006. Hoje Neris vive em seu mundo muito particular com seu amor e seu animais. Nos vemos raramente, mas o carinho, a amizade e a história por vezes nos aproximam novamente.

EF - Quais os filmes e cineastas que mais o agradam?

CS - Bom, ultimamente tenho visto muito Giuseppe Tornattore, a turminha do Tarantino, Eli Roth e Robert Rodrigues; e os filmes de ação franceses. No mais, Murnau, Glauber Rocha, Kieslowski, Tim Burton e Beto Brant sempre fazem parte do prato do dia.

EF – Quais são seus planos para o futuro próximo?

CS – Estou cursando Artes Visuais e pretendo estudar cinema em seguida. Além do trabalho teatral e da música – que está ganhando força com meu novo parceiro artístico, Tarcísio Hayashi - a amizade mais inesperada de minha existência – também estou muito interessado no universo da Arte-Educação. De novo no AD, temos dois espetáculos que estreiam em junho: "Natália Gay and The Homofobics Band" e "Maquiavel, Da Vinci e o Príncipe", que estarão em cartaz no CUCA (Centro Universitário de Cultura e Arte), na Vila Mariana. Fora isto, quero ficar visitando os amigos ou me isolar em minha casa com os cachorros e o gato e, evidentemente, uma bela princesa medieval ao meu lado. Mas esta é uma questão pessoal que ainda está se desenvolvendo, meu amigo. Neste caso, é melhor parar por aqui. Até a próxima cena!