Entrevista com o Poeta Vila, de Palmeira das Missões, RS,
no Recanto das Letras
O Poeta Vila tem como referências, no Perfil dele, o seguinte:
Carlos Eugenio Vilarinho Fortes. Brasileiro. Gaúcho. Nascido em Palmeira das Missões. Advogado. Pretenso Poeta. Pai do Ícaro, do Martim, da Ana Clara e do Théo.
Meio filantropo. Meio misantropo.
E-mail: carloseugeniovilarinho@hotmail.com
01- A pergunta inicial, básica, clássica: A literatura em você, quando surgiu? Por que e como começou a se interessar por literatura e poesia? Tem lembranças de quando surgiu a “sensibilidade estética à palavra” em você? Qual o seu primeiro contato com a literatura?
- RESPOSTA: Continuo basicamente um leitor. O primeiro contato com a literatura foi na escola. As primeiras leituras foram aquelas apresentadas na escola: José de Alencar, Joaquim Manoel de Macedo, Machado de Assis, Cecília Meireles, Manoel Bandeira, Drummond. Em casa também tinha contato com livros e revistas, minha mãe era professora e meu pai um estudante tardio, que fez quase todos os seus estudos depois de casado, o que de certa forma facilitou o contato com a literatura e a leitura de modo geral. Tínhamos em casa coleção completa do Érico, que li do primeiro ao último livro, repetindo, anos mais tarde, algumas leituras, como os volumes do Tempo e o Vento.
Durante o ensino médio, então segundo grau (final dos anos 1970), tive acesso a um livro didático de gramática e literatura – que se perdeu com os anos –, através do qual comecei a ler POESIA. Este livro, além da leitura de poesia, propunha exercícios de escrita, é a primeira lembrança que tenho de tentativa de escrever alguma coisa, na verdade, reescrever, pois os primeiros exercícios foram de reescrita de alguns dos textos do livro.
No começo de 1980, mais exatamente em 1982, ao ingressar na Faculdade de Direito, na Cidade de Passo Fundo, a convivência com o meio acadêmico trouxe muitas novidades, especialmente ligadas as artes: cinema, teatro, literatura. Neste período comecei a ler poesia de forma mais sistemática. Os poetas principais foram Mario Quintana, Pablo Neruda, Fernando Pessoa. Em 1984, por indicação de uma amiga, comprei o livro Capricho e Relaxos, do Paulo Leminski, química total. Neste momento já escrevia algumas coisas, bem instintivas, diga-se de passagem, que ficavam sempre sob sete chaves.
02- Qual é a função da literatura e, mais especificamente, da poesia? Poesia e literatura servem para quê? O que se busca na poesia? Qual é O principal desejo de poeta/poetisa? É a eternidade?
- RESPOSTA: ...
A literatura ajuda a compreender o mundo, a desenvolver a intelectualidade, expande o vocabulário, aumenta a cultura. Essas coisas que a gente lê por aí. A poesia, como forma de literatura e de linguagem, da mesma forma, expande nossos horizontes, uma palavra apenas pode apresentar infinitos significados, por vezes, inclusive, impensados. A ideia principal é se expressar, dizer o que tem pra dizer, sem importar muito se vai ser lido ou não, o ato de escrever, por si só, já é essencial.
03- Como tem sido a experiência de trabalhar/batalhar pela poesia e pelas letras num sítio de internet como o RdL? As leitoras/Os leitores têm interesse por literatura de qualidade e, especificamente, por poesia?
- RESPOSTA: ... A experiência com o Recanto das Letras é fundamental para mim. Publico no Recanto há mais de 15 anos e isso foi definitivo para começar a divulgar meus textos. No Recanto conheci ótimos escritores, e foi a partir da resposta da leitura feita por essas pessoas, das minhas poesias, que comecei a tomar coragem e divulgar os poemas além do Recanto. Percebi, com o tempo, que no Recanto, acabam se constituindo nichos de escritores próximos ou com proximidades, facilitando o intercambio e estimulando a escrita. Muitos desses amigos já não estão mais no Recanto, alguns simplesmente sumiram, outros, lamentavelmente, faleceram, e outros, ainda, enveredaram de vez pela carreira literária, alguns com relativo sucesso. No Recanto, nunca fui um escritor de muitos leitores, no entanto, sempre conseguiu cativar leitores qualificados, o que compensa a pouca quantidade.
04- Para você, o que é e o que não é literatura ou o que é e o que não é poesia? Poesia é algo para se levar a sério – pode transformar as pessoas e o mundo – ou é, para você, só uma “recreação do 'espírito'”?
- RESPOSTA: ... A literatura é uma forma do ser humano se manifestar artisticamente, assim como a pintura, a música, o cinema, etc. E possui a função de despertar as sensações e a sensibilidade, bem como, de produzir efeitos estéticos, que, no final das contas, fazem com que a gente compreenda melhor o mundo, a natureza, as pessoas.
Poesia é anterior à escrita. A poesia é o deslumbramento, a epifania, diferente do poema, uma estrutura com versos, estrofes e forma determinada ou não, nem sempre poético.
05- Quanto ao processo de construção de seus poemas/textos, você rascunha esboços? Como se dá o seu processo criativo? Como é que predominantemente o seu processo criativo ocorre? O escrever é natural, sob inspiração, aleatório e espontâneo ou sob a decisão de escrever algo sobre algum tema? Existem certos dias, ou ocasiões especiais, em que você trabalha/escreve melhor do que em outros? Ou a poesia é exclusivamente labor e transpiração? Drummond (= inspiração) ou João Cabral (= labor)?
- RESPOSTA: ... Escrevo todos os dias. Tenho por hábito acordar cedo e nas duas ou três primeiras horas da manhã me dedico à escrita. Não que só escreva neste momento, no resto dia estou sempre atento para alguma ideia ou imagem, que possa resultar em texto. Portanto, há uma mistura no meu processo criativo, se assim posso nominar, por um lado o elemento involuntário, que continuo acreditando ser essencial, e, de outra banda, o suor, o esforço em estudar, pesquisar, descobrir e escolher palavras, encontrar formas literárias diversas e outros recursos da língua, que na poesia podem parecer sempre originais.
Nos últimos anos, considerando o acúmulo de leitura, da vida toda, e a convivência no Recanto, fizeram com que a minha escrita melhorasse. Claro que tenho consciência dos meus limites, contudo, é bem perceptível que os poemas escritos nos últimos anos estão melhor elaborados, têm uma forma pensada – especialmente no que tange à uma escrita enxuta e direta, sem muita adjetivação.
Os temas são os universais, mesmo que, como parece ser com todos os escritores, há alguns temas preferidos, ou melhor, inescapáveis – a saudade, a solidão, o amor, a vida, a morte, a angústia.
06- Em geral, você é mais otimista ("solar", extrovertido, racional) ou pessimista (instintivo, intimista, introvertido, individualista) em relação à vida? Como você definiria sua poesia/escrita? Você é poeta mais para o tipo dionisíaco ou mais apolíneo?
- RESPOSTA: ... Embora seja contemplativo, apolíneo poderia se dizer, gosto muito a visão dionisíaca da escrita, a relação com o instinto e com a natureza são muito presentes no que escrevo, as paixões e as loucuras. Acho, no entanto, que há uma composição e não um choque entre as concepções apolíneas e dionisíacas.
A minha escrita é mais intimista, um tanto pessimista e bastante individualista. Embora em algumas passagens consiga apresentar alguma ironia ou crítica, no mais, no geral, é uma poesia instintiva, no primeiro momento, de um lirismo introvertido.
07- Que poetas/autores você lê? Tem preferências por alguns locais, nacionais ou internacionais? Cite 10 autores indispensáveis em todos os tempos ou estilos de época para a compreensão, percepção e degustação do fenômeno literário no seu estado, no Brasil e no mundo. Quais os autores que mais o influenciaram? Cite alguns poetas e/ou escritores pelos quais você tem admiração.
- RESPOSTA: ... Como falei inicialmente, sou basicamente um leitor, leio muito. Leio todos os dias e, normalmente, leio vários livros ao mesmo tempo. Sempre estou lendo alguma coisa de poesia, mas também de prosa (literatura/história). No momento, para exemplificar, estou num processo de leitura da Prosa completa da Hilda Hilst, comecei em 2021, estou iniciando a leitura do segundo volume. Estou relendo toda a obra do Mário Quintana, em um volume de quase mil páginas, que traz toda a produção do poeta gaúcho. Leio, ainda, Os Senhores do litoral, do Mário Maestri; uma tese sobre a apropriação pelo tradicionalismo gaúcho da obra de João Simões Lopes Neto; A Sabedoria dos Mitos Gregos, Luc Ferry; A Alma Encantadora das Ruas, João do Rio.
Participo de dois grupos de leitura em minha Cidade, e nestes grupos temos lido bastante contos, assim, nos últimos dois anos li bastante este gênero.
Não sei exatamente se posso falar em influência, acho isso um pouco ousado, mas de fato, têm muitos escritores que leio desde sempre e são importantes para minha formação como leitor e escritor. Dos brasileiros – Mário Quintana, Paulo Leminski, Manoel Bandeira, Drummond, Cecília Meireles, Hilda Hilst, Orides Fontella (uma descoberta tardia), Olga Savary e, de forma geral, os poetas da geração mimeógrafo (1970). Na prosa, Machado de Assis e Érico Veríssimo, são os principais, mais li quase tudo, poderia destacar, Lima Barreto, João Guimarães Rosa, Clarice Lispector. Dos escritores estrangeiros poderia citar Pablo Neruda, passei nos anos 1980 lento Neruda; Fernando Pessoa, Vladimir Maiakovisk, Edgar Allan Poe, Virginia Woolf, Guy de Maupassant, Gabriel Garcia Marques, Júlio Cortázar, Horácio Quiroga, Silvina Ocampo, Anton Tchekhov, Nicolai Gogol, Ítalo Calvino, Franz Kafka, Albert Camus, Hermann Hesse.
08- Hoje em dia, com as facilidades do mundo moderno, cheio de mil e sempre mais uma opção (ou “opções”), ainda há espaço para a poesia, diante da variedade de coisas, muitas delas de qualidade duvidosa, oferecidas diariamente para as pessoas? Qual é o sentido de escrever poesia hoje, numa sociedade regida pela mídia e pelo mercado? Dá para acreditar em alguma coisa hoje? Alguma utopia?
- RESPOSTA: ... Entendo que a escrita de poesia, ao menos no meu caso, escapa desses apelos midiáticos e comerciais, tenho sérias dificuldades de vender poesia, e, sinceramente, não escrevo para isso. Claro que todo mundo gostaria de ser lido, porém, a motivação para a escrita não vem de fora, é basicamente uma necessidade, um exercício diário de catarse. As utopias ficaram distantes, e parecem continuar a tomar distância, a cada dia o homem parece se embrutecer mais, o acesso à tecnologia e ao conhecimento não tem sido capaz de libertar as pessoas, pelo contrário, a ignorância e a intolerância parecem grassar solertes nos dias de hoje.
09- Existe algum poema, frase ou pensamento que sempre o acompanhou ou o acompanha por toda a vida? Qual ou quais?
- RESPOSTA: ...
Talvez o poema que mais tenha marcado, que mais tenha influenciado minha vida é um pequeno poema de Pablo Neruda.
“Se cada dia cai,
dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.
Há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência.”
10- Como tem sido o interesse por suas obras já publicadas, se já as tem? Os leitores têm procurado muito por elas? Quem são as pessoas que a(s) procuram? Vale a pena lutar pela cultura e literatura, especialmente a poesia?
- RESPOSTA: ...
Tenho três livros individuais publicados, os dois primeiros foram feitos com recurso próprios e não vendi nenhum exemplar, dei todos. O primeiro é de 2008, “Sentimentos Indecifráveis”, feito aqui em Palmeira das Missões mesmo, na gráfica Ingrapal; o segundo é “Meia-lua”, de 2018, pela editora Viseu. Agora em 2022 saiu o terceiro livro, “A parte obscura”, pelo Grupo Editorial Caravana, de Minas Gerais. Foi o primeiro que não precisei financiar, mandei os originais para a editora e eles gostaram. Deste vendemos alguns exemplares, no processo de pré-venda, em parceria com a editora.
Percebo que nos últimos anos a público leitor de poesia aumentou, em que pese ainda ser muito restrito. No meu caso, meus leitores são amigos e conhecidos, nunca consegui atingir um público fora desta ‘bolha’, salvo exceções raras.
11- Qual(is) você considera que seja(m) o(s) seu(s) melhor(es) poema(s)? Cite um trecho dele(s).
- RESPOSTA: ...
Gosto particularmente das poesias pequenas, das quadrinhas e dos tercetos, onde acho que consigo resolver melhor o texto. Tenho dificuldade de selecionar poemas, tanto que dificilmente participo de coletâneas e concursos. Nunca sei qual escolher para mostrar, para publicar. Mas vou tentar deixar alguns aqui.
. a trote
segura o trote
demora diante dos olhos
o mote
. haicai
longa, a sombra
atravessa a alameda –
cai rubra, a tarde
. quadrinhas
pelas frestas
anuncia-se o dia
sabiá faz festa
na sua sofia
seríamos todos
e cada um
tanto denodo
para ser nenhum
12- O que você acha da utilização da internet e de outros meios ditos modernos para a divulgação de obras e autores? O livro corre algum perigo de extinção?
- RESPOSTA: ...
Acho fundamental, sou um exemplo disso, não fosse a internet ninguém conheceria minha escrita. Mas não vejo risco de extinção do livro físico, pelo contrário, percebe-se, nos últimos anos, uma retomada do livro físico. E, efetivamente, não há nada melhor que o livro físico.
13- Você tem participação em concursos literários? Como a poesia marca seu dia a dia e sua vida? E quais as dificuldades enfrentadas por um escritor poeta para publicar sua(s) obra(s)?
- RESPOSTA: ... Não costumo participar de concurso literários, como disse tenho dificuldade para definir qual ou quais poemas levar ao escrutínio de um concurso. Participei e participo de algumas antologia e coletâneas, bem como, se algumas revistas literárias.
As dificuldades para publicar são econômicas, com dinheiro é fácil publicar, claro que isso não garante a leitura da obra, que vai precisar de um trabalho de mídia tanto da editora como do próprio autor – coisa que para mim é muito complicado, além de tímido, não domino os recursos da mídia, o que dificulta sobremaneira a divulgação do que escrevo.
14- Parece que as pessoas, comumente, não veem da melhor forma possível o “novo” nas artes em geral. Por que isso acontece? Qual a sua opinião sobre a inovação na poesia e nas artes? Há perigos na busca constante por inovação? Você acha que essa tendência se acentuou nos últimos anos?
- RESPOSTA: ... Sinceramente não vejo nada muito novo, ou muito diferente. Acho que desde o concretismo não temos um novo desafio e a poesia, de forma geral, caiu numa realidade que pouca novidade apresenta, tanto na forma como no conteúdo. Claro que se procuramos com cuidado vamos encontrar algumas experiências inovadoras na literatura, mas vejo que as maiores mudanças as propostas mais ousadas, como a prosa da Hilda Hilst por exemplo, já estão há bastante tempo por aí.
15- Qual o tipo de público que mais aprecia as suas obras? Há interesse das novas gerações pela literatura e cultura, especialmente pela poesia?
- RESPOSTA: ... O meu público é muito restrito, alguns amigos e amigas e, esporadicamente, algum interessado que tem contato através do Recanto, do Facebook ou do Instagram.
Sou um pouco pessimista quanto ao público leitor, tenho convivido, por exemplo, com professores, e vejo que mesmo entre estes são poucos os leitores rotineiros, talvez devêssemos criar políticas públicas voltadas para a divulgação da literatura e o incentivo à leitura, especialmente para os professores e professoras.
16- Qual é o seu olhar sobre a arte (contemporânea)? Como você vê a situação atual da literatura no seu estado? E no Brasil? Existe apoio de algum tipo ou mesmo incentivo para a produção cultural, literária e, especialmente, de poesia?
- RESPOSTA: ...
O maior problema é a escola que deixou de incentivar a leitura. Literatura, ao menos aqui no RS, é muito pouco contemplada em sala de aula, e sempre voltada para o vestibular, sem que se consiga incentivar verdadeiramente a leitura e a formação dos leitores.
O incentivo tem se resumido à realização de feiras do livro e alguns concursos esparsos de escrita.
17- Que conselhos você daria para quem está iniciando na área da literatura e, especialmente, de poesia?
- RESPOSTA: ... Não sei exatamente que conselho dar, mas acho que o escritor não pode se preocupar muito com o que os outros pensam, o mais importante é se instrumentalizar, ler e estudar o mais possível, que a escrita vem ao natural.
- Agora, "jogo rápido" para as perguntas/respostas seguintes:
18- O que te faz feliz?
RESPOSTA: ... Uma boa leitura.
19- Um momento que definiu sua vida?
RESPOSTA: ... Definir minha profissão (advogado), não que tenha sido a melhor coisa do mundo, mas foi a mais importante.
20- Qual a sua maior qualidade?
RESPOSTA: ... Humildade
21- E seu maior defeito?
RESPOSTA: ... Preguiça
22- Quem te inspira?
RESPOSTA: ... A vida, as mulheres, a natureza, a filosofia.
23- Melhor conselho que já deu?
RESPOSTA: ... Espere...
24- Do que você tem orgulho?
RESPOSTA: ... dos filhos – tenho quatro filhos: Ícaro, Martim, Ana Clara e Théo
25- Tipo de gente que você tem dificuldade de conviver?
RESPOSTA: ... com a maioria, no mais das vezes, acho que o problema sou eu – mas não tenho nenhum tipo especial de pessoa que eu evito – mas, honestamente, gosto mais da solidão do que das pessoas.
26- Qual a melhor década? E por quê?
RESPOSTA: ... 1980 – anos 80 foram anos de muita descoberta, da literatura ao amor, passando pela política estudantil e a formação profissional.
27- O melhor dos anos 80?
RESPOSTA: ... Um amor inesquecível
28- E o melhor dos anos 90?
RESPOSTA: ... os dois primeiros filhos, Ícaro e Martim (1993/1997)
29- Um sonho?
RESPOSTA: ... conseguir não trabalhar...
30- Qual a característica mais importante em uma mulher?
RESPOSTA: ... Independência
31- E em um homem?
RESPOSTA: ... Compreensão
32- O que mais aprecia em seus amigos?
RESPOSTA: ... discrição...
33- O que seria a maior das tragédias?
RESPOSTA: ... continuar o governo fascista dos últimos quatro anos...
34- Maior conquista como profissional?
RESPOSTA: ... reconhecimento como advogado criminalista, especialmente na atuação perante o Tribunal do Júri.
35- Ideia de felicidade:
RESPOSTA: ... Uma casa no campo, para juntar os livros, e nada mais.
36- Maior conquista até agora?
RESPOSTA: ... reconhecimento como advogado
37- Qual o defeito mais fácil de perdoar?
RESPOSTA: ... o esquecimento...
38- E a maior das qualidades?
RESPOSTA: ... prudência.
39- O que é sagrado para você?
RESPOSTA: ... os filhos.
40- Quais são seus filmes preferidos?
RESPOSTA: ... Gosto de filmes do velho Oeste americano (bang-bang)
41- Indique 5 (ou mais) livros de que você gostou bastante.
RESPOSTA: ... Meu tio Atahualpa, Paulo de Carvalho Neto; Morangos Mofados, Caio Fernando Abreu; Enterrem meu coração na curva do rio, Dee Brow; Apanhador no campo de centeio, J. D. Salinger; Demian, Hermann Hesse.
42- O que lhe tira do sério?
RESPOSTA: ... Visita fora de hora ou sem avisar
43- O que não entra em sua casa?
RESPOSTA: ... música sertaneja universitária
44- Segredo para o sucesso profissional?
RESPOSTA: ... como disse sou advogado, milito na área criminal, há alguns anos era mais atuante e dedicado, nos últimos anos ando um pouco cansado com a profissão.
45- Quem você gostaria de ser se não fosse você mesmo?
RESPOSTA: ... um pescador.
46- Que superpoder gostaria de ter?
RESPOSTA: ... teletransporte
47- Indique um (ou uns - 5 – ou mais) livros que você leu RECENTEMENTE e gostou muito e 3 que você gostaria de ler ou ainda pretende ler.
RESPOSTA: ... Os que li recentemente: Adélia Prado, Poesia Reunida; Orides Fontela, Poesia Completa; Cacaso, Poesia Completa; Francisco Lobo da Costa, Auras do Sul; A teus pés, Ana Cristina Cesar.
Pretensões: Poesia completa de Carlos Drummond de Andrade e de Manoel Bandeira; Contos completos, Clarice Lispector (este já está comprado)
48- O que acha do pensamento do poeta, escritor e jornalista egípcio Salamah Mussa, de que "Não é a beleza o objetivo da literatura e sim a humanidade"?
RESPOSTA: ... Acho que é mesmo, ou deveria ser, a humanidade, não apenas o objetivo da poesia, mas das artes todas. Porém a beleza, a forma, a estética, é intrínseca a qualquer manifestação artística, especialmente na poesia, onde a apresentação é tão importante quanto a palavra (conteúdo).
49- O que diz sobre a expressão de Paul Valéry, “O objetivo profundo do artista é dar mais do que aquilo que tem”?
RESPOSTA: ... Acho um ideal. Porém, é extremamente difícil conseguir exprimir tudo o que se tem para exprimir.
50- Concorda (ou não), numa perspectiva geral, visto que um dos autores da frase (o filósofo existencialista Jean-Paul Sartre) também foi literato (engajado), que “A existência precede a essência”? O que se pode depreender disso, (extra)ir às máximas implicações e/ou consequências disso para a literatura e poesia? Qual (ou quais) o(s) seu(s) "mote"(s)/pensamento(s) preferido(s)? E o que pensa sobre literatura (especialmente poesia) engajada?
RESPOSTA: ... Concordo. Somos o que acumulamos durante nossa existência. Acho, inclusive, que estamos, sempre, incompletos. Durante uma fase da minha vida, logo que saí da faculdade, li muito os existencialistas, particularmente Sartre e Camus, e acho que fui bastante influenciado por eles, não tanto na literatura, mas em como levar a vida. Uma certa amargura, um certo descontentamento permanente, a solidão, o desamparo, trago deste tempo.
Sobre poesia engajada, não tenho nada contra, mas não consigo escrever, embora, de quando em vez, tente. Como disse, uma das minhas leituras iniciais foi Pablo Neruda, em que pese achar ele um poeta essencialmente lírico, ele tem muita poesia engajada – Canto Geral, é um livro todo engajado.
51- Qual(is) você considera que seja(m) a(s) sua(s) maior(es) qualidade(s) como escritor/poeta?
RESPOSTA: ... O poder de síntese, a possibilidade de fazer uma poesia enxuta.
52- Para finalizar, expresse algo que deseja tornar público e que ainda não tenha sido mencionado anteriormente ou que você queira destacar. Palavra aberta, à vontade.
RESPOSTA: ...
Fiquei muito contente com o convite, são sempre tão raras essas oportunidades, falar de poesia, de literatura. Minha escrita é basicamente um exercício, e gostaria de ter mais recursos técnicos, conhecer melhor a língua portuguesa, conhecer outras línguas, para quem sabe conseguir produzir uma literatura melhor. De qualquer sorte, agradeço de coração.
Grato pela sua gentileza, prezado Poeta Vila, de sua generosa entrevista para (ser publicada n) o Recanto das Letras