Entrevista com a autora Cátia da Mata

Entrevista

ICE- O que é para si a poesia? E o que é para si um poeta?

Cátia da Mata- A poesia é magia. Não aquela magia com truques e segredos, que no fim não passa de treino e perspicácia para impressionar o seu público. É sim uma magia diferente, cheia de verdade, sem truques, perícia ou impressionismo. É magia pura. É o grito da alma em constante movimento. E a alma ninguém pode esconder. Ser poeta é isso. Mostrar a sua alma, sem segredos.

ICE-Como foi o seu primeiro contacto com a poesia?

Cátia da Mata- Desde muito tenra idade que tenho apreço pela leitura e escrita. Quando descobri que as palavras eram muitos mais do que a palavra profere, entreguei-me de corpo e alma ao desenho delas. Um desenho tão bonito como a luz da lua.

ICE-Escreve apenas poesia ou também tem interesse por outro género literário?

Cátia da Mata- Quando escrevo não olho ao tipo. Escrevo o que me vai na alma e o que for será. Não sigo regras, sigo os sentimentos. Para mim escrever não é um trabalho, nem uma tarefa, é um gosto. E quando fazemos algo com gosto, mesmo que existam regras, cumprimo-las sem dar por elas, porque o rigor caminha de mãos dadas com o gosto, tornando o rigor mais amortecido.

ICE-Prefere escrever quando está sozinho ou a vida que o/a rodeia é também a sua inspiração?

Cátia da Mata- Costumo dizer que a inspiração não avisa quando chega. Por isso, em qualquer circunstância podemos falar com a alma. Na presença de pessoas, ou na ausência delas. Na verdade, a vida, nunca se ausenta.

ICE-A que autor(es) escreveria um poema em agradecimento ou homenagem pela inspiração que lhe transmitiu?

Cátia da Mata- Afonso Reis Cabral, José Saramago (um texto para o céu), Pedro Freitas, entre tantos, alguns americanos, ainda que não troque a língua portuguesa por nada deste mundo, temos a língua mais complexamente bela.

ICE-Alguma vez quis ou sentiu a necessidade de frequentar um curso de escrita criativa?

Cátia da Mata- Já, mas acho que como escrevo há tantos anos e agora com tanta frequência, que eu mesma pratico uma aprendizagem a cada dia. Contudo, gostaria imenso. O saber nunca é demais.

ICE- Gosta mais de livros físicos ou os livros digitais (e-books)?

Cátia da Mata- Vou ter de confessar que folhear as páginas de um livro é um gosto enorme. O toque, o cheiro, a possibilidade de ter uma caneta à mão para marcar as frases que nos encantam...

Porém, estamos numa era digital e temos que se adaptar a opções sustentáveis.

ICE-Quando começa a escrever, já sabe como vai terminar o seu poema? Ou vai criando à medida que escreve?

Cátia da Mata- Não, de todo. Nunca escrevo com um pensamento completamente delineado. O máximo que faço é pensar sobre o que vou escrever e depois flui. Outra vezes nem penso no que vou escrever, vou criando e depois sai o resultado. Como disse não gosto de seguir regras. Gosto de escrever sem opressões nem deveres.

ICE-Quais são os seus autores preferidos (nacionais ou estrangeiros)?

Cátia da Mata- Afonso Reis Cabral, Pedro Freitas, Lesley Pearse (…), e outros seres emocionalmente concebidos para falar com a alma.

ICE- Tem alguma obra publicada ou que gostasse de vir a publicar? Quer falar-nos desses projetos?

Cátia da Mata- Não tenho, gostava imenso. Já mandei trabalhos para editoras, foram aprovados, mas o valor pedido para publicação era excessivo. Tenho, no entanto, projetos de lançamento em e-books. O instituto Cultural de Évora possibilita a autores publicarem as suas obras em formato digital de forma gratuita e eu candidatei-me. Quero desde já agradecer esta possibilidade, porque são poucas as entidades que pensam mais além e que dão importância a quem muitas vezes não pode, pelas mais diversas circunstâncias, estar debaixo dos holofotes, mas que pode ter talento para tal.