Entrevista com o filósofo amador Nelson Figueira
Entrevista
O blog 'amadorismo filosófico' entrevistou o filósofo amador Nelson Figueira. Eis como foi a conversa.
Amadorismo Filosófico - Nelson Figueira, é uma alegria receber você aqui para essa simples e rápida entrevista.
Nelson Figueira - Eu é que estou muito alegre com o convite e com a oportunidade. Espero que seja a primeira de muitas (risos).
AF - Vamos do começo. Como se deu seu relacionamento com a filosofia? Você sempre gostou ou teve um click em algum momento da sua vida?
NF - Não sei se eu tive esse toque especial na minha relação com a filosofia, por assim dizer. O que posso dizer, de maneira resumida, é que eu sempre gostei muito de pensar na ideia de estudar filosofia, mas nunca de fato o fiz, até agora. Eu achava, e sempre achei, muito chique poder dizer que quando estudei em São Paulo, nos idos anos 2000, eu tive aula de filosofia. Ou quando cheguei no interior, em meados de 2002, e que não tinha e que aquilo foi uma decepção. Lembro-me de ter emprestado um livro de filosofia nessa época, eu tinha uns 18 anos de idade, era um livro de introdução à filosofia e uma das primeira lições que recebi daquele livro foi: o trabalho dignifica o homem, e nunca mais me esqueci daquilo. Aquilo realmente me fez pensar. Mas eu sempre fui muito negligente com as coisas que queria aprender. Não vou mentir: eu sempre me achei demais. Sempre me achei inteligente, interessante, sempre considerei o fato de aprender com facilidade um grande atributo e me escondi atrás disso durante muito tempo. Eu parei no tempo. Deixei a vida seguir e fiz pouco, ou nada, para realmente evoluir enquanto pessoa. Estudei uma coisa aqui e ali, mas sempre levando de qualquer jeito. Sempre fazendo o mínimo que era necessário, e se você sempre faz o mínimo que é necessário, você nunca será um bom aprendiz, apenas alguém que entende um conceito ou outro, mas nunca alguém que realmente domina algum assunto. Então, eu sempre gostei, mas nunca tive coragem de realmente mergulhar no assunto até agora. Não houve o click por assim dizer. É algo que me acompanha desde sempre, mas que estava adormecido. Tentando acordar faz tempo, e que, agora, e ainda bem!, finalmente acordou.
AF - E como isso aconteceu? Como um gigante adormecido simplesmente acorda? Algum despertador tocou dentro de você? Foi algo perceptível aos sentidos ou não?
NF - As situações que vivemos na vida sempre funcionam, de maneira acentuada ou não, como despertadores de consciência ao longo de nossa existência. Às vezes não percebemos. Às vezes sim. No meu caso, reencontrar alguns amigos da época que eu tinha aulas de filosofia em São Paulo, fez com que eu me interessasse mais pelo assunto. Na realidade, esse reencontro foi meio que um choque, já que, para eles, o interior é um tipo de abatedouro gigante que arrasta multidões para o abate. Tipo como se fôssemos gado facilmente manipulado por um gigante desconhecido, até porque se ele for conhecido será facilmente abatido, então a identidade do gigante manipulador permanece anônima, por assim dizer. E, perceber que eles pensavam isso de mim, de certa forma, foi um choque, teve um impacto ruim sobre mim, mas ao mesmo tempo, e isso é fantástico!, teve esse efeito impulsionador. É como se alguém tivesse me jogado ao alto de um prédio e ao cair lá embaixo, por puro capricho do destino, havia um trampolim posicionado exatamente na posição certa e eu caí em pé e bati os pés no trampolim, que misteriosamente não destruiu minhas pernas nem meu corpo, mas me jogou para o alto e para frente. Após alguns segundos voando pelo ar, aterrissei exatamente no alto de outro prédio, um pouco mais alto que o anterior, e com a palavra F de Filosofia no topo dele. Olhei adiante, depois de me recobrar do susto do empurrão, e ainda sem contemplar a sorte de não ter morrido no processo, e vi mais alguns prédios e cada um com uma letra sobre ele. A soma das letras formam a palavra FILOSOFIA, mas a caminhada será árdua e longa. Mas que bom que cheguei ao alto do prédio da letra F. É um começo.
AF - Interessante. E por onde você começou? Receber um empurrão e perceber que precisa estudar filosofia é bom. Mas, por onde começar?
NF - Começar nunca é fácil. E, nem sempre temos um roteiro para isso. No meu caso, e na época em que estamos vivendo, isso se torna um tanto quanto mais fácil, já que basta entrar no Google e digitar: por onde eu começo a estudar filosofia? Claro que o emaranhado de respostas pode atrapalhar um pouco, mas em geral a resposta de todos será meio que parecida e logo você pega o fio da meada. O que me ajudou muito, antes até mesmo do empurrão, foi ter ouvido algumas palestras do Leandro Karnal, e agora, durante o empurrão ouvir bastante alguns drops do Luiz Felipe Pondé. Sem dúvida, foi por aí também que comecei a encontrar o caminho a seguir. Claro que não tem como estudar filosofia sem ler os clássicos, mas já vou falar sobre isso. Quando eu realmente decidi que queria estudar filosofia de verdade, e isso foi em novembro/dezembro de 2019, fui até minha estante ver o que eu tinha de filosofia de verdade pra ler. Tinha apenas 1 livro: Assim falava Zaratustra, do Nietszche. E eu sei que não é fácil ler esse cara. Mesmo sem entender nada de filosofia eu sabia que não entenderia completamente esse fascinante autor. Detalhe: comprei esse livro num sebo anos atrás, nem me lembro quando, e curiosamente o livro ainda estava na minha estante, sem nunca ter sido lido. Providencial, não? Enfim, comecei a ler o livro e intensifiquei os vídeos e áudios tanto de Karnal quanto de Pondé. Foi aí que decidi que precisava ler alguns livros e que teria de comprá-los. Convenci minha esposa a me autorizar a utilizar o cartão de crédito (risos) e fui para o submarino.com. Depois de algumas simulações e de ter assistido vários vídeos na internet do tipo: "10 livros de filosofia que todo mundo tem que ler", comprei os seguintes títulos: 1) Como aprendi a pensar, Luiz Felipe Pondé (que novidade, né?); 2) Utopia, Thomas More; 3) A República, Platão; 4) Ética à Nicômaco, Aristóteles; 5) O Banquete, Platão; 6) Genealogia da Moral, Nietszche e 7) O mundo de Sofia, não me lembro agora o nome do autor e peço perdão aos leitores dessa brilhante obra e que quase sempre funciona como porta de entrada para a filosofia. Coloquei os livros nessa exata ordem, pois foi exatamente nessa ordem que os li e ainda estou lendo, já que não li todos ainda.
Ah, eu não terminei 'Assim falava Zaratustra', deixarei para ler novamente num tempo mais oportuno (risos).
Continua...