ENTREVISTA COM GENAURA TORMIN SOBRE VIRTUALISMO
Feita por CLÉSIO BOEIRA
Pergunto: quem é Genaura Tormin?
Ela responde de modo genial. Então publico a íntegra da auto-apresentação: “Genaura Tormin é uma pessoa diferente, não só no visual, mas na sensibilidade que lhe comanda a vida. É uma escritora, autora dos livros Pássaro Sem Asas e Apenas Uma Flor. Ela é colega de voces nesse Espaço Virtual! Embora não marque o chão com os passos, anda com a mente, com o coração. Caminha em ideais, em trabalho, em afetividade, deixando sempre o sorriso estampar-lhe o rosto. Faz da vida um varal de poesias, onde os versos esgueiram-se ousados para colorir momentos e falar de amor. Pernas não são problemas para ela. Mesmo deambulando numa cadeira de rodas, exerceu, com galhardia, o cargo de Delegado de Polícia de Goiás até assumir o de Analista Judiciário no TRT-GO, em Goiânia, onde exerce suas atividades. Essa, SOU EU!!".
1. O poeta nasce sensível feito poesia. Durante anos, como compatibilizou a doçura da letra poética com a letra fria da lei?
Genaura – Sou egressa de um colégio de freiras, onde morei de 9 a 18 anos de idade, quando ingressei na Polícia Civil de Goiás, como escrituraria. A Polícia entrou na minha vida como meio, como ponte, para que eu pudesse escalar novos horizontes. Jamais pensei que se tornasse fim um dia. As contingências da vida indicaram o caminho. Tornei-me uma Delegada de Polícia. É uma missão espinhosa, mas farto campo para o plantio de uma boa ação. Quanto mais difícil a tarefa, maior satisfação do dever cumprido. Ser delegado é também fazer sacerdócio. É amar o ser humano no sentido total da palavra. É saber admoestá-lo na hora certa ou acalentá-lo nos momentos mais difíceis.
Certa vez dei uma entrevista na televisão e terminei poetando a minha condição física, pois o cinegrafista não focalizava a minha cadeira rodas, como se me quisesse prestar um gesto de carinho. Em versos, tentei explicar. No dia seguinte os dois jornais da capital estavam à porta da Delegacia em que trabalha. Eis a manchete: “De delegada à poetisa”. Confiram!
Quero dizer a vocês,
Que a mente não está nos pés,
E aqui, na minha cadeira,
Trabalho por mais de dez.
Quem me conhece, já sabe
Da minha capacidade,
Não me curvo por besteira
E luto com hombridade.
Mato a cobra e mostro pau.
Medo, não tenho não.
Já mandei prender bandidos,
De estuprador a ladrão.
Lembro-me do grande Franklin,
Dos Estados Unidos, presidente,
Em tempos reacionários,
Exemplo pra muita gente.
Por isso estou aqui,
Em condição inusitada,
Pois sei que neste Planeta,
Não tem uma delegada
Numa cadeira de rodas,
Que seja capacitada,
Faça inquéritos e flagrantes
Numa Especializada.
Mente sã é corpo são,
Por isso não tenho nada,
Sinto-me com pernas fortes,
Numa cadeira sentada.
Na rua dirijo carro,
Faço compras e viajo,
Trabalho, leciono e nado.
É só questão de estágio.
Para os que não me conhecem,
É essa a informação,
Moradores da cidade
E outros que aqui estão.
A criminalidade sempre me assustou. Mesmo tendo trabalhado na Polícia durante 30 anos, presenciando e atuando em inquéritos de crimes estarrecedores nas mais variadas delegacias, permaneço com a sensibilidade ainda mais aguçada. Sou uma manteiga derretida. Gostaria de ser uma fada-madrinha para fazer justiça social, principalmente às crianças que povoarão o futuro do País. Afinal que País queremos?
2. Não poucos inquéritos foram redigidos em versos. Verdade?
Genaura - É. Às vezes, para quebrar a aspereza do caráter do trabalho e dar evasão ao instinto poético, fazia o relatório do inquérito policial em versos, porém, com todos os pressupostos inerentes para não se tornar uma peça inválida.
3. Como reagiam os juízes?
Genaura – Um deles ligou para me cumprimentar pela façanha, acrescentando que os versos haviam levado alento a uma tarde conturbada de muitas audiências difíceis. A Polícia Judiciária tem caráter repressivo, atuando depois do crime cometido, apurando as infrações penais e sua autoria, impedindo que o fato criminoso fuja às malhas da Justiça.
4. A rede mundial de computadores não é o céu, mas abriu espaços aos escritores emergentes. O que falta para que sejam bem aproveitados?
Genaura – Com o progresso, aproximaram-se as distâncias, mas distanciaram-se as proximidades. Às vezes é no meio da multidão que nos sentimos mais sozinhos. A Internet veio suprir virtualmente esse vazio, possibilitando a amostragem de muitos talentos, de muitos intelectuais emergentes, a transmissão de bons aprendizados, a feitura de muitas amizades boas... Acredito que direcionada para bem, a Internet pode ser um veículo promissor na construção da paz e da disseminação do amor. Para um resultado global benfazejo, necessário se faz uma conscientização maior capaz de melhorar o mundo. Além disso, é necessário uma fiscalização, o que lentamente vem acontecendo, incluindo legislação punitiva dos crimes praticados pela Internet. Primeiro o fato social, depois as normas. Se todos os sites tivessem a conduta ilibada, com certeza, o mundo daria um salto rumo ao bem. Impor limites significa amar. O importante é construir sempre.
5. E que forma de reconhecimento o escritor do espaço virtual deve esperar? Quais são algumas compensações aprazíveis?
Genaura – O reconhecimento é imediato, uma vez que somos lidos em prazo recorde por pessoas de todos os quadrantes do Brasil e até do mundo, o que nos devolve grande satisfação. O escritor tem necessidade de botar para fora o que lhe vai na alma. Pode construir ou destruir. Isso é uma grande responsabilidade. Saint Exupéry dizia: “Tu te tornas eternamente responsável por tudo aquilo que cativas”. Eu acredito nisso. Especificamente, nos sites que postamos os nossos escritos, constituímos uma grande família, uma confraria, onde todos se harmonizam levados pela poesia, pelo amor em seu sentido mais lato. As compensações são as mais prazerosas possíveis, pois estamos a erigir caminhos, a falar de amor e, embora, sem ver rostos, fazer parte, como elos da mesma corrente, de uma plêiade de amigos/poetas extraordinários. Sou feliz por estar entre essas pessoas.
6. Mas há dissabores também...
Genaura – Não me considero uma internauta, uma vez que ancoro o meu barco apenas em dois sites: Planetaliteratura e Recantodasletras. Entretanto sei que a Internet é usada também para os expedientes escusos que molestam a essência do ser humano, principalmente disseminando o uso de drogas e os desvios sexuais, aproveitando-se dos internautas incautos, cujo alvo certeiro são as nossas crianças, os nossos jovens... É lastimável!
7. Que perfil traça do internauta politicamente correto?
Genaura – A retidão, talvez venha do berço. O bem sempre é recompensado pelo próprio bem. Isso é uma verdade. O nosso maior juiz é a própria consciência. É muito bom ser correto com tudo e com todos e, principalmente com nós mesmos. Significa liberdade. O internauta politicamente correto é um pregoeiro do bem, pois o exemplo contamina. Virtualmente somos identificados pela alma, pelo coração, pelos bons escritos que permanecem para sempre, registrando a memória.
8. Para finalizar, uma mensagem aos escritores virtuais.
Genaura - Agradeço pela entrevista. Viver é maravilhoso! A vida é um dom. Devemos aproveitá-la. E se pudermos, através virtualismo, alcançar um próximo um pouquinho mais longe, seremos multiplicadores, espalhando o amor, a paz, a união. A auto-estima é o carro chefe. Todos os dias devemos nos levantar para vencer. Somos produto da mente. Os pensamentos são os gestores de nossas ações boas ou más. Ser entusiasta é importante. Sorrir sempre! O sorriso é o exercício da afetividade: abre caminhos, cria laços, enfeita a alma e o coração. O sorriso traduz paz, ternura, perdão... Sonhar é preciso, pois Charles Chaplin costumava dizer: “Quando deixares de sonhar, poderás continuar vivendo, mas, com certeza, terás deixado de existir”. Somos sempre instrumentos a serviço da vida, portanto herdeiros dos nossos atos e senhores de nossas colheitas. Existirá sempre uma esperança num lugar qualquer! Não podemos desistir! Somos responsáveis! Fomos feitos para vencer, escrever a história e poetizar a vida!