Entrevista IRINEU VOLPATO (Poesia) - STA. BÁRBARA D´OESTE, SP
Irineu Volpato, poeta e professor, radicado em Sta. Bárbara d´Oeste, interior de São Paulo, é um poeta atípico. Usando o universo lírico para suas cirurgias artesanais, compõe suas sublimações com uma tal formatação que muitos invocariam João Cabral de Melo Neto ou Manoel de Barros, referências básicas. Mas um olhar mais acurado vai encontrar ali ressonâncias que flertam com um universo mais profundo, menos orgânico e singularmente único. Minhas pesquisas apontam Irineu Volpato como escrevedor de uma carpintaria única, visceral, onde o adjetivo torna-se substância, o verbo se sujeita, o artigo pronome-se, e tudo isso sem perder o referencial, a profundidade e a musicalidade inerentes ao bom poema. Uma pequena amostra pode ser observada através de suas respostas, nesta entrevista exclusiva(por carta), para este sítio Recanto das Letras.
Escobar Franelas – Quem é Irineu Volpato?
Irineu Volpato – Nasci e devolvi-me viver caipira, para me sentir centrado. Tenho o silêncio e o sozinho como os dois suportes meus mestres. Vivi o quanto valeu-me participando, trabalhando, produzindo, sendo compromisso e compromissado, bem uns 55 anos, daí decidi-me reservar para cumprir-me diálogo comprometido com as palavras, e poesia.
EF – Quando Irineu Volpato começou sua traficância de (pensen)timentos para o papel?
IV – Minhas molecagens literárias comecei-as aos 14 anos. Era um colégio internato, de padres, onde tudo se proibia e o possível era escondido. Mas foi quando li inteiros Varela, Castro Alves, Casimiro, Camões, outros, e engolia todos os textos de antologias(e como havia antologias muitas e boas. Uma excelente da Globo, do Rio Grande, trabalhada por Francisco Fernandes, sem esquecer A Nacional do Carlos Laet, da Francisco Alves, do Nunes, de Curitiba). Fora já do seminário, trabalhei em minha terra natal, em 2 jornais, andava pelos 17/18 anos. Por sorte rodeado de gente muito boa em literatura. Em Piracicaba, em 1953, moleque fui o primeiro que publicou ali um poema modernizado(sem se obrigado à rima. E a Semana de 22 já era velha 32 anos...).
EF – Percebo em seu trabalho uma paixão por novas orquestralidades da frase. Onde( e quando) surgiu esse viés interpretativo para a palavra?
IV – E quem primeiro me puxou para a orquestralidade das palavras, da frase, foi Euclides da Cunha, depois vieram Raul Bopp, Cassiano Ricardo, Manoel de Barros... Sempre gostei de enfiar-me em literatura de autores pré-clássicos portugueses, onde e quando nossas palavras andavam nascendo. Daí pus-me a enviesar-me, a brincadeirar com elas, cumprindo as regras das possibilidades das transformações lingüísticas. E quando fui ler Guimarães Rosa, senti-me assim estando em casa. Impactou-me mais Manoel de Barros e suas brincadeiras de frases.
EF – Quantos livros o Irineu Volpato já publicou?
IV – Livros editados mais de 15. Enfornados outros mais 30.
EF – Qual a relação de Irineu Volpato com as novas expressões midiáticas?
IV – Ainda que passeie traduzindo obras de autores de outras línguas, como franceses, italianos, espanhóis, americanos, e que tenham me obrigado ao latim, grego, raspeladas de hebraico, em seminário, sou visceralmente contra o que vem acontecendo com a importação desnecessária e uso de tantos termos da língua inglesa em nosso dia-a-dia. Ignorância de quanto é rica e exata nossa língua vernácula, ou subserviência simiesca?
EF – Quem (ou o quê) influencia a obra de Irineu Volpato?
IV – Há alguém imune, se consegue espiar antenado ao redor? Tudo me toca, mais que me influencia.
EF – Quem você encontrou nesses “undergrounds” que não justifica estar à margem?
IV – E adianta ser excelência, nas rabeiras águas do alternativo, se para daí se emergir falte-lhe o QI obrigado?