MEDICAMENTOS GENÉRICOS E MANIPULADOS - Pergunte ao Doutor Inicial

ENTREVISTA: Dr. Márcio Funghi de Salles Barbosa

Medicamentos Genéricos e Manipulados

Psiquiatra comprova existir abuso de preços na venda de medicamentos genéricos em algumas farmácias e pede o cumprimento da lei, com rotulação de preços em todos os medicamentos. Discute ainda outra via: a dos medicamentos manipulados por farmácias sérias.

Pergunta: Como vê a implantação dos medicamentos genéricos no Brasil?

Dr. Márcio: Achamos a idéia sensacional e a prova disto, é que diversos países estão seguindo esta tendência.

Pergunta: Crê que a entrada dos genéricos irá paralisar ou estimular a pesquisa farmacêutica?

Dr. Márcio: Deve estimular, a partir da premissa que quem estiver à frente, mesmo com medicamentos mais baratos, poderá ganhar muito dinheiro. Já temos visto Laboratórios inteligentes descobrirem tratamentos fantásticos e disponibiliza-los a preço acessível. Vimos também o contrário: laboratórios investindo maciçamente em publicidade, fazendo um enorme furor, que acaba em vapor, depois de um tempo.

É o caso de certos produtos antidepressivos, criadores de felicidade, que numa pesquisa diuturna, mostra não serem o que apregoam e pelo contrário, embutem riscos graves, no seu uso, quando usados em dosagens terapêuticas. Laboratórios desta qualidade, agem de forma sorrateira, entram pela porta dos fundos da medicina: propagam-se em revistas leigas, buscam médicos desinformados, para depois, quando já estão vendendo o equivalente a "discos de diamante" da indústria fonográfica, procuram os especialistas, para divulgá-los.

A técnica é fácil de ser compreendida: estes produtos não passariam no crivo dos médicos sérios e seriam natimortos.

Mas a medicina, apesar de não ser matemática, é lógica e baseada em eventos tratados estatisticamente.

Pergunta: O que vem a ser a meta-análise em ciência, principalmente em medicina?

Dr. Márcio: A pergunta vem a calhar, pois está se criando um engodo, que está se tornando comum.

Há algum tempo, criaram um método sensacional de avaliação, a meta-análise. Depois de um tempo de experiência, muitos trabalhos avaliando algum produto, deveriam ser englobados em uma análise somatória dos resultados de pesquisas, onde um raio-x fiel seria feito e criaria pódio ou derrota para este produto.

Contudo, alguns laboratórios farmacêuticos, baseando-se em seus diretores de vendas, descompromissados com a verdade, mas com os lucros, encomendam meta-análises dirigidas a falar bem de um produto, a menosprezar outros concorrentes já consagrados. Os médicos são inundados por literatura desta espécie e por isto, precisam estudar muito, ver outras opiniões.

Pergunta: E as pesquisas médicas, estão acompanhando a eficácia dos novos lançamentos, inclusive dos genéricos?

Dr. Márcio: São poucos os laboratórios de genéricos, que nos enviam suas pesquisas. A maioria são laboratórios que lutam com baixos preços, sobrando pouco para divulgar aos médicos. Trabalham mais com o farmacêutico.

Ressalto ainda, que laboratórios estão contratando médicos, a quem não respeitamos, que se propõem a fazer trabalhos tentando destruir produtos consagrados. Chegam a mostrar como rotineiras, certas reações colaterais, que dependem de doses elevadas ou de raras sensibilidades individuais. A situação fica difícil. Inclusive obrigando as bulas a virarem escritos de terror, em cumprimento à Lei de Defesa do Consumidor, que defendemos com orgulho.

Pergunta: Que comentários acha importante fazer sobre os genéricos?

Dr. Márcio: Com relação aos genéricos é preciso que o governo não descuide da fiscalização, principalmente de medicamentos com preço milagroso, onde o médico cuidadoso, sabe, não ser possível a venda por aquele o preço. Como diz o ditado: "É muita manteiga, para um pão barato!"

Ocorre também, com frequência, a empurroterapia, onde os maus vendedores de farmácia empurram o que der mais lucro.Muitas vezes, o preço cobrado é apenas uma diferença pequena, em relação ao remédio de marca, quando a diferença em qualidade é grande. Aconselhamos às pessoas consultarem as listas de preço e pedimos o cumprimento da lei, rotulando todos os produtos.

Outro fato comum é o aparecimento de laboratórios, já existentes na clandestinidade, produtores inclusive de injeções para gripe à base de essência de eucalipto, produtoras de graves reações, hoje felizmente proibidas. Faziam também, remédios para fígado, os quais nada mais eram que suco de abacaxi disfarçado, ajudando a digestão, pois os remédios para fígado, são em sua imensa maioria, digestivos: a causa de desconforto da maioria das pessoas é que comem aquilo não devem.

Além disto, as cotações de compra pelo SUS são feitas com base em concorrências, o que enseja a compra de produtos baratos, mas nem sempre com a eficácia clínica. isto comprovado em nossas clínicas.

Esta afirmativa é científica, não tem nada de políticagem, ou de perseguição a laboratórios.

Nossos pacientes, sempre que existe um impasse chamado preço, são induzidos a buscar as farmácias de manipulação, onde, sabendo receitar, controlando a qualidade de quem manipula, o médico é frequentemente bem recompensado, pois o cliente economiza, a qualidade é boa e a remissão da doença é muito gratificante.

Temos usado com muita frequencia as manipulações, com resultados muito bons e o que é mais importante, com dosagens que por vezes não existem nos medicamentos fabricados, necessárias ao tratamento individual.

Em nossos artigos, costumeiramente, estamos chamando a atenção da ANVISA, para este aspecto e cobrando uma resposta sábia, à proibição de manipularmos certos produtos, que cremos deveriam estar liberados pela Vigilância. Nossa prática médica atesta isto. Aliás, as respostas dos Órgãos responsáveis, estão demorando a vir e nossos clientes estão entrando em angústia, sem saber se terão medicação à altura de seus males, com preços inalcançáveis, até pelos genéricos.

Alguns sais que as manipuladoras disponibilizam, nem existem como genéricos.

Vamos aguardar a boa explicação e urgente, desses Órgãos.

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Dr. Márcio Funghi de Salles Barbosa