UNIÃO SEM SEXO

Revendo uma pasta de recortes de jornais, encontrei essa entrevista, dada ao Diário da Manhã de minha cidade. Compartilho-a com vocês.

UNIÃO SEM SEXO

A escritora Genaura Tormin, 50 anos, 28 de casada, 4 filhos, não concorda com a idéia de casamento sem sexo, e afirma: _ É próprio do ser humano a atração física pelo sexo oposto e em conseqüência o desejo de acasalar-se. Daí o casamento, legalmente protegido, para o estabelecimento da família, que considero a mola mestra da sociedade. Um dos fins precípuos dessa união é o relacionamento sexual para a propagação da espécie. Além dessa finalidade, o ato sexual propicia muito prazer, amainando as desigualdades do casal, ajudando a construir a tão decantada felicidade. Ocorrendo fatalidades que causem impotência sexual, outras formas de “fazer amor” existem, ficando obstaculizada, apenas, a fecundação por vias normais. Contudo, ainda, pode-se lançar mão da medicina (reprodução in vitro e reprodução assistida) e da adoção.

DM - O que você prefere: a harmonia, a afinidade, o respeito mútuo ou o amor?

GT - Dentro da união conjugal esses ingredientes fazem ou deveriam fazer parte do amor maior que nos conduz à escolha do parceiro para uma união, que se imagina duradoura. E isso se faz por meio do namoro, não obstante hajam muitos desencontros e desencantos nessa caminhada. Talvez seja uma loteria, mas eu ainda acredito que o diálogo, os pontos comuns, o bom senso, a lucidez, a razão aliada ao coração, são boas ferramentas para o acerto.

DM - Será que com a espera da alma gêmea a pessoa não destrói outras chances de ser feliz?

GT - Geralmente, essa perfeição não existe. É preciso ser artista para esculpir uma aproximação do ideal. É preciso buscar o básico indispensável e daí construir uma obra de arte para alicerçar uma família sem mágoas, sem cicatrizes, fulcrada em exemplos diários. Contudo, sabe-se que a mulher, hoje, é uma nova mulher. Nada daquele estereótipo sociológico de objeto sexual, de fardo nos ombros do marido. Ela vai à luta, ombreia com ele, na conquista de seu espaço, sobressaindo-se com galhardia.

DM - Você acredita que nós temos almas gêmeas?

GT - À luz do espiritismo isso é explicável. Mas já é outro assunto e eu não quero misturar as coisas. Contudo, muitos relacionamentos levam-me a crer que existam, ou os casais foram privilegiados em sabedoria. E, ante esses artistas, curvo-me, com respeito. Chamo-os de mestres.

DM - Será que em vez de um grande amor seria melhor a gente ter um grande parceiro?

GT - Parceiro... só para sexo? Não acredito que seria grande. A mulher, geralmente, não encara o exercício do sexo como fisiologismo. Para ela o sexo é sublimação, o ápice do amor. Jamais poderia acontecer pleno, solto, bonito, sublime sem o grande amor.

DM - O que você acha da paixão?

GT - A paixão é um sentimento arrebatador, doentio, mas, extremamente gostoso. Entretanto é passageiro e costuma abrir verdadeiras crateras na saída. Um vazio imenso, um enorme gosto de dor. Para uma relação profícua, a paixão é prejudicial. Necessário se faz um amor maduro, consciente, respeitoso. Guimarães Rosa dizia que viver é muito perigoso. E, viver a dois, muito mais ainda.

DM - Você acredita que uma pessoa tem obrigação de fazer a outra feliz?

GT - Não, absolutamente. Se a gente ama, isso vem por acréscimo. É como aquela frase bíblica: Ama-me e fazes o que quiseres. O amor é espontaneidade e nunca imposição. E, a cada dia cresce ou desvanece conforme o trato. Por isso é necessário cuidar, regar todos os dias como se fosse uma plantinha. Jamais deixá-la murchar, por maiores que sejam as intempéries. É inteligência, sabe? Afinal, há mais felicidade em dar do que em receber.

DM - Será que o amor não é um tipo de embriaguez?

GT - Santa embriaguez! Se o fosse, eu gostaria de ser alcoólatra. Pelo contrário, o amor é lucidez, dinamismo... Não só o amor conjugal, mas o amor em sentido lato, o amor transcendental. Se você não tem o amor por escudo, torna-se uma pessoa vazia, amarga, sem brilho nos olhos, sem objetivo, concorda?

DM - Os tempos de hoje comporta um amor no estilo romântico piegas?

GT - O amor não tem receitas, determinações. Ele é intrínseco, peculiar. Cada um ama do seu jeito. O importante é amar e sentir-se amado. Eu sou romântica. Gosto de lua matreira, de chuva na janela, de ganhar flores, de ingredientes que aumentem a minha sensibilidade rumo ao amor, desde que sejam espontâneos e sinceros. Por que não cantar o amor? Quem não gosta de ouvir, repetidas vezes, a confirmação de que é amado, num guardanapo de hotel, num cantarolado jocoso, numa caricatura de jornal jeitosamente endereçada... E, isso eu não acho que seja piegas em qualquer tempo.

DM - Você acha que o nome AMOR poderia ser trocado por ternura?

GT - Não. Ternura é um componente do amor.

DM - O casal que se maltrata o dia inteiro e à noite chegam juntos ao orgasmo, isso é amor?

GT - No meu ponto de vista, não. A isso eu chamo fisiologismo, e abomino. O Amor engloba respeito e o exercício do sexo é como se fosse uma cerimônia litúrgica, necessita ritual, preparação. É preciso respeitar e respeitar-se. Faz parte do amor. É preciso não se anular, mas saber dialogar, ceder, reconhecer e, muito mais, aprender. É por meio dessas agressividades que o casamento torna-se compromisso de ninguém e as separações ganham índices avassaladores, com grandes prejuízos e desgastes psicossomáticos para toda a família.

DM - Você concorda com as traições rápidas?

GT - Antes de qualquer aventura, deve-se olhar primeiro se a porta de saída não é muito estreita. Às vezes, por uma simples curiosidade, embarca-se numa canoa furada, sem retorno. Depois, quem ama e é correspondido não se dá a essas aventuras.

Genaura Tormin
Enviado por Genaura Tormin em 23/09/2007
Reeditado em 13/09/2008
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