Aldo Bizzocchi - Um defensor do conhecimento
Opinando e Transformando
Aldo Bizzocchi é doutor em linguística pela USP com pós-doutorados pela USP e UERJ e pesquisador do NEHiLP-USP – Núcleo de Pesquisa em Etimologia e História da Língua Portuguesa da Universidade de São Paulo (www.nehilp.prp.usp.br). É autor dos livros "Léxico e ideologia na Europa ocidental" (Editora Annablume) e "Anatomia da cultura" (Editora Palas Athena). Entre 2006 e 2015, foi colunista da extinta revista "Língua Portuguesa" (Editora Segmento). Atualmente mantém o blog "Diário de um Linguista" (www.diariodeumlinguista.com) e o canal do YouTube "Planeta Língua" (www.youtube.com/c/PlanetaLíngua).
Em sua opinião, o que é cultura de paz?
Para mim, cultura de paz é uma forma de ética social que pressupõe a compreensão, a solidariedade, a tolerância e a comunicação não violenta. Baseia-se nos princípios da empatia e do bem comum.
Como podemos difundir de forma coerente a paz neste vasto campo de transformação mental, intelectual e filosófica?
Penso que o exemplo ainda é a melhor maneira de mostrarmos ao mundo como ele deveria ser. Se cada um fizer a sua parte, todos sairão ganhando. Nesse sentido, acho importante que as pessoas que defendem bons ideais se unam em comunidades, mesmo que sejam virtuais, pois a união faz a força. Vejo, por exemplo, o veganismo crescendo como movimento. Se há 30 anos ninguém falava sobre isso, hoje cada vez mais pessoas aderem a uma alimentação livre de produtos de origem animal. Essas mudanças acontecem aos poucos, mas acontecem. Então não adianta esperar que grandes líderes políticos façam a mudança, pois eles não farão. Somos nós que temos de mudar.
Como você descreve a cultura de paz e sua influência ao longo da formação da sociedade brasileira/humanidade?
Durante séculos, vivemos uma cultura de guerra, em que valores como a bravura no campo de batalha era vista como uma virtude. Foi depois da catástrofe planetária que foi a Segunda Guerra Mundial que se passou a falar em cultura de paz. Sobretudo a atitude de não violência inaugurada por Gandhi marcou um divisor de águas nesse aspecto. No caso específico do Brasil, sempre disseram que o brasileiro é naturalmente pacifista, afinal participamos de pouquíssimas guerras, e nenhuma foi no nosso território. No entanto, o Brasil, a meu ver, está longe de ser uma nação pacífica, isto é, sem conflitos. Mas esse mito do brasileiro boa-praça cai por terra em face do mar de sangue em que vivemos.
A cultura, a educação liberta ou aprisiona os indivíduos?
Para mim, o conhecimento é sempre libertador, pois só pode fazer verdadeiramente escolhas aquele que conhece todas as opções. O indivíduo ignorante é sempre um indivíduo subjugado. Talvez seja justamente por isso que as elites oligárquicas que governam nosso país há séculos falem muito na importância da educação e da cultura, mas pouco ou nada façam para a sua promoção.
Comente sobre o espaço digital, destacando sua importância na difusão do despertar da humanidade.
Toda tecnologia, desde a pedra lascada até a internet e o celular, pode ser usada para o bem e para o mal. Nesse sentido, as redes sociais e os sites em geral têm um importante papel na difusão de conhecimento e valores éticos, mas também é um canal através do qual as pessoas destilam o seu ódio contra os outros de maneira gratuita e inconsequente e chegam mesmo a disseminar discursos de ódio e preconceito confiantes no anonimato e na impunidade. Infelizmente, acho que estamos perdendo uma ótima oportunidade de utilizar esses meios para propagar a paz, a harmonia e o conhecimento. Em vez disso, perdemos um tempo precioso nos odiando uns aos outros.
Qual mensagem você deixa para a humanidade?
Não tenho a pretensão de deixar uma mensagem à humanidade até porque não acredito que ela mudará de atitude por causa do que dissermos ou deixarmos de dizer. O que eu posso deixar aqui é um alerta de que todos somos responsáveis pelos nossos atos. Depende das próprias pessoas e de suas atitudes determinar se a humanidade terá um futuro ou não. Seja a cultura de paz, seja a preservação do meio ambiente, a preservação da democracia, a justiça social, tudo depende de nós. Enquanto as pessoas se interessarem mais pelas fofocas do Big Brother Brasil do que pela política, pela ecologia, enfim, pelo outro, não creio que teremos grandes mudanças.