Zé Limeira: o poeta surreal!

Entrevista realizada pela Profa. Ana Paula com o Poeta Jandeilson Fernandes de Moraes em 3.dez.2019

PROFESSORA ANA PAULA: “oi poeta! É uma honra conversar com o coautor do belo livro POESIAS E ALFORRIAS. Jander, você é paraibano – terra de Zé Limeira. O que teria a falar do conterrâneo?”

JANDEILSON: “considero a oportunidade importante com o propósito de ‘defender’ o poeta” (sorriso).

PROFESSORA ANA PAULA: “defender o poeta em que sentido?”

JANDEILSON: “Zé Limeira foi conhecido como ‘poeta do absurdo’. A meu ver, esse gênio não disse absurdo. Sua riqueza é o surrealismo”.

PROFESSORA ANA PAULA: “surrealismo?”

JANDEILSON: “sua poesia se diferenciou pelo surreal. Penso que teria sido mais certeiro com o grande poeta a denominação ‘poeta surreal’. Não estou a criticar ninguém, entenda! Respeito as opiniões em sentido contrário. Por sinal, tiveram sua importância para divulgar o nome de Zé Limeira até hoje! Isso é o que, de fato, importa.”

PROFESSORA ANA PAULA: “claro! Opiniões ora convergentes ora divergentes representam traço civilizatório! Bem, particularmente, percebo que Zé Limeira ‘brincou’ com a ‘prisão’ das métricas e das rimas. Que acha?”

JANDEILSON: “exatamente! Era jocoso seu tom questionador em relação a rimas inúteis. Foi incompreendido.”

PROFESSORA ANA PAULA: “sabe dizer se teria Zé Limeira ficado aborrecido com a denominação ‘poeta do absurdo’?”

JANDEILSON: “não se sabe. O certo é que, em tom pitoresco, gracejou com as absurdas heresias de seu tempo. Ah, que falta faz Zé Limeira hoje!”

PROFESSORA ANA PAULA: “poeta Jandeilson, para quem desconhece Zé Limeira, como conhecê-lo? O que recomendaria?

JANDEILSON: “sugiro que assistam a um documentário intitulado ‘O HOMEM QUE VIU ZÉ LIMEIRA’. Foi produzido pela TV Senado - salvo engano. A pessoa localiza facilmente no YouTube. Inclusive, o saudoso Ariano Suassuna foi entrevistado. Excelente produção. Imperdível.”

PROFESSORA ANA PAULA: “o jornalista Orlando Tejo é referenciado nesse documentário. Assisti a essa produção recentemente”.

JANDEILSON: “sim, sim. Orlando Tejo escreveu a obra ‘Zé Limeira poeta do absurdo’. O documentário é rico pois mostra passagens da vida do jornalista, sua família, cantadores, estudiosos, escritores, poetas. É importante assistir ao documentário para que cada um tire suas conclusões.”

PROFESSORA ANA PAULA: “isso, poeta. Como diria Nietzsche, a verdade é uma questão de perspectiva. Zé Limeira, pelo que entendi, ia rimando o que dava. Criava até vocábulos. Por sinal, Guimarães Rosa também detinha escrita criativa.”

JANDEILSON: “Zé Limeira agradava demais a plateia com esse ‘caldo cultural’. Dizem que ele estava numa cantoria e o outro cantador terminou o verso com /ança/. Ele ficou escasso de rima e disse (supostamente) ‘canta canta Limeirinha, homem de Jurupitança, história e geografia traga em minha cabeçança […] Valei-me, Nossa Senhora, estão bombardeando a França!’. O deleite do povo que estava ouvindo, consegue imaginar? Como isso era engraçado… Talvez, os cantadores não gostassem muito de disputar com ele.”

PROFESSORA ANA PAULA: “Poeta Jandeilson, produzir arte é inventar uma terceira margem para o rio, como o fez brilhantemente Guimarães Rosa: é permanecer com bagagens da vida, não raro, em desmoronamento. É sentir uma dor em aberto no devagar depressa dos tempos. Quiçá, sentir o grave frio dos medos. A vida é como rio: água que não estanca, rio de longas beiras.”

JANDEILSON: “que bacana, Ana Paula, você inter-relacionar Guimarães Rosa e Zé Limeira! Concordo. Relembro as palavras de Guimarães nesse texto: ‘e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro – o rio’. Quantas vezes deve, assim, ter-se sentido Zé Limeira?! Agradeço a oportunidade de compartilhar o sentimento.”

@engenhodeletras

Professora Ana Paula
Enviado por Professora Ana Paula em 04/12/2019
Reeditado em 04/12/2019
Código do texto: T6811010
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