Valdeck Almeida de Jesus entrevistou o escritor português Fernando de Sousa Pereira. Veja os detalhes:
Quando e onde é que nasceu? Nasci em Portugal, na freguesia de Ribeirão, no dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas que é o dia 10 de Junho, em 1978. Não penso noutro país para viver. Portugal é um país tão completo que existem poucos assim.
Quando e onde é que nasceu? Nasci em Portugal, na freguesia de Ribeirão, no dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas que é o dia 10 de Junho, em 1978. Não penso noutro país para viver. Portugal é um país tão completo que existem poucos assim.
Quais são os elementos que considera essenciais para escrever uma boa obra literária? Penso que seja indispensável, para se escrever uma boa obra literária, um bom conhecimento da literatura. Ler boa literatura ajuda a que escrevamos boa literatura. Por isso, o essencial é uma boa formação literária, seja pessoal, ao ler vários autores, ou em cursos de literatura e de escrita. Eu fiz um curso de escrita criativa que me ajudou a ultrapassar uma barreira de uma escrita mais clássica para uma outra diferente, mais actual.
Quando escreve ficção não pretende transmitir nenhuma lição de vida, nenhuma mensagem? Essencialmente pretendo escrever mensagens de vida. O meu segundo livro publicado que se intitula “Caminhos de Suspiro” pretendia mostrar que, através de um romance, havia muitas mensagens de vida que se poderiam retirar e aprender. Por isso chamei ao meu livro “uma verdadeira enciclopédia de sentimentos pessoais”, onde narro uma aventura pelo mundo das ideias, dos comportamentos e dos factos. Mas em todos os meus livros e textos quero mostrar o quanto e o como podemos desenvolver a nível pessoal e profissional. Colaboro com uma crónica num jornal “Cidade Hoje” com o tema “Despir a nossa existência” onde o conteúdo dos meus textos é, essencialmente, o desenvolvimento pessoal.
Escreve só para deleite, para distracção do leitor? Escrevo para mim, porque me dá prazer, mas gosto e quero partilhar o que escrevo com os outros. Acho disso um sinal de uma cultura que se quer mais aberta e menos egoísta.
O que o leva a escrever? Uma vontade de passar para o papel tudo aquilo que não posso dizer. Escrever é um alívio para mim, pois é um descarregar de sentimentos e emoções, é uma criação de situações. O actor de criar algo é uma verdadeira ligação com o divino, com o que não é alcançável e isso dá-me satisfação e contentamento. É viciante, porque quanto mais escrevo, mais vontade tenho de escrever.
O que mais gosta de escrever? Gosto de escrever prosa, pela criatividade que se impõe em contar uma pequena história, juntar outras histórias a uma grande história e criar algo importante como um romance. Gosto de criar frases, junto palavras que imediatamente penso e crio frases, com essas frases crio textos. Gosto de metáforas e de adjectivos, gosto de lidar com palavras como se fossem peças de uma máquina e uni-las para por a máquina a trabalhar.
Como nascem as histórias? As minhas histórias nascem de uma simples frase que leio, de uma fotografia que me apaixona, de algo que ouço contar, de um momento que vivi. Depois há que aprofundar e elaborar uma história para ser contada para que outros que me lêem possam viver o que vivi.
De todas as suas obras, qual é a sua favorita? Qual a mais recente? A primeira obra é sempre aquela que temos mais carinho. Deu-me um prazer enorme escrevê-la e ainda mais quando a tive na mão. Chama-se “O Enigma d’ O Livro do Desassossego”. Comecei a escrever o texto enquanto lia “O Livro do Desassossego” de Fernando Pessoa e então pus-me a imaginar como seria se se descobrisse que um livro de Fernando Pessoa tinha um enigma e que a sua descoberta podia pôr em perigo o mundo inteiro. E se todo o mundo se apercebesse que tudo dependesse da descoberta de uns textos que faltavam nesse livro. Então misturei suspense e aventura, amor e humor, filosofia e poesia e criei um livro fantástico com uma mensagem de esperança para um mundo bem melhor. A minha obra mais recente intitula-se “Ficarei à tua espera!”. É um diário de um homem desassossegadamente apaixonado que vive na loucura à espera da mulher que ama e que ela nunca mais aparece. Tem uma escrita mais poética.
Costuma demorar muito tempo a escrever as suas obras? Depende de muitos factores, mas normalmente não mais de dois meses. Se tiver já uma ideia do que quero escrever, tudo flúi naturalmente e é mais fácil transmitir para o papel. Caso não seja assim, demora mais tempo, porque também demoro mais tempo para pensar no que escrever.
Qual foi a obra que demorou mais tempo a escrever? Porquê? “Caminhos de Suspiro” por ser um livro mais profundo, mais romanceado e com características mais desenvolvidas a nível de sentimentos e emoções e até porque tive de fazer alguma pesquisa para encontrar factos históricos referentes à data onde o meu romance é realizado.
Concluiu faculdade? Sim, tirei Licenciatura em Engenharia e Gestão Industrial e Pós-Graduação em Gestão Industrial na Universidade Lusíada em Vila Nova de Famalicão.
Qual o escritor ou o jornalista que mais admira e que tenha servido como fonte de inspiração ou de motivação para o seu trabalho? Os meus escritores preferidos são muitos, como o Miguel Torga, Eugénio de Andrade, Fernando Pessoa, Almada Negreiros, António Lobo Antunes, Agustina Bessa-Luís, João de Deus, Sophia de Mello Breyner Andressen, Almeida Garret, Camilo Castelo Branco, Alexandre O´ Neill, José Luís Peixoto, valter hugo mãe, Gonçalo M. Tavares, entre muitos outros portugueses e estrangeiros. Li todos os livros de José Saramago e de José Luís Peixoto e são eles, naturalmente, que influenciam e me inspiram a uma escrita mais criativa e até mesmo mais genuína e espontânea. O meu livro preferido é o “Ensaio sobre a Cegueira” de José Saramago, não só pela escrita em si, não só pela ideia que a história tem, mas pela originalidade e pela excentricidade que nos leva a pensar em assuntos que não pensávamos antes de o ler.
O que é preciso para escrever bem? É preciso ter lido bem muitos livros. Não basta ler muitos, mas sim ler muitos e bem lidos. Mais uma vez a questão da quantidade e da qualidade. Depois exercita-se algumas frases, depois aperfeiçoa-se até que se consegue a criação de algo perfeito.
Por que não usa pseudónimo nos seus livros? Não acho necessidade. Como gosto do meu nome real e não pretendo esconder a minha faceta literária, não acho necessidade de usar um pseudónimo.
Como é que você passou a sua infância? A minha infância foi tranquila. Lembro-me de brincar com os meus primos, lembro-me das actividades artísticas no infantário, lembro-me de brincar com as minhas irmãs, lembro-me dos presentes que ganhava e dos livros que recebia.
Como é que passou a sua juventude? Também com muita tranquilidade. Sempre fui uma pessoa pacífica, pelo que a família sempre foi o meu ponto central na vida. Apesar de ter sido a época que era capaz de passar dias e noites a explorar os livros que residiam em minha casa, também tive a oportunidade de conhecer o mundo real. Foi uma juventude normal, com os seus altos e baixos a que todos estamos acostumados.
Qual foi a Obra que mais gostou de publicar? A primeira, sem dúvida, foi a melhor. “O Enigma d’ O Livro do Desassossego”, para além de ter sido a que mais prazer me deu ao escrevê-la, foi a que mais gostei que tivesse sido publicada e ainda mais prazer me deu ao ouvir os comentários agradáveis acerca da história do livro. O terceiro livro “7 Contos para 7 Paixões” é uma colectânea de contos escritos de forma diferente, em momentos diferentes e com um estado de espírito diferente. Seleccionei estes 7 entre outros, coloquei-os de forma aleatória, sem qualquer sentido literário, pessoal ou organizativo e assim se formou este livro a que chamei “7 Contos para 7 Paixões” por ser exactamente isso, 7 contos que falam sobre 7 diferentes paixões.
Qual sua principal atividade? Escritor? Sou Engenheiro Técnico Superior no Gabinete de Apoio ao Investidor na Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão. Para além da engenharia, a minha outra paixão é a literatura, escrever é a minha luz para a vida. Não vivo da escrita, não tenho lucro com os meus livros, mas a verdadeira conquista não é o lucro, é a participação e a transmissão de mensagens de temas da vida que posso dar às pessoas. Se der frutos, fico satisfeito.
O que você mudaria no mundo se lhe fosse dada a presidência mundial por um dia? No mundo há muita coisa para mudar. O fosso entre ricos e pobres é a principal. Neste momento não sei o que poderia fazer para alterar esta situação, mas penso que se os salários fossem mais altos, se todos tivessem emprego, se todos tivessem tecto para dormir e pão para comer, teríamos um mundo bem melhor.
Qual sua religião? Sou católico, acredito em Deus. Apesar de tudo o que hoje em dia está em evidência em relação à credibilidade da Igreja, gosto de acreditar que o que aprendi na catequese é a verdade. O enigma que existe acerca de Deus torna-me mais impressionado, porque também a minha fé é enigmática.
Já conhece o Brasil? E outros países? Sim, conheço o Nordeste brasileiro. Estive uma semana em Natal numa viagem de finalistas e me encantei com as paisagens, com o calor, com as cores, com as pessoas, com as praias. Conheço a Europa central, conheço algumas ilhas espanholas. Gosto de viajar, conhecer culturas diferentes, pensamentos e ideias diferentes, ver paisagens totalmente diferentes, viver de maneira diferente. Se pudesse daria a volta ao mundo.
Quais seus planos como escritor? Curiosamente não tenho nenhum plano. Os livros que publiquei não foram planeados, aconteceram serem publicados, independentemente da altura em que foram publicados. Tenho mais textos em gaveta, se foram publicados, ficarei muito contente. Vou continuar a escrever, vou continuar a ler, vou continuar a demonstrar o que melhor sei fazer e se isso tiver resultados positivos, ficarei satisfeito.
O seu segundo Livro "Caminhos de Suspiro" tem o prefácio de valter hugo mãe, que recentemente ganhou o Prémio José Saramago em 2007. Ficou surpreendido?
Eu sabia que valter hugo mãe iria ser homenageado, mais cedo ou mais tarde, devido à carreira literária que tem, devido ao seu estilo artístico e muito pessoal, devido à diferença que faz na literatura portuguesa. Ter escrito o prefácio no meu livro só me fez ficar ainda mais agradecido, não só porque ganho ainda mais algum prestígio, mas também porque é de notar que a divulgação dos meus livros podem ser mais notórios. Conheci o valter quando ele me deu formação em escrita criativa e desde aí ficamos amigos, porque ambos somos viciados em letras e livros.