Entrevista com o Poeta João Justiniano (Bahia)

CLEVANE ENTREVISTA

1)Nome completo e nome artístico:

a) João Justiniano da Fonseca;

b) João Justiniano

2) Profissão:

Servidor Público aposentado como Conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios Bahia.

Naturalidade: Rodelas, Bahia.

Idade: 87 anos (30/06/1920)

Estado civil: divorciado

3) Mora onde? – Salvador, BA, à Rua Mato Grosso 478/602, CEP 41830-150, Ed. Mansão Real da Pituba – Bairro Pituba.

4) Site ou blog, se tiver: www.joaojustiniano.net

Entrevista:

a) Você se sente poeta desde que idade?A poesia é necessária?

Aos 14 anos escrevia o primeiro poeminha para a primeira namoradinha, uma menina de olhos verde-mar, cabelos de ouro. Ainda hoje admiro as louras. Saindo da namoradinha saí da poesia para reencontrá-la aos 19 anos com outra mulher. Ai fizemos votos de eternidade, a poesia e eu. A mulher... Passamos a outra logo. Logo. Ainda era a idade das crianças.

Se necessária a poesia? Como a água e o pão são necessários à vida material, a poesia é necessária à vida do espírito, à sensibilidade. De que forma seria composto o hino heróico, pátrio, eclesiástico e a cantiga de amar e amor? Não fosse o poeta, quem seria o seresteiro? A poesia é alma de um povo, e só por isso é absolutamente necessária à estabilidade emocional da pessoa humana.

b) O olhar da sociedade sobre os poetas mudou? Você sofreu algum preconceito, ou, pelo contrário, foi homenageado por ser um poeta?

Nunca sofri restrições, antes, antes sempre fui amado e louvado porque sou poeta. Poderia citar exemplos, se fosse o caso. Não sei se recebi homenagens, não sei bem o que é isso. Distinção muitas vezes. Tenho alguns títulos de sócio correspondente de academias, sem jamais solicitar. Isso é alta distinção, acredito. Sou corresponde da Academia Goianiense de Letras, da Academia Anapolina de Letras, da

Academia Petropolitana de Letras, da Academia de Letras Raul de Leone, de Petrópolis. Sou acadêmico correspondente na Bahia da Academia Rio-grandense de Letras e acadêmico titular da Academia de Artes Ciências e Letras Castro Alves, de Porto Alegre, sem que o pleiteasse. É distinção maior, suponho, homenagem não sei, acho que não mereço.

c) Quando publicou o primeiro poema? Gosta de dizer seus poemas, declamá-los ou lê-los?

Em 1960, em Belém do Pará, publiquei meu primeiro livro - SAFIRAS E OUTROS POEMAS.

Dizer que não gosto seria uma deslavada mentira. Quem escreve gosta de ser lido, no caso do poeta, creio que todos gostamos de declamar nossos poemas. Pessoalmente, na hora de declamar sou quase impedido pela timidez, que chega a embotar a memória e engasgar o poema. Só em

em momento de absoluta descontração, o que quase nunca acontece em momentos solenes de declamação, consigo dar o recado sem dificuldade. Não gosto de ler. Gaguejo.

d) Qual seu gênero poético predileto?

Hoje o soneto, do qual muitos não gostam e alguns amaldiçoam. Fui muito de longos poemas. Quem ler SONHOS DE JOÃO e BRADOS DO SERTÃO, vai encontrá-los. Senti a conveniência de resumir o escrito e

entrei pelo soneto e pelo sonetilho. Hoje, praticamente só faço bem em poesia, isto. Fui por algum tempo da trova. Deixei porque considero que a trova é muito boa ou não agrada, quero dizer, não presta. A grande maioria que tento ler, não me atrai. O haicai. Eventualmente escrevo algum, dispensando-me da rima. Prefiro, na trova e no haicai apresentar um pensamento, deixar uma lição. Mas a trova não dispensa a rima, nunca. Aí eu escapulo, porque não a

encontro bem.

e) Já recebeu algum reconhecimento, prêmio ou classificação em certames literários?

Não. Em moço concorria a concursos de trovas e poemas. Recebi alguns troféus que não guardei.

f) O que mais gosta de fazer?

Houve um tempo que lia muito. Hoje já leio com

dificuldade. A vista. A lente já não alcança a letra pequena, foge muito. Tenho uma deficiência auditiva que me desestimula da música, não vou ao teatro, porque praticamente não aproveito. Aqui, dia noite. Aqui no computador. Uso um aparelho que ajuda, mas não resolve.

g) Onde escreve? Precisa de um espaço, um clima especial ou faz versos em qualquer lugar?

Não em qualquer lugar, no sentido de improviso. Em qualquer lugar, isoladamente, à frente da máquina. Pode até haver gente nas proximidades desde que não me interrompam. Não escrevo à mão. A bem dizer não sei pensar fora da maquina. Antes era a Olivet, hoje o computador. A mão jamais. Fiz isso na mocidade, há muitos, muitos anos. Há de ser alguma coisa como um hábito. Tive um amigo, bom escritor, que dormiu aos oitenta e dois anos, que não foi capaz de adaptar-se ao computador. Escrevia fértil e facilmente em cima de uma olivet.

h) Deixe um recado para os poetas iniciantes.

Ler primeiro, depois escrever. Aos 14 anos, orientado pela mestra, li José de Alencar em Iracema. E não parei mais. A mim, a leitura estimula. Lendo, às vezes fecho o livro para escrever um poema. Quem escreveu que eu lesse que a criança aprende a falar ouvindo e o escritor aprende a escrever escrevendo? Não me ocorre o nome. Penso que antes de escrever será preciso ler. Quando começar, se gosta, vá em frente, não ouça aves agoureiras. Poderá consultar seu professor de letras, sendo estudante, fora disso, algum modo vire-se. Mande às favas os agourentos.