Wilson Gonzaga - Um ativista patológico
Opinando e Transformando
Nome: Wilson Gonzaga
> Breve biografia: Médico psiquiatra e psicoterapeuta, mentor e palestrante, 70 anos de idade, em plena atividade, trabalha como consultor de empresas e produtor de conteúdo sobre saúde mental.
Confira a entrevista com Wilson Gonzaga
> Em sua opinião, o que é cultura de paz?
Saindo do óbvio, que é cultivar a paz, é entender que cultivar a paz é algo que tem no mínimo duas faces, uma face externa, coletiva, de responsabilidade da humanidade como um todo, e talvez a parte principal, que é a parte interna. Focando pela parte externa, quando a gente fala de cultura, a gente fala realmente de um pensamento coletivo e que demora anos e algumas gerações para se instalar. A cultura da paz está emaranhada em uma série de outras coisas, políticas, sócio-política, geográfica, históricas; então a política da paz, ela passa por uma justiça na distribuição de renda, é muito difícil viver em paz, com desníveis sociais, com abusos, com sistemas injustos. É muito difícil! E passa também por uma malha até geográfica, dependendo de algumas regiões, onde as coisas inóspitas da natureza podem dificultar muito uma paz, dentro de enchentes, longas secas, invernos prolongados, fica um pouco mais difícil. Mas o que mais interessa é a parte interna da cultura da paz, que é a paz de cada um, não adiante nada termos um discurso ideal, quando na prática não conseguimos viver na própria paz, a paz individual.
> Como podemos difundir de forma coerente a paz neste vasto campo de transformação mental, intelectual e filosófica?
Novamente os dois aspectos, as duas esferas; na esfera interna é necessário, quando a gente fala de cultura, a gente pensa logo, a gente cultivando alguma coisa viva, como uma planta; então é preciso nutrir, é preciso regar, antes de colher, então a constante rega da cultura da paz é a meditação. O mundo um dia vai entender, assim como já entendeu, a necessidade de exercícios físicos, já começa a entender a necessidade de parar um tempo durante o dia, para fazer silêncio com sua mente. E, ali dentro da fonte original, individual, encontrar a paz. A partir daí, dessa paz individual, fica mais fácil difundir em todos os níveis, na nossa conduta, na nossa fala, no nosso olhar, nos nossos assuntos, procurar sempre trazer a notícia, a ideia, a sensação da paz.
> Como você descreve a cultura de paz e sua influência ao longo da formação da sociedade brasileira/humanidade?
Eu vejo isso como uma necessidade natural. Se atentarmos ao fato que somos seres gregários, isto é, que vivemos em agregação, que vivemos em um bando, como alguns animais, então nós precisamos de algumas características para podermos vivermos juntos, uma delas é a própria constituição cerebral. Nós temos um cérebro que tem neurônios especializados em copiar comportamento, para termos comportamento de bando, comportamento de manada, para poder viver juntos; é estranho isso. E para podermos vivermos juntos, nós temos que ter relacionamentos mais harmônicos possíveis e para isso nós precisamos desenvolver a paz. A paz é necessária para a convivência, para a sobrevivência do ser humano na Terra, precisamos da paz. Então o desenvolvimento da paz já começa pelo aspecto relacional. A gente precisou disso, precisa disso e precisará disso para podermos viver em relação. Um outro, é realmente a qualidade de vida, o repouso. Toda vida precisa do triângulo, alimentação, exercício e repouso. A paz, ela faz parte dessa parte do triângulo, de um repouso emocional, de um repouso mental que nós precisamos. Nós necessitamos ter isso diariamente. Então precisou disso para podermos chegarmos até aqui, e para ir além nós precisamos desse instrumento. Portanto, qualquer movimento social de evolução, ele só poderá existir, alimentando, desenvolvendo, ampliando, exercitando a paz, intrapessoal, interpessoal e transpessoal.
> A cultura e a educação libertam ou aprisionam os indivíduos?
As duas coisas podem acontecer. Quando uma cultura é instituída, semeada, pulverizada, por uma minoria totalitária que quer implantar uma determinada ideia coerente com um sistema de governo, confortável para um pequeno grupo, ela pode aprisionar; aliás, ela aprisiona. Agora, a cultura espontânea de um povo que desenvolve naturalmente, essa liberta, essa orienta. E nós sabemos disso, que a educação pode perfeitamente ser um caminho, uma estrada para a liberdade. Porém, o tipo de educação pode também aprisionar. Paulo Freire, ele dizia uma coisa que era interessante, se não ensinarmos uma educação, libertadora, justa para as pessoas, elas vão um dia copiar o comportamento daqueles que os oprimiram. Então a educação deve ser desopressora, porque senão vai criar novos opressores. Essa é a educação natural, essa liberta, essa é necessária, a outra aprisiona.
> Comente sobre o espaço digital, destacando sua importância na difusão do despertar da humanidade.
Uma reflexão que todos nós estamos fazendo, onde a tecnologia pode nos levar. Porque muito importante a tecnologia caminhar pare e passo paralelo à ética, à moral, ao desenvolvimento filosófico da humanidade. Tecnologia sem consciência pode levar ao perigo, e parece que alguns setores estão levando para isso. Mas, por outro lado, nós estamos vivendo também por conta da tecnologia, uma democratização da informação, podendo então democratizar também a formação das pessoas. E ao mesmo tempo que estamos vendo uma civilização superficial, consumista, ligada principalmente no lado fútil da tecnologia, fazendo um uso não tão saudável da tecnologia, por outro lado a gente vê movimentos de consciência surgirem. A humanidade está no momento muito importante de dar um salto quântico na sua consciência e mudar a sua cultura de consumo, para uma cultura de paz ou sucumbir à sua própria superficialidade e desaparecer desse planeta. Existe esse risco. Eu, como ativista patológico, acredito mesmo em um movimento de consciência, que nos 45 minutos do segundo tempo, a humanidade vai mudar esse rumo, hora indicado para um rumo mais saudável da consciência.
> Qual mensagem você deixa para a humanidade?
“Conhece-te a ti mesmo”. (Sócrates)
E completando a sua ideia socrática, trago a reflexão que tinha lá no portal de Delfos: homem, por que há de querer conhecer os mistérios das estrelas e dos deuses, conheça a ti mesmo e encontrará a verdade sobre todas as estrelas e todos os deuses.
“Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. (Jesus)
Acredito que a solução de toda doença, de toda ignorância, de todo mal do mundo, pode ser curado com amor.