"ENTREVISTA DE EMPREGO PARA MENINO DE PROGRAMA".
REEDIÇÃO
Mestre Geraldinho e mestre Antônio Carvalho Neto, vamos fazer o seguinte, você vão indo lá para o bar que eu vou entrar naquela fila ali para emprego. - Trovador, emprego de menino de programa? - É mestre Antônio, eu aprendi bem a mexer no computador, pelo menos vou tentar, me faça um favor mestre Geraldinho leve a minha viola, daqui a pouco eu chego lá.
- Trovador o Judd o mestre Jacó, mestre Fábio, mestre Miguel Jacó até mestre Martinez está lá, vão ficar putos se não aparecer. - - Rapidinho mestre Antônio, terminando eu me mando pra lá, e você acha que eu vou perder a boquinha livre? Ainda mais que é o Judd que vai pagar, pode ir é perto, daqui a pouquinho eu chego.
- Mestre Geraldinho, eu fiquei com pena de falar pra ele, - eu também, deixe que vá depois a gente o consola com umas doses de cachaça rsrs. - Certo, vamos embora.
Puxa até meus amigos acham que já estou velho para trabalhar, azar, preciso trabalhar a crise está brava, xiiii tem cinco na fila, tomara que não demore muito.
Opa um já saiu agora só quatro, pô meu não empurra que há? - Aí velhote vai encarar?- Não senhor, nem estou com pressa pode ir à frente... Caramba este aí não é tanquinho, é tancão. - Ei meu, pô outro? - Que é bofe vai encarar? - Vou não senhor, mas meu nome não é bofe, é Miro. – E eu lá quero saber seu nome velhote?- Claro que não senhor, me desculpe.
Ufa até que enfim, este é o último! Próximo, - pronto cheguei moça, boa noite... Desculpe, é senhora ou senhorita? – Sou trans querido, - Trans... Há, eu sou o Miro dona Trans, muito prazer, e aí tem um empreguinho aí para mim? - Vamos ver, mas o senhor não está um pouco velho, qual a sua idade? É setenta e dois quase setenta e três, mas eu trabalho, faço qualquer coisa, estou precisando muito do emprego. – Tá bom, vamos à entrevista,
(P 01) - O senhor é homem?
(R 01) - Sou sim senhora dona Trans, nasci homem e vou morrer homem.
(P 02) - Mas ativo ou inativo?
(R 02) - Sou muito ativo, quero dizer era mais, mas a idade sabe como é né dona Trans...
(P 03) - Sei, o seu dote é grande?
(R 03) - Bem, mais ou menos, já fui peão de trecho, já fui pintor, escultor, sou poeta e escritor caipira, mas faço de tudo, qualquer trabalho eu encaro desde que não seja muito pesado né dona Trans...
(P 03) - Vou repetir a pergunta seu Miro. Estou perguntando o tamanho do seu pinto, como ele é, se é grosso ou fino, se sobe ou não.
Pensando primeiro... Mas que porra de pergunta é esta, pra fazer programa no computador agora tem de informar isto, que diabo tem o cu com a calça e a cueca no meio? Foda-se; Deve ser esta modernidade, faz tempo que estou fora do mercado...
(R 03) - Bem dona Trans, é pequeno, pintinho de salão, modelo antigo, bico de lamparina, mas sobe sim, não é lá aquela maravilha né, mas dá pro gasto.
(P 04) - O senhor dança?
(R04) - Bem, quando mais novo eu era pé de valsa, mas agora continuo dançando, mas no outro sentido da palavra, danço sempre.
(P 05) O senhor, mexe na periquita sempre?
(R 05) Bem quando podia mexia sempre, mas agora não pode prender mais, o IBAMA né?
- Bem seu Miro, vamos para as considerações finais, o fato do senhor ser étero, - eu sou o que dona Trans? - Étero = homem, - há isto sou sim, macho mesmo, - pois é, mas na sua idade acho que o senhor devia ir mesmo é para um asilo, como ainda é um tipão, olhos azuis cabelos naturalmente pintado de louro e temos aqui umas bi-sex nesta idade e um pouco mais velhas, quem sabe dá para o senhor ganhar algum dinheiro não é?
- Dona Trans e o salário? – Não tem salário fixo, aqui é o que elas te pagam, se o senhor for bom mesmo, fatura bem, mas ao dançar tem que rebolar mesmo. Pensando... Xiiiii eu hem? Bom o Mestre Fábio entende disto, ele me ensina. kkkkk
- Mas tem um quesito ainda... - sim, qual é? O senhor tem que fazer o teste do sofá e sempre é comigo. – sem problema, se a senhora aguentar de um lado do outro eu garanto, carregamos pra onde a senhora quiser – Há, há, há, o senhor é muito brincalhão, bom humor, isto é bom.
- Então é isto senhor Miro, o teste do sofá para todos que foram entrevistados é amanhã, começa às nove horas, tem problema para o senhor? - Tem não dona Trans amanhã vou chegar até mais cedo. - Então está tudo certo, se for bem o teste já começa a trabalhar amanhã à noite. - À noite... Que beleza, não durmo a noite mesmo, vai ser mão na roda... Hummmm coitado fique esperto sô, vai ser outra coisa na roda seu bobão.
Pronto agora é correr para o bar, vinte horas, ainda vou aproveitar bem. Puxa a turma do Recanto está toda aí, as meninas também, uau e está animada a coisa. Geraldinho e Antônio já me viram e deram o grito, apareceu à margarida olê, olé, olá. Nossa olhem sós, eu recebendo palmas que legal. Margarida não compadres, cravo, eu hem?
Maior festão em Belo Horizonte e eu bêbado tocando viola, O mestre Fábio disse que vai lá comigo amanhã para ver se consegue um emprego também, eu até animei ele, velhinhas de oitenta, sempre tem de trocar fraldas geriátricas e ele entende do assunto, é fortão vai passar fácil no teste.
Falei para o Geraldinho, - ô do Engenho, cara isto aqui vai custar uma fortuna, o pior é se o Judd falar que tem de dividir, eu estou sem grana, ele me tranquilizou logo. - Nada, o Judd paga tudo. Respirei aliviado e falei, - ainda bem, isto é que é escritor né Geraldinho, não nós, dois poetas caipiras pé rapado... Quero dizer eu, você eu ainda não sei.
Se eu cantei? Quando o Judd me chamou o Antônio Neto me avisou, eu já estava bêbado e lhe perguntei, - e agora o que vou cantar? Ele disse, - qualquer coisa. Fui e dei um abraço no Judd, Jacó e todo o pessoal que estava por perto e aí ele mandou desligar o som, me apresentou e perguntou o que eu iria cantar primeiro, eu respondi: - O mestre Antonio quer que eu cante qualquer coisa, tudo bem? Ele respondeu mande ver aqui vale tudo.
Mandei ver: Quando a gente ama qualquer coisa serve para relembrar, vestido velho da mulher amada tem muito valorrrrr. Festão viu gente, quem não foi... Perdeu. Kkkkkk... Caca, Fui