A IMPORTÂNCIA DA COMPREENSÃO DA SÍLABA.

Considerações iniciais

Abreviaturas utilizadas: C = consoante; V = vogal; SV = semivogal. Passa-se, agora, a discorrer sobre a problemática da sílaba.

Entrevistador: J. Rone (estudante).

Entrevistada: professora Ana Paula – docente, jurista e escritora.

Data da entrevista: 9.set.2019.

1) Professora, que vem a ser sílaba?

Etimologicamente, sílaba expressa: vogal (ou grupo de sons da fala) pronunciados em única emissão de voz. Depreende-se, assim, que a existência da vogal consiste em elemento fundamental da sílaba. É possível sílaba com uma só vogal. Ex.: o vocábulo é. O português brasileiro é muito vocalizado.

2) Poderia explicar melhor?

A sílaba do português requer que a posição da vogal seja preenchida, o preenchimento das posições consonantais é opcional. Logo, na construção da sílaba, a vogal configura elemento essencial. A consoante, acidental.

3) Qual seria um conceito para sílaba?

Fonema (ou grupo de fonemas) pronunciados mediante única emissão de voz. Como já disse, inexiste sílaba sem vogal. Dito de outro modo: na língua portuguesa, o alicerce da sílaba é a vogal, sem o que inexiste sílaba. Exemplo: na palavra bíceps, há duas sílabas: bí + ceps.

4) Que são sílabas tônica e átona?

A sílaba se divide em tônica (forte) ou átona (suave), o que é relevante à compreensão da classificação silábica: a) monossílaba (tônica ou átona) – a palavra possui única sílaba. Ex.: fé (monossílaba tônica porque é acentuada); eu (monossílaba átona pois inexiste acento); b) dissílaba – contém duas sílabas. Ex.: transpor; c) trissílaba – há três sílabas. Ex.: aluna; d) polissílaba – acima de três sílabas. Ex.: universidade.

5) É possível sílaba com apenas consoante na língua portuguesa?

Não. Há total impossibilidade da existência de sílaba com apenas consoante (s). Em termos mais claros: inexiste consoante sozinha como sílaba no português.

6) Como é a estrutura padrão da língua portuguesa?

A estrutura básica (padrão) silábica no português consiste em C + V, a exemplo do vocábulo pé. Outras estruturas comuns a título ilustrativo: a) C + V + C. Exs.: por, ler; b) C + V + SV. Ex.: céu.

Ao se estudar a estrutura silábica, é imprescindível compreender o que significam as nomenclaturas ataque e coda. Para tanto, frise-se que o núcleo silábico é a vogal. O que vem antes (seja consoante ou semivogal), é o ataque; o que aparece depois, a coda (consoante ou semivogal). É relevante afirmar que a semivogal não pode ser núcleo silábico. Ex.: véu - v = ataque; u = coda. O vocábulo é - núcleo.

O ataque complexo contempla mais de um elemento. Ex.: a sílaba blá - bl = ataque complexo. A coda também pode ser complexa segundo o mesmo raciocínio. Ex.: trans - ns = coda complexa - mais de um elemento. Interessante observar que, no vocábulo transformar, a sílaba trans possui ataque e coda complexos.

7) Bem complexo, professora! Mudemos de assunto! O português falado no Brasil é sonoro como dizem por aí?

Sim. Ariano Suassuna, inclusive, em entrevista, chegou a afirmar a sonoridade do português brasileiro. No português brasileiro, por sinal, há consoantes mais sonoras e outras menos. As oclusivas orais e fricativas são menos sonoras, diferentemente das nasais e das líquidas (bem mais vozeadas).

Aproveitando a deixa, explicarei o que vem a ser epêntese (ou adição ou reparo): trata-se de estratégia para intercalar fonema (não etimológico) no interior de um vocábulo por acomodação articulatória ou eufonia. Ex.: "cangrejo" (do espanhol) - em português = caranguejo. Por que isso ocorre? Ora, a estratégia da fala é – naturalmente - a simplificação.

8) Mais uma vez, melhor mudar de assunto (risos). A Sra. poderia explicar um pouco sobre o acento de palavra?

Claro! A compreensão do acento de palavra está imediatamente relacionada à estrutura da sílaba. Explicando melhor: conforme a estrutura da sílaba, haverá balizadores à acentuação. O acento de palavra pode ser primário ou secundário.

9) Nunca ouvi falar!

Ouviu, sim! Aposto! A título primário, no português brasileiro, os vocábulos podem ser oxítonos (acento primário na sílaba final. Ex.: café), paroxítonos (acento primário na penúltima sílaba. Ex.: roupa) e proparoxítonos (acento primário na antepenúltima sílaba. Ex.: árvore).

No português brasileiro, considerável parcela dos vocábulos são paroxítonos. Diferentemente do idioma francês, em que preponderam as oxítonas. Outra curiosidade é que, no português, inexiste acento primário além da proparoxítona. Ademais, nem o acento primário nem o secundário estarão em semivogais.

10) Observo que, no português falado no Brasil, há alternância entre as sílabas fortes e fracas. Essa constatação procede?

Sim!!! No português brasileiro, há relativa alternância entre sílabas fortes e fracas. O contraste tônico-átono é saliente. É importante falar sobre o peso silábico: quando uma sílaba é complexa em relação a outras, caso em que há sílabas leves (simples) e pesadas (complexas).

Essa diferenciação está imediatamente relacionada à acentuação. O peso de uma sílaba consiste em ter elementos em coda, sendo o ataque irrelevante. No vocábulo canhão, por exemplo, nhão é a sílaba pesada. A cabeça equivale à sílaba tônica (nhão).

O conjunto sílaba forte e fraca é o que se convencionou denominar pé métrico. O padrão do português brasileiro é o pé métrico binário (quando esse fenômeno não ocorre, o pé métrico é tido por degenerado).

11) Como a língua portuguesa é complexa, não?!

Interessante observar: se ocorre uma sílaba pesada ao término da palavra, a tendência é que seja acentuada. O vocábulo canhão bem ilustra o fenômeno. Já no vocábulo tórax, a sílaba rax (coda complexa) não é acentuada (caso raro), pelo que erige o acento diacrítico para justificar a paroxítona.

12) Que vem a ser acento frasal?

O acento frasal é o acento da frase – como o próprio nome indica. É pragmático, situacional. Logo, bem mais complexo. Depende da interação do discurso. Não é posto por regra alguma. Ex.: nas interrogações, há uma queda para, depois, ocorrer subida na entonação. Ex.: Daniel foi à padaria?

Já nas afirmações, há relativa estabilidade na entonação. Ex.: Daniel foi à padaria. O acento frasal consubstancia o foco da frase. Depende do contexto, da interação, da ênfase, da carga semântica.

Os blocos de informação são relevantes. Idem a entoação (cadência, frequência fundamental). Esse assunto é melhor investigado pela fonética, cujo foco são as variações, o mundo real.

Ex.: na expressão análise interna, em termos de fala, há tendência natural a unir tudo como se única palavra fosse, o que se explica pela intercorrência de duas sílabas fracas ao término de cada palavra. Essa ligação é o “sandhi”, cuja embriogenia remonta ao sânscrito.

13) (Risos) A vida está difícil e ainda tem essa?!

(Risos) Sei que já ouviu falar em cacofonia. Tem a ver com o “sandhi” (ou “sândi”)! É um termo utilizado para variedade de processos fonológicos que ocorrem nas extremidades de um morfema/palavra. Relaciona-se, também, à alteração de sons em virtude de sons contíguos ou, mesmo, à função gramatical de palavras vizinhas.

Em boca dela, vi ela o ‘sândi” é cacofônico  pronuncia-se tudo junto: bocadela (lembra cadela) e viela (nesse caso, pode gerar até ruído na comunicação, com rua estreita, beco, travessa, pelo que erige a relevância do contexto fático).

14) Professora, gratidão pelas explicações. A Sra. poderia tecer suas considerações finais, por favor!

Concluo pela relevância da adequada aprendizagem silábica – notadamente - para crianças, que começam a desenvolver a oralidade mediante sílabas. Conforme a idade, aumenta-se (também) a quantidade de sílabas. Consequentemente, de palavras. Conhecer a estrutura silábica é importante para melhor compreender o acento de palavras, a métrica, o ritmo, o que é fundamental à aprendizagem de qualquer idioma.

Professora Ana Paula e JOSÉ RONE NASCIMENTO DOS SANTOS
Enviado por Professora Ana Paula em 10/09/2019
Código do texto: T6741848
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