EXCLUSIVO: “A LEI DE SEGURANÇA NACIONAL ESTÁ AÍ PARA SER USADA”, DIZ BOLSONARO SOBRE LULA
 
Por Claudio Dantas
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O presidente Jair Bolsonaro concedeu ontem entrevista exclusiva a O Antagonista, no Palácio da Alvorada.
Na conversa, ele falou sobre as acusações de um acordão em Brasília, da crise que quase levou à queda do diretor-geral da PF e do risco de Lula ser enquadrado na Lei de Segurança Nacional, caso tente subverter a ordem constitucional.
 
 
Bolsonaro também avaliou seu primeiro ano de governo. A entrevista foi divida em partes. Leia a primeira (a segunda está disponível AQUI):
O Antagonista – Presidente, o Lula foi solto, fez um discurso apelando para a radicalização. Falou para fazer o Chile aqui no Brasil. Tem muita gente avaliando que o discurso de radicalização do Lula o beneficia, porque aumenta a polarização e isso pode vir até ajudar a reunificar a sua base de apoio. O sr concorda com essa avaliação?
Jair Bolsonaro – Olha, o Lula está solto, mas ele continua condenado, em terceira instância. Eu não pretendo dar palanque para ele. Discutir com uma pessoa que quase quebrou a Petrobras, que causou um estrago enorme junto aos fundos de pensão, deixou uma dívida enorme de recursos do BNDES que foram aplicados em países comunistas no mundo todo, que deixou um péssimo legado no tocante aos valores familiares. Uma pessoa que usou do poder em causa própria, inclusive com o plano de poder absoluto. Através das palavras do Zé Dirceu, isso voltou à tona. Ele disse agora que é a hora de tomar o poder. Eles tentaram tomar o poder no passado, por vias não democráticas. Chegaram pela democracia, se embebedaram no poder e querem voltar a qualquer custo, até porque grande parte das pessoas nunca trabalhou, sempre viveu às custas do Estado. Então, o fato de eu não querer rebater palavra por palavra do que ele fala a meu respeito é para não dar palanque para ele.
Já falou muita coisa a meu respeito, mas eu cheguei de forma democrática ao poder, como ele chegou. Só que, como eu disse há pouco, nenhum outro governo foi tão democrático como o meu. Em nenhum momento eu falei em controle social da mídia e nem aparelhei o Estado para me blindar ou para me locupletar do mesmo. E ponho um ponto final aqui. Vou continuar cada vez mais trabalhando para o Brasil melhorar.
Os números da economia estão aí. Nunca se viu uma taxa de juros tão baixa, a inflação também. Acho que, em poucos momentos, a inflação (esteve) abaixo da meta, o ‘risco Brasil’ (risco-país) também diminuiu bastante. O governo está dando certo. Diminuiu em 22% o número de mortes por arma de fogo. As apreensões de drogas, em especial pela Polícia Rodoviária Federal, tem aumentado assustadoramente. Aprovamos uma reforma da Previdência, onde conseguimos mostrar ao Parlamento que era importante para todos nós, não só para o presidente. O Parlamento se conscientizou disso e aprovou, coisa que há 20 anos tentavam fazer. Petista reclama, mas Lula e Dilma tentaram fazer uma reforma da Previdência parecida e não conseguiram. Mesmo tendo o controle do Parlamento.
O Antagonista – Lula disse ontem que um dos objetivos principais dele é sabotar a agenda econômica. Pediu até que seus deputados virem leões no Congresso para travar toda essa agenda.
Bolsonaro – É, um país sem a economia está fadado ao fracasso. Ele usou a palavra sabotar. Acho que ele poderia falar ‘vamos aperfeiçoar’, dar umas sugestões… seria um estadista.Mas ele tem uma massa de eleitorado ainda, não sei qual percentual seria, em torno de 20, 25%, que acredita cegamente nele, não consegue fazer uma análise crítica do que está acontecendo. Não consegue ver que, da situação que o Brasil estava com ele, o próximo passo era transformar-se numa Venezuela. Ia fugir para onde? Então, ele quer chegar ao poder pelo poder, em cima da mentira que sempre foi o combustível da política do PT.
O Antagonista – O sr ontem (sábado) se reuniu com a cúpula militar para avaliar algum tipo de risco que a libertação dele pode trazer, do ponto de vista político, social?
Bolsonaro – Eu sempre me reúno com ministros que, de uma forma ou de outra, têm o mesmo objetivo. A questão de vazamento de óleo, a questão ambiental. A questão dos militares, eu me reúno sempre com eles. Não é uma reunião inédita. Por vezes, estão todos, estão o da defesa, o (general) Heleno está em todas, pela sensibilidade, pelo seu equilíbrio, por seu conhecimento, por sua dedicação, e (é) quem decide muitas vezes qual medida tomar… A reunião com os militares é sempre para poder antecipar os problemas, nada mais que isso. Nós queremos é garantir a ordem, a paz e a tranquilidade no Brasil e, com a nossa participação, para que a população tenha paz para trabalhar. Essa é a intenção das nossas reuniões que às vezes acontecem.
O Antagonista – Esse tipo de incitação à violência pode ser enquadrado legalmente?
Bolsonaro – Temos uma Lei de Segurança Nacional que está aí para ser usada. Alguns acham que os pronunciamentos, as falas desse elemento, que por ora está solto, infringem a lei. Agora, nós acionaremos a Justiça quando tivermos mais do que certeza de que ele está nesse discurso para atingir os seus objetivos. Você pode ver no Chile, o presidente Piñera demitiu todos seus ministros, pediu perdão e continua a mesma coisa. Na Argentina, não houve nenhum badernaço, porque já era uma tendência a turma da Cristina voltar ao poder como voltou. Então, acredito que não tenha problema. Agora tem que se preparar porque, na América do Sul, o Brasil é a cereja do bolo. Se nós aqui entrarmos em convulsão, complica a situação. Você pode ver no dia de ontem, agora você tem o Foro (Grupo) de Puebla, mudou de nome o Foro São Paulo, esteve reunido na Argentina. Estava lá o Mercadante, Dilma Rousseff, e gente da América do Sul toda, por meio da Argentina, (para) continuar com essa política de grande pátria bolivariana, ou uma só a América do Sul. Mas o objetivo é sempre o mesmo. Esses países de esquerda, né, que já têm governo, como lá atrás quando foi criado, até as Farc fizeram parte, o objetivo era se ajudarem para chegar ao poder. O próprio Dirceu disse, algum tempo depois, que muitos que chegaram ao poder não acreditavam. E, aqui no Brasil, aconteceu um fenômeno conhecido como Mensalão,  Lava Jato, que botou, não digo um ponto final, mas botou um obstáculo para prosseguirem nessa tentativa insana de poder absoluto.
O Antagonista – Talvez, por isso, essa tentativa que existe agora, toda uma mobilização em diversas instâncias, em diversos graus, de acabar com a Lava Jato, de deletar os avanços institucionais permitidos pela Lava Jato, visto que a Lava Jato trouxe a público o mecanismo de financiamento desses governos corruptos?
Bolsonaro – Há muita gente envolvida nesse processo, não apenas a esquerda, o PT… grandes empresários e todos esses enxergam a oportunidade de se ver livre de uma possível punição lá na frente. Então a união aí não tem ideologia, é cada um tentando salvar a própria pele. É isso que está acontecendo. No meu entender, por parte daqueles que querem enterrar a Lava Jato. Eu disse claramente agora, quando estive aqui por ocasião da formatura de policiais federais, que se não fosse a Lava Jato não teria chegado à Presidência. A Lava Jato ajudou a catapultar isso daí, porque o povo ganhou uma ojeriza à maneira como o Brasil estava sendo governado, e as entranhas dessa governabilidade foram reveladas. Agora, quem estava à frente, o grande comandante dessa operação (petrolão) era esse cidadão que, por enquanto, está solto.