MÃE, SEMPRE MÃE

ENTREVISTA POR DIANA L. ALANCHEZ

Como combinado segue a entrevista para ilustrar o mês das mães.

Vamos falar de Júlia, jovem senhora com um filho em idade adolescente, Marco Antônio, único filho, que por influências negativas, acabou envolvendo-se com álcool e posteriormente com drogas.

Diana Alanchez: Dona Júlia, quando e como a senhora descobriu ser seu filho, seu único filho, um garoto drogado?

_ Bem, minha reação imediata foi a de não acreditar no que me diziam, achei sempre que ele era um ótimo menino, sempre atencioso, amoroso com todos, um exemplo de conduta. Então, quando me contaram eu não queria acreditar, podia ser um engano, tinha que ser um engano, não o meu Marquinho.

Diana Alanchez: Quanto a senhora soube, qual foi sua atitude ao comprovar a veracidade de ser seu filho um usuário de drogas, e pior, um traficante também?

_ Fui até a delegacia onde ele havia sido preso, pego em flagrante, passando as drogas para outros usuários. Fui até lá e o fitei diretamente nos olhos e lhe disse:- Não filho querido, não me diga que isso é verdade, por favor, diga que isso é uma calúnia, que estão mentindo. Ele desviou o olhar e disse bem baixinho: Desculpa mãe, sei que estou fazendo a senhora sofrer muito com tudo isso, não mereço ser seu filho, a senhora sempre me passou bons valores e eu por ser burro não aceitei, e agora estou aqui, mereço estar aqui. Sim mãe, eu sou um drogado, um viciado, reza por mim mãe.

Nisso, os policiais o levaram para a cela.

Diana Alanchez: E depois, quanto tempo ele ficou preso? O que fez ao sair da prisão?

_Incrivelmente ele saiu depois de um mês apenas de cadeia. Eu me surpreendi, porque me disseram que ele pegaria no mínimo cinco anos de detenção. Quando ele saiu, ficou em casa por uma semana, foi na igreja comigo algumas vezes por insistência minha, e depois se fechou completamente em sua vida, não me dirigindo mais a palavra. Como ele não saía de casa para quase nada, não me preocupei tanto a princípio, pensei ser uma fase de abstinência que todos sempre falavam, e que ia passar logo. Mas, ele tinha um celular e de lá recebia ligações e também as fazia. Eu não sabia com quem ele falava tanto, mas comecei a desconfiar e resolvi escutar atrás das portas.

Diana Alanchez: O que a senhora descobriu então?

_ Fiquei sabendo que quem o tirou da prisão cobrava bem caro, em moedas altas, o preço de sua liberdade.

Meu filho tinha que recuperar o tempo perdido e a droga apreendida pelos policiais.

Eles davam-lhes instruções e ele disse-me certa noite, em sua primeira saída noturna, sem que fosse para irmos a igreja, que eu não me preocupasse porque não tinha hora para voltar. Ainda o repreendi, mas quem pode com adolescentes, é praticamente impossível prendê-los em casa. E lá se foi meu Marquinho.

Dona Júlia chora e pede-me um tempo para se refazer. Dei-lhe um copo de água e um abraço, dizendo-lhe que se desejasse, deixaríamos o restante da entrevista para outro dia, mas ela disse ser capaz de continuar, precisava apenas de um tempinho. Seca as lágrimas que lhe escorrem pela face totalmente envelhecida, não pela idade cronológica, mas pela idade sofrida. Um envelhecimento precoce galopante roubou-lhe a juventude. Seu esposo a deixara quando soube da prisão do filho e nunca mais deu notícias. Acabou perdendo o emprego de tanto que saia para visitar o filho na prisão, visitas a centros de ajuda aos familiares de drogados, a entidades de assistência espirituais. Tudo em tentativas de ajudar seu filho de alguma forma.

Podemos retomar, diz ela de cabeça erguida, tirando forças Deus sabe de onde. Ela sabia…

_Bem, naquela noite ele não voltou, nem nas demais…

Ela tenta controlar o choro, mas lágrimas descem teimosas pela sua face.

-Me ligaram do hospital central, perguntando se Marco Antônio Filipino era meu filho, eu disse que sim e já imaginei o pior, pois coração de mãe não se engana. Eu não consegui dormir depois que ele saiu naquela fatídica noite. Eu só rezava e pedia que Maria Santíssima o protegesse, o encaminhasse e hoje sei que meus pedidos foram atendidos, pois foi feito o melhor para meu amado filho. Para o coração de uma mãe é difícil dizer isso, aceitar isso, mas estou tentando.

Meu filho foi morto pelos próprios companheiros, por causa de acertos de contas das drogas. Ao que parece, ele não tinha conseguido levantar todo o dinheiro e pagou com a própria vida por alguns gramas de cocaína…

Hoje estou só, minha religião e meus poucos familiares e amigos que ficaram me ajudam a suportar essa dor imensa. A maioria dos meus familiares e amigos me deixaram, por julgar-me mãe incompetente, incapacitada para cuidar de meu único e amado filho. Eu as perdôo, porque ninguém pode sequer imaginar como é ser mãe de um adolescente drogado, ninguém pode imaginar, só mesmo quem está na mesma situação, e olha que são muitas mãezinhas como eu, infelizmente.

Diana Alanchez: Que recado a senhora deixa para as pessoas que tem um jovem drogado em casa? Ou melhor, aproveitando o mês das mães, deixe um recado especial às mãezinhas. Diga se é possível prevenir, remediar, enfim.

_ Ainda me sinto uma mãe, apesar de meu filho não mais estar aqui comigo me abraçando, ele era tão carinhoso comigo antes de se envolver com as drogas. Sou também mãe de outros jovens drogados que cuido em um centro de recuperação onde sou voluntária. Esse trabalho me ajuda a me recuperar, me dá alívio e conforto, sabendo que valeu a pena tanto sofrimento, quando conseguimos trazer de volta alguns destes jovens. Faz agora um ano exatamente que meu Marquinho se foi.

Peço às mães que em vez de se desesperarem, que procurem ajuda, primeiramente para elas mesmo, para saberem lidar melhor com a situação. Peço que procurem sim, ajuda de uma religião, seja ela qual for, mas é imprescindível estar ligada com Deus, nosso Pai.

Quanto a uma maneira de prevenção, desculpem, mas eu não sei dizer. Quando percebi, meu filho não era mais meu e sim das drogas, dos traficantes. Mas dizem lá no centro de recuperação, que ao percebermos nossos filhos muito diferentes, isolados da casa, dos antigos amigos, do que eles gostavam , e se eles escondem tudo, trancam as portas, enfim, dizem que isso é um sinal de que estão envolvidos em algo ruim. Tenhar uma conversa franca, o diálogo sempre é super importante. Tente várias vezes, não desista de tentar o diálogo com amor, sempre.

Diana Alanchez: Obrigada Dona Júlia, a senhora está de parabéns pelo seu trabalho ajudando outras pessoas.

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DIANA LIMA, JORNALISTA, ESCRITORA, AGENTE LITERÁRIO.

REVISÃO, TRADUÇÃO E DIVULGAÇÃO LITERÁRIA.

CONTATO: diana.doml@gmail.com,diana1110@hotmail.com,

Diana Lima
Enviado por Diana Lima em 06/05/2008
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