Entrevista com a autora Ana Isabel Correia Acto

Entrevista

ICE- O que é para si a poesia? E o que é para si um poeta?

Ana Isabel Correia Acto- É comum dizer-se que a poesia são estados de alma, e para mim são mesmo.

Mas não só… A poesia é o doce de um bolo, o aroma de uma flor, o olhar mudo, mas que nos fala. Para mim a poesia é o belo, é o captar e eternizar de tudo que é a essência, o maravilhoso, e nos sentimentos a força, a rudeza, a sensibilidade…

E desperta-nos, a nós, que a escrevemos e aos que a leem, a ver muito mais além do que se nos apresenta, e por vezes a resgatar dentro de nós emoções adormecidas.

Todos os poetas têm um pouco de loucos, visionários, sonhadores. Veem o mundo através de um véu, sentem tudo na sua essência… Apenas um poeta consegue descrever o horror e o tornar belo, apenas o poeta consegue nos levar cegos, a ver um pôr do sol, ou a sentir o fresco da relva sob os pés. Como dizia Florbela Espanca “Ser poeta é ser mais alto, é ser maior que os homens…” e assim o creio, é transcender tudo o que é.

ICE-Como foi o seu primeiro contacto com a poesia?

Ana Isabel Correia Acto- Não recordo especificamente um primeiro contato.

Lembro de me oferecerem o livro em branco e de escrever nele, e há pouco tempo o ter reencontrado e perceber que o que escrevi, ou melhor transcrevi, eram poemas e reflexões que lia e guardava. Recordo na adolescência entrar em livrarias e dirigir-me à zona da poesia e abrir aleatoriamente livros, e quando me emocionava com algum poema, era esse o livro escolhido, mesmo sem conhecer o nome do autor. Longe estava de imaginar que um dia seria eu autora de um livro de poesia.

ICE-Escreve apenas poesia ou também tem interesse por outro género literário?

Ana Isabel Correia Acto- Inicialmente comecei por escrever frases fortes, inspiradoras, sentimentais.

Mas com a evolução comecei a entrar na prosa poética, e claro na poesia. E o ser convidada a participar em obras colectivas foi sem dúvida o factor impulsionador.

ICE-Prefere escrever quando está sozinho ou a vida que o/a rodeia é também a sua inspiração?

Ana Isabel Correia Acto- Sem dúvida que as vidas que nos rodeiam, são motivos de inspiração. Como há dias escrevi: “Alguém me dizia outro dia, que nem tudo é poesia. Verdade, nem tudo é... Mas aos que a sentem, em tudo a veem.”

E assim sou eu, uma boa parte do que escrevo é autobiográfico, mas a outra parte é sobre tudo e todos que me rodeiam. Sendo que o transmito sempre pelo modo como sinto e vejo essas vivências. Posto assim, tudo que escrevo, sou eu e o mundo comigo.

ICE-A que autor(es) escreveria um poema em agradecimento ou homenagem pela inspiração que lhe transmitiu?

Ana Isabel Correia Acto- Para ser sincera, não posso dizer que me sinta inspirada por um poeta em particular. Como referi, divago por entre livros. Mas escolheria talvez a Florbela Espanca, me identifico muito na minha escrita pela sua melancolia, inclusive a mencionei por isso mesmo em um poema meu, seria ela, sem dúvida.

ICE-Alguma vez quis ou sentiu a necessidade de frequentar um curso de escrita criativa?

Ana Isabel Correia Acto- Quando me iniciei na escrita nas redes sociais, senti que se queria ampliar o meu caminho precisava de fazer algo mais, embora já nessa altura tivesse milhares de seguidores, o que mostrava já que tinha o meu próprio estilo e método, e que quem me lia gostava. Mesmo assim vi um curso de escrita criativa e me inscrevi, e o curioso, e que me deixou estarrecida, foi quando cheguei, a formadora, antes

de dizer o meu nome aos restantes inscritos (meia dúzia talvez) disse que eu estava ali, mas nem precisava, pois tinha um jeito muito meu de escrever, e um dos alunos reconheceu-me, pois já me seguia. Claro que fiquei emocionada e grata pelo apreço, mas estava ali porque sentia precisar de mais, tal como hoje sinto igualmente, precisar de desenvolver a minha escrita.

ICE- Gosta mais de livros físicos ou os livros digitais (e-books)?

Ana Isabel Correia Acto- Sem qualquer dúvida aqui respondo, gosto muito mais de livros físicos. De sentir o livro em minhas mãos, o seu cheiro, de o poder transportar livre comigo. Embora assuma que cada vez mais os e-books vão ganhando força, mesmo por questões de logística.

ICE-Quando começa a escrever, já sabe como vai terminar o seu poema? Ou vai criando à medida que escreve?

Ana Isabel Correia Acto- Tenho momentos. Na maioria dos meus poemas passo uma mensagem, a maioria descreve uma determinada emoção ou situação que vivenciamos numa relação, daí saber o que quero transmitir, o modo como o faço, me vai saindo conforme a descrevo. Noutros, me desafio a escrever sobre algo, pego num tema, escrevo a primeira linha e deixo fluir, com finais inesperados muitas vezes confesso, a inspiração leva-me por caminhos impensáveis.

ICE-Quais são os seus autores preferidos (nacionais ou estrangeiros)?

Ana Isabel Correia Acto- Como referi há pouco, não tenho especificamente preferidos.

Mas me identifico com Florbela Espanca, me emociono ao ler Pablo Neruda, admiro a visão de Clarice Lispector e a profundidade de Sophia de Mello Breyner Andresen.

ICE- Tem alguma obra publicada ou que gostasse de vir a publicar? Quer falar-nos desses projetos?

Ana Isabel Correia Acto- Lancei em 2020, o meu primeiro livro de poesia que se intitula "NUA".

O nome é uma metáfora clara à minha expressão poética. Porque neste livro me "despi" em palavras, mostrei como sinto e vivo as minhas emoções. Nele escrevi amor em todas as suas vertentes, esperança, perda, melancolia, vida, sensualidade e erotismo. Assim sou eu, assim somos todos, um pouco de tudo, e nele foi isso que escrevi, poesia sentimental e profunda que nos leva a confrontar o que tantas vezes recalcamos. Outros projectos? Por agora vou continuando a partilhar a minha escrita, sou colunista em revistas virtuais, e vou participando como co-autora noutros projectos. E quem sabe, preparando o próximo livro...