ANTECEDENTES DO MOVIMENTO CÍVICO-MILITAR DE 31 DE MARÇO DE 1964

ANTECEDENTES DO MOVIMENTO CÍVICO-MILITAR DE 31 DE MARÇO DE 1964 

Félix Maier

Muitos dos entrevistados na obra "HISTÓRIA ORAL DO EXÉRCITO - 31 MARÇO 1964", editado pela Bibliex em 2003, voltam aos tempos da Proclamação da República, golpe desferido pelo Exército contra a Monarquia por militares doutrinados na filosofia do Positivismo de Augusto Comte, lembrando sua ideologia autoritária, que levou a muitas quarteladas durante quase um século, e que, inicialmente, pensavam que o Movimento de 1964 fosse mais uma dessas quarteladas passageiras, logo retornando o poder aos civis.

Outros entrevistados voltam à década de 1920, afirmando ser o Tenentismo (Revolta dos 18 do Forte, Coluna Miguel Costa-Prestes, Revolução de 1930) um dos motivos longínquos que redundou no Movimento de 1964, por ser um movimento político-militar que criticava a corrupção e o atraso sócio-econômico do Brasil, ao mesmo tempo em que pregava um desenvolvimento industrial rápido para o País. Estes analistas afirmam que a força remanescente ou pelo menos o espírito dos “Jovens Turcos” de outrora prevaleceu no sentido de o Movimento de 1964 se prolongar por 21 anos. Ou seja, venceu a turma dos “costistas” (Costa e Silva) – incluindo o presidente Médici, que queria aproveitar o Movimento para desenvolver econômica e socialmente o Brasil - sobre a turma dos “castelistas” (Castello Branco) – esses querendo devolver o poder logo aos civis, após a arrumação da ordem pública.

Diz Geisel no livro “Ernesto Geisel”, publicado pela Editora Fundação Getúlio Vargas, 5ª. Edição, 1998, à pg. 166:

“Lembro-me também de um fato, que nunca vi publicado, ocorrido um ou dois dias depois da revolução: houve uma reunião no gabinete do Costa e Silva e outros generais à qual compareci com Castello. Lá estavam Costa e Silva e outros generais, entre eles Peri Beviláqua, que aderiu à Revolução mas era muito ligado à esquerda. Costa e Silva, falando sobre a revolução, declarou: ‘Nossa revolução não vai se limitar a botar o Jango para fora! Temos que remontar aos ideais das revoluções de 22, de 24 e de 30!’ Ele queria fazer uma revolução mais profunda. Ficaram todos em silêncio”.

“Sobre a Revolução de 31 de Março de 1964, podemos listar causas tanto remotas quanto imediatas. As remotas retrocedem à década de 1920, quando irromperam os primeiros movimentos revolucionários militares, conduzidos por jovens oficiais idealistas, que não se conformavam com a situação de subdesenvolvimento do País. Achavam que o Exército – a maioria era do Exército – deveria fazer algo para mudar aquele panorama, caracterizado pela ‘política do café-com-leite’, que vigorava na época, a qual mantinha no Poder algumas oligarquias que nada faziam para conduzir o País, apesar de toda a sua potencialidade, ao nível de desenvolvimento das grandes nações do mundo, o que aqueles idealistas pretendiam.

Esses movimentos ficaram bem marcados pelo episódio heroico dos ’18 do Forte’, em 1922, tendo à frente o Capitão Siqueira Campos, e depois pela coluna revolucionária que percorreu o País, entre 1924 e 1926, erroneamente chamada de Coluna Prestes, pois ele era apenas um dos seus integrantes. Esses movimentos acabaram redundando na Revolução de 1930, cujos participantes acreditavam que iria redimir o País dos seus problemas.

Foi justamente nessa época, em que predominava tal pensamento em grande parte da oficialidade do Exército, sobretudo entre os oficiais jovens, que ingressou nas Forças Armadas a maior parte dos homens que fizeram a Revolução de 1964.

Então, imbuídos dos mesmos ideais daqueles jovens de 1922 – reformar o Brasil, alçá-lo rapidamente a uma posição de relevo mundial, acabar com o subdesenvolvimento – criou-se entre os oficiais do Exército uma corrente que pretendia lutar para alcançá-los. Dela originou-se o movimento de deposição de Getúlio Vargas e, depois, no segundo mandato de Getúlio, o movimento da Cruzada Democrática contra os comunistas, o Memorial dos Coronéis e o inquérito do Galeão, este determinante da queda e do suicídio do Presidente Vargas.

Essa corrente, que em 1930 imaginou poder atingir seus objetivos, foi traída por Getúlio, mais caudilho do que idealista. Novamente frustrou-se diante do comportamento do Marechal Lott (Henrique Baptista Duffles Teiseira Lott), em 1955, que afastou aqueles idealistas das posições onde poderiam fazer algo pelo qual almejavam. Mais tarde, no Governo João Goulart, passaram a conspirar no sentido de dar um basta ao caos que se implantava no País.

Esses homens, e outros que em face da situação a eles aderiram, foram os que fizeram a Revolução de 1964. Eis a razão por que fui buscar as causas remotas da Revolução de 1964 no idealismo que veio desde 1922, na corrente que se formou durante 40 anos, dentro do Exército, de homens que queriam fazer pelo Brasil mais do que simplesmente exercer as funções militares – queriam também mudar o País, a sua mentalidade política e transformá-lo numa potência” (Contra-Almirante Luiz Pragana da Frota, Tomo 14, pg 168-169).

PARA OS ENTREVISTADOS, OS ANTECEDENTES MEDIATOS OU INDIRETOS E IMEDIATOS OU DIRETOS DO MOVIMENTO DE 1964 FORAM:

http://felixmaier1950.blogspot.com/2021/03/31-de-marco-de-1964-antecedentes.html

Extraído da "História Oral do Exército - 31 Março 1964"

MOTTA, Aricildes de Moraes (Coordenador Geral). História Oral do Exército - 1964 - 31 de Março - O Movimento Revolucionário e sua História. Tomos 1 a 15. Bibliex, Rio, 2003

LEIA TAMBÉM:

"MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964"

http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/09/memorial-31-de-marco-de-1964-textos.html

"HISTÓRIA ORAL DO EXÉRCITO - 31 MARÇO 1964"

http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/09/historia-oral-do-exercito-31-de-marco.html