De mim para comigo
Esta entrevista foi feita em momento inoportuno
em lugar inoportuno entre dois eus no mesmo lugar:
Mim: como vai, meu amigo?
comigo: perguntou para mim?
m: isso mesmo.
c: não estou a fim de conversar.
m: é apenas uma entrevista!
c: não quero saber dessa meta-conversa de artista!
m: mesmo assim vou perguntar.
c: tudo bem, sou espelho a retratar.
m: por que hoje o mundo é assim, tão individualista?
c: não sei, acredito que é mais fácil conversar
consigo mesmo, pois não é preciso muito esforço.
m: você percebe diálogo atualmente?
c: sim, nessa conversa de espelho, a reação é previsível e
fica fácil saber os próximos passos.
m: como você vê essa situação no futuro?
c: vejo nos seus olhos, nos olhos de quem lê, que a solução
é tirar os olhos do espelho, do chão da calçada e olhar
para frente, para o olho do próximo e encará-lo de igual
para igual: nem superior, nem inferior.
m: estou ficando cansado desse papo, desculpe-me.
c: entendo! Se não fosse assim, não estaria aqui.
m: obrigado pela entrevista.
c: tudo bem, mas, por favor, feche a braguilha.