Confrade Paulo Miranda pergunta e

Zaciss responde.

 

 

1. O que é ser Puri no Brasil de hoje?

 

No início da fase adulta, descobri que sou indígena, embora com a pele branca.

Filha da imigração italiana, mas o Pai Purí do sertão de Quatis, Estado do Rio de Janeiro.

 

Os povos Purís viviam na faixa sudeste da Região Sudeste do Brasil, onde foram perseguidos e dizimados.

Na região do meu Pai, foram covardemente presenteados com objetos contaminados pelo virus da varíola e seus corpos jogados no Rio Paraíba à semelhança de toras de bananeira.

As autoridades tudo fizeram para apagar a memória daquele povo. No registro civil do indígena passou constar a cor parda, como forma de exclusão e sepultamento da história de um povo. Assim aconteceu com o meu pai, registrado com a idade aproximada de dezoito anos. Civilmente, sou filha de um homem pardo.

A formalização dos indígenas como pardos ou caboclos conferia ao governo o direito de tomar as suas terras.

 

No Brasil, atualmente, há um número diminuto de Puris, não chegando a um mil nos registros oficiais. A Universidade Federal de Viçosa realiza um movimento de resgate dos assentamentos históricos e da memória desses povos.

 

Sem nome ou sobrenome, os Puris no Brasil de hoje, continuam anônimos, excluídos, escondidos, “como gente que não existe”, “povo das nuvens”, “gente interesseira que deseja as terras do governo”.

E, ainda, são vistos sob a marca da desconfiança em relação às suas intenções ao declarar-se indígena.

 

 

 

2. Maomé iria ao Pico da Mina, levando as suas quatro esposas, ou só uma concubina?

 

Na subida da Pedra da Mina, o quarto ponto mais alto do relevo brasileiro, com 2.798 metros de altitude, Maomé faria um piquenique com uma concubina. Certamente, as quatro esposas ficariam na terra plana, preservadas e cuidadas pelos eunucos, sem correrem o risco do “rola moça”.

 

3. Situe-se no Recanto das Letras

 

No Recanto... sou Zaciss,

Cognome que me protege, acolhe, me ouve, me transporta aos mares não antes navegados.

No Recanto...posso ser puri, desvelar a emoção e a alma em ebulição.

 

 

4. Canção Nova ofusca Aparecida?

 

Aparecida é a Casa da Padroeira do Brasil. É a história do povo brasileiro católico entremeada à memória religiosa com seus ritos e emoções. A Basílica emana energia própria, sublime, divina.

Canção Nova sugere outro conceito à Igreja Católica. Existe um longo caminho a trilhar.

 

Com a partida dos padres salesianos do Colégio São Manoel de Lavrinhas e a chegada da Canção Nova para o mesmo espaço, Lavrinhas encolheu-se.

 

 

5. Qual o seu lema para Lavrinhas?

 

Lavrinhas, a terra do meu coração,

quisera vê-la transformada pelo pêndulo da Educação e

que a agroecologia habitasse os sonhos de toda gente.

Quisera que a Mantiqueira fosse respeitada e o Rio Paraíba

voltasse a sorrir cheio de emoção.

 

6. No lugar de Maria, ao Arcanjo receberia?

 

Anjo

ou Arcanjo,

no mesmo arranjo,

como Maria...

receberia,

não hesitaria!

 

 

7. A Poesia poderia ser uma forma de reencarnação?

 

Para mim, a Poesia é o sopro da alma. Se reencarnação,

não sei. Talvez Cora Coralina esteja assoprando meus ouvidos,

com a sua Poesia alicerçada na simplicidade e objetividade.

Ou então, a inquietação de Clarice Lispector, dizendo-me...

_ Vá, arrisque-se, siga a sua intuição!

Ou Manoel de Barros a me dizer...

“_Tenho em mim um sentimento de aldeia e dos primórdios. Eu não caminho

para o fim, eu caminho para as origens.”

 

8.Se perdesse uma chave, acha que ainda a acharia?

 

Não gosto de chaves, trancas, cadeados, fechaduras, portas, janelas, muros...

Tenho a alma nômade, livre, sem amarras. Se perco chaves, não vou à procura.

 

9. Também no breu se exerce a cidadania?

 

No breu,

sonho meu,

a cidadania

vira poesia!

 

10. Mais professora ou mais diretora?

 

Sou Educadora. Não importa o caminho.

Diretora é o estado de espírito que reina em mim!