Entrevista com a Beletrista Mikaella (Mikaelle Lima Oliveira).
P-Arte 01 de X.
01- A pergunta inicial, básica e clássica é: Quando, como e por que você começou a se interessar por literatura e poesia? Qual foi o seu primeiro contato com a literatura?
- RESPOSTA: Sou uma pessoa bem nostálgica e tenho apreço por revisitar minhas memórias. Esta, por exemplo, já revivi diversas vezes por inúmeros motivos. Recebi grande influência do meu pai, que sempre estava lendo, e de minhas duas irmãs mais velhas, Rosália e Ismália, que eram amantes da literatura nacional e portuguesa. Elas costumavam contar uma para a outra a história dos livros que estavam lendo. Na minha infância, eu achava que os livros eram filmes escritos, visto que adorava ouvir as narrações das histórias lidas por minhas irmãs. Essas influências me fizeram ter minhas próprias experiências e comecei pelos paradidáticos do colégio, que não me interessavam em nada. Eu gostava das histórias de Lucíola, Helena e Aurélia Camargo, que eram bem mais interessantes do que livros sobre vaquinhas, peixinhos e seres fantásticos que tinham na escola. Mas fui surpreendida pelo meu primeiro contato com a poesia. Foi em um paradidático da escola e um dos poemas me arrancou lágrimas dos olhos, mas não sabia explicar o porquê daquilo ter acontecido. O nome do poema era "A cruz", de Fagundes Varela, e era um poema visual. Eu, desatenta como sou, fui tocada tanto pela palavra que nem percebi que a forma do poema formava uma cruz. Esse detalhe só notei anos depois.
02- Qual é a função da literatura e, mais especificamente, da poesia? Para que serve a poesia? O que se busca na poesia? Qual é o principal desejo do poeta/poetisa? É a eternidade?
- RESPOSTA: Eu vejo a poesia como algo que possibilita trazer mundos possíveis à existência. A poesia nos acolhe, confronta, julga, incentiva, arranca pedaços e sorrisos, nos faz sentir, mas principalmente nos faz pensar. Acredito que quem a procura busca por uma experiência que o transforme, que o provoque, que faça qualquer coisa, menos deixá-lo da mesma forma antes de buscá-la. Não sei ao certo qual é o desejo de um poeta/poetisa. Você deve procurar um poeta/poetisa para responder a essa pergunta. Eu não me vejo como uma (risos), então não posso afirmar que seja a eternidade. Particularmente, não escrevo porque desejo me eternizar nem na poesia, nem no mundo. Escrevo porque meu corpo não suporta o fluxo de meus pensamentos e eles transbordam através da escrita.
03- Como tem sido a experiência de trabalhar/batalhar pela poesia e pelas letras em um aplicativo de internet como o "Meu Poema"? As leitoras/os leitores têm interesse em literatura de qualidade e, especificamente, em poesia?
- RESPOSTA: Tenho gostado bastante, embora, na correria do dia, não acesse com tanta frequência quanto gostaria. Sendo sincera, o aplicativo abre margem para o usuário trazer à existência aquilo que ele considera ser seu poema, tal qual o nome sugere. Acredito que poucos leitores busquem a tal literatura/poesia de qualidade, sendo bem generalista e peço desculpas caso minha expressão venha a ferir alguém. Acredito que os leitores do aplicativo buscam poetas e poetisas que estão à margem. E quando digo "à margem", não me refiro a poetas e poetisas cuja escrita é marginalizada, mas sim, à perspectiva de que tais poetas, em sua grande maioria, encontram no aplicativo uma forma de publicar e divulgar seus escritos. Isso porque, embora o advento da Internet tenha possibilitado a publicação de poemas, o livro impresso continua sendo o meio que traz mais notoriedade à publicação, e publicar um livro ainda é muito caro. Portanto, acredito sim que aqueles que buscam a leitura dos poetas do aplicativo "Meu Poema" desejam conhecer poetas ainda, em sua grande maioria, desconhecidos.
04- Para você, o que é e o que não é literatura, ou o que é e o que não é poesia? Poesia é algo para ser levado a sério - pode transformar as pessoas e o mundo - ou é, para você, apenas uma "recreação do 'espírito'"?
- RESPOSTA: Os conceitos do que seja literatura e poesia modificam-se no tempo e no espaço. Eu não tenho uma definição exata para esses conceitos, mas acredito que algumas poesias presentes em certos poemas são capazes de transformar pessoas, adquirindo um sentido além do que o poeta pretendia ao escrevê-las, mesmo que ele as tenha escrito para recrear o espírito. O que amo na literatura é essa fluidez capaz de estabelecer conexões diretas e indiretas entre o poeta, a obra e o leitor.
05- Quanto ao processo de construção de seus poemas/textos, você rascunha esboços? Como se dá predominantemente o seu processo criativo? A escrita é natural, inspirada, aleatória e espontânea, ou é uma decisão consciente de escrever algo sobre algum tema? Existem certos dias ou ocasiões especiais em que você trabalha/escreve melhor do que em outros? Ou a poesia é exclusivamente trabalho e esforço? Você se identifica mais com a abordagem de Carlos Drummond de Andrade ( = inspiração) ou de João Cabral de Melo Neto ( = trabalho, labor)?
- RESPOSTA: Eu nunca rabisco um poema que já escrevi. Nunca me sentei e pensei "vou escrever um poema". É bem aleatório, na verdade. Sempre que escrevo, estou vivenciando sentimentos intensos, mas nem sempre, quando estou vivenciando sentimentos intensos, eu escrevo.
A poesia simplesmente flui de dentro de mim, e quando a releio, nem sempre parece que fui eu quem escreveu.