O CAMALEÃO DAS LETRAS
O escritor Rondnei Antonio Fernandes de Andrade é o entrevistado desta semana. Além de escrever para o site Recanto das Letras, Rondnei acaba de publicar o livro “Camaleão”, pela Quártica Editora (Litteris). Trata-se de um livro de poemas, e como os poetas realmente têm o dom de mudar a cor dos seus sentimentos e pintá-los com palavras e frases, é um livro para ser apreciado como uma obra poética de valor. Vamos à entrevista com o poeta:
1- Rondnei, a poesia pode ser considerada um sintoma da loucura (a loucura como uma abertura da consciência e fuga da alienação que impera solta por aí) ou a poesia é simplesmente a voz da alma elevando-se, às vezes com amor e às vezes com fúria selvagem, diante de um mundo cada vez mais difícil? Os poetas são loucos ou apenas nos mostram um espelho?
Claro, para quem lê e não entende, sem sombra de dúvidas é o sintoma.
Direciono minha escrita na maioria das vezes para o lado reflexivo,
consciente. Escrevo indo de encontro às mazelas do mundo,
totalmente furioso, encaro.Cara, praticamente o mundo está
se acabando, é pânico por todos os cantos. Admiro quem escreve
de uma forma cercada de rosas, sou meio desajeitado, quem sabe
um dia eu sofra uma mutação. Somos um espelho gigante
com um monte de mensagens, frases e pensamentos. Somos
um misto de amor, verdade, fúria, tristeza, beleza, celebração…
Somos loucos sim! Só que de bom coração!
2- E o Brasil? A culpa é do povo ou dos políticos? O Brasil é um país jovem, comparado a outros da Europa e de outros continentes. É um país que tem tudo para dar certo, mas parece que as classes dominantes, a burguesia e as oligarquias políticas, sufoca o povo numa espécie de vida vegetativa. Haverá futuro?
Sempre culpamos a ilustre corte canalha, mas quer saber,
acho que nós mesmos é que somos os verdadeiros culpados
dessa lambança toda. Nunca tomamos vergonha na cara,
sempre ficamos iludidos com promessas que nunca serão
cumpridas. Tinha que haver uma grande greve para eles
nos respeitarem, porque quem faz essa grande fábrica
funcionar somos nós, eles só administram de uma forma
completamente gananciosa, desleixosa, não entendem
de trabalho duro.Bicho, aqui tem dinheiro sim! Mas infelizmente
está sendo dividido de uma forma completamente injusta e
isso resulta em um devorando o outro por migalhas, resto.
Esse nosso país já nasceu devendo, essa dívida
nunca será quitada, aqui ainda tem muito
para ser devorado por eles. Perdoe o meu pessimismo,
mas quando eles falam que o porvir será glorioso … é pura balela.
3- E se o seu livro começar a ser pirateado na internet, isto é, se alguém fizer um site com distribuição gratuita de sua obra, em algum site?Você é contra ou a favor que livros sejam disponibilizados na internet gratuitamente, como ocorre com a música, onde muita gente faz downloads grátis?
É um risco que corro porque isso virou uma grande bagunça.
Têm piratas que estão com suas vidas confortáveis e
enquanto outras estão a ver navios, estão num mar de prejuízos.
Acho que existe um pouco de corpo mole quando o assunto é
pirataria, deve ser vantajoso para uns. Falta é ação nas tocas
dos grandes lobos. Nada será resolvido com pequenas apreensões,
o emprego tá difícil, às pessoas estão se virando como podem.
Se um dia eu acessar e encontrar o meu trabalho na rede
sem à minha autorização, será uma das duas: ficarei "p" da vida
em saber que tem pilantras ganhando com a minha obra ou
ficarei feliz em saber que estou sendo lido em outras casas, estados,
que ele está em estantes por aí. É um terreno complicado
esse dos downloads, mas se um dia estiverem baixando minha música,
fazer o quê, eu também baixo. Em alguns casos sou a favor
e em outros não.
4- Por falar nisto, além do livro, você gravou um CD, também. Fale-nos sobre a música e este seu projeto musical?
Fui abençoado em gravar esse cd, porque tem muitos
aí que estão batalhando, batalhando e nada. Já me disseram que
eu sou um cara negativo, positivo, triste, poeta, profeta, que falo difícil
etc e etc …. Sinceramente, falo com a minha língua presa encima
de bases, fatos que me irritam nesse nosso cotidiano, das fúrias
do mundo, sentimentos verdadeiros, enfim, tem gente que gosta,
se identifica e tem gente que não gosta, não entende. Não sei
rebolar, dançar, não tenho um batidão de ouro no pescoço e dentes de diamantes,
Resumindo: gosto de falar sério. Quanto ao cd sintoma da loucura,
confesso que faltou alguns retoques finais, mas ali estão todas as
minhas verdades, o que penso. Foi feito com muita luta e parceria,
agora no quesito divulgação, acho que será cara à cara mesmo,
vendendo na rua e oferecendo para Dj´s que eu for pegando contato e
também confiando nos poucos amigos que tenho e em Deus.
5- Todo poeta tem uma musa. Alguns poetas têm a sorte de ter a musa ao lado, outros definham na solidão amorosa, longe da amada. Por trás de todo grande homem, há uma grande mulher. Você tem uma musa...ou várias?
Margarete Andrade, é ela a grande responsável por tudo isso que está acontecendo comigo. Ela está sempre do meu lado me incentivando, cuidando de mim, segurando na minha mão na hora da angústia e seguindo comigo sempre. Sou amado, respeitado, graças a Deus. Sei que é o que falta para muitos.
6- Alguns puristas da velha guarda reclamam que a poesia moderna perdeu a métrica, as regras de versificação. No entanto nós sabemos que sentimentos poéticos não podem ser contabilizados, medidos, pesados. A poesia nas mãos de um matemático vira um teorema. A poesia é liberdade de pensar, amar e sonhar. Os próprios poetas modernistas, libertaram-nos do jugo tirano das regras poéticas. Por que alguns críticos ainda não aceitam a poesia em prosa ou em versos livres?
A poesia tem dono ou dona? Que eu saiba não.
Ela é completamente livre, é pura expressão.
Acho que cada um tem o direito de escrever o que quiser e como quiser.
Os corretinhos vivem tentando encoleirá-la, mas ela é arredia.
7- Em seus versos há uma liberdade no dizer que me espanta. Parece que você escreve como quem bebe vinho, o vinho da vida. A vida é um vinho ou é a poesia que é um vinho? É a vida ou a poesia que nos deixa “bêbados” de sonhos e amor?
Gosto de escrever de uma forma mais direta, mas prometo que serei
menos desbocado. Pessoas que nunca chegaram perto de um livro,
chegaram perto do meu por ele não ser complexo, entenderam o que
eu escrevi. Tem muita coisa que eu leio e não entendo, parece que
o escritor não quer que ninguém entenda, parece egoísmo.
Se eu entrar numa de escrever de uma forma complexa, com certeza
eles não vão ficar com o dicionário do lado tentando decifrar o que
eu escrevi, aí com certeza nunca despertará neles o hábito da leitura e
essa é a minha intenção. Com certeza que a vida é um vinho suave
para uns e a poesia só ajuda no leve processo de entorpecimento(amor),
mas tem uns que se entopem de vinho seco, não conhecem a poesia,
o amor e acabam como verdadeiros dependentes do ódio, acabam secos
de tanta raiva e sem sonhos. Por isso filhos, nada de excesso, dosar
é preciso .
8- Quais seus sonhos literários para o futuro? Mais um livro de poemas ou vai tentar contos e crônicas também?
Sabe aquela do Zeca: Deixa a vida me levar, vida leva eu ...
Então é por aí. Sou preguiçoso para escrever grandes histórias,
contos, acho que me perderia. Gosto da escrita curta, do rápido
resultado, mas quem sabe com o passar dos anos.
9- Fale-nos sobre sua experiência de escrever para o site Recanto das Letras?
Eu conheci você através do Recanto, um escritor do sul do Brasil,
olha a maravilha que é essa bendita internet!Tenho um amigo
virtual de Portugal que também conheci através do recanto,
de São Paulo e de outros estados. Lá o resultado do que você
escreveu é imediato e isso é super gratificante. Escrevo em
outro site, mas ele não é tão eficiente como o recanto.Confesso-te
que estou meio ausente, mas voltarei.
10- O Poeta das Sombras do Sul agradece a entrevista concedida e deixa este espaço à disposição para qualquer mensagem aos seus leitores e amigos.
Gostaria de agradecer primeiramente a Deus, depois a minha musa Margarete Andrade, a você, Rogério Silvério de Farias, o espaço que me foi dado e por acreditar no meu trabalho e me incentivar, aos leitores sinceros que me apóiam, a Editora Quártica que me deu a oportunidade de publicar esse livro, ao Studio 202, Arthur Moura o produtor do meu cd, Mauricio Queiroz Carmo meu designer gráfico e a todos os meus leitores dos sites que me atrevo a publicar meus textos.