Entrevista com Abraham Lincoln

Há algum tempo atrás, me decidi a escrever um artigo sobre o presidente Abraham Lincoln.

Porém, a quantidade de informações sobre ele, e sobre todas as pessoas que o cercavam foi tão grande que acabei confessando a uma pessoa:

- Não há a mínima chance de escrever um artigo sobre Lincoln, pois o mínimo que eu poderia fazer era escrever um livro, tamanha a complexidade psicológica dele e de todos os envolvidos nos últimos anos de sua vida.

Mary Todd Lincoln, John Wilkes Booth, William H. Crook, Ward Hill Lamon, Ulysses S. Grant, Edwin Stanton já mereciam um livro cada um, para sermos justos.

Como não me dei por satisfeito, resolvi eu mesmo ir ao encontro do presidente Abraham Lincoln em sua mesa na Casa Branca e entrevistar aquele que seria conhecido como o maior presidente da história dos EUA.

O ano? Era 1865 da graça de nosso Senhor Jesus Cristo. O dia? 14 de Abril. A hora exata? Um pequeno intervalo entre 14:30 e 15:00.

Logo após uma reunião entre o presidente e o General Grant, o Coronel Porter, Seward ( filho ), Welles, John P. Usher, McCulloch, Dennison, o procurador Speed e o secretário de guerra Stanton.

E antes que o capelão Neill, fosse expulso por Lincoln de sua sala as 15:00 horas.

Quando estes senhores saíram da sala após a reunião, eu me aproveitei do fato de que a Casa Branca permanecia de forma descuidada, com várias portas abertas, facilitando que uma tropa de caçadores de favor chegassem mesmo até o presidente, e entrei sorrateiramente.

William H. Crook estava acompanhando todos para fora, e permaneceu uma fração de segundo de costas e eu entrei.

- Senhor presidente. Preciso lhe falar.

- Ora, filho, se é assim que eu devo morrer, vá em frente.

As informações sobre a certeza de Lincoln sobre o fato de que tentariam mata-lo a qualquer momento foram confirmadas.

- De forma alguma, senhor presidente. A única coisa que tenciono matar aqui, é a minha curiosidade.

Ele veio até mim, e deu um forte aperto de mão. Era muito mais alto que eu, e estava sem a cartola, o que para mim era decepcionante.

Expliquei que possuía um Blog, e que na tentativa de escrever sobre ele, não tive outra alternativa a procura-lo pessoalmente.

Ele me ofereceu a cadeira e se sentou do outro lado da mesa, e me fez sinal com a cabeça para que iniciasse a entrevista.

EU: Afinal, qual sua opinião sobre a guerra?

AL: Os dois lados eram contra a guerra, mas um deles preferia fazer guerra a deixar a nação sobreviver e o outro lado aceitou a guerra para não deixar a nação perecer.

EU: De que lado está o senhor?

AL: Os dois lados leem a mesma Bíblia e oram para o mesmo Deus. Eu estou do lado que não ora para Deus ajudar a continuar ganhando o seu pão através do suor de outros.

EU: E sobre a escravidão? Acha que um dia chegará ao fim?

AL: Enquanto eu viver, no meu país ninguém colocará um grilhão na perna ou no braço de nenhum homem por causa da cor de sua pele.

EU: O senhor sabe que mesmo dando a eles a liberdade, não poderá permanecer para sempre como um herói para eles. Eles precisarão encontrar um ícone negro para a sua causa. Isso o incomoda?

AL: Não me importa se um dia não mais se lembrarem de quem eu fui. O tempo mostrará se eu estava certo ou errado. Se o que eu faço agora é errado, nem dez anjos jurando a meu favor, vão mudar isso. Mas se for certo, mesmo que eu seja esquecido, minhas ações permanecerão.

Ele dizia isso tudo, olhando pela janela com uma expressão mista de tristeza e cansaço. Mas sorriu quando fiz minha próxima pergunta.

EU: Stanton te atrapalha muito?

AL: Ele é a rocha onde a arrebentação bate. Acho que nem mesmo eu aguentaria estar no lugar dele durante esta guerra.

EU: Você odeia mais o congresso ou os confederados?

AL: Prefiro um homem que lhe enfrenta cara a cara com uma pistola, do que gente que se esconde em mesas de carvalho.

EU: O que deseja para o futuro dos EUA?

AL: Acabar com a guerra é um começo. Ver todos os homens livres é outro passo. Depois quem sabe voltar a advogar.

EU: A senhora Lincoln concorda com isso?

AL: Claro que não. Mas eu pretendo antes disso, talvez, tirar um tempo e viajar com ela pela Europa, para descansar de tudo isso.

EU: Algum lugar em especial que queira visitar?

AL: Não há nenhum lugar que deseje tanto ver como Jerusalém. Visitar a Terra Santa e ver aqueles lugares santificados pelos passos do Salvador. ( ele repetiu essas palavras para a esposa, foram suas últimas inclusive, antes de ser baleado, e isto foi confirmado pela Srª Lincoln ao pastor Noyes W. Miner em 1882 ).

EU: A Srª Lincoln lhe fornece uma quantidade boa de problemas não é mesmo?

AL: Ela é a melhor mulher de todas. A morte de nosso filho talvez a tenha transtornado a ponto de pensar em coloca-la em um hospício, mas se eu ficasse longe dela, talvez quem ficasse louco fosse eu.

Neste momento, olhando a hora, soube que não poderia falar com ele por mais tempo, e arrisquei uma última pergunta que talvez não devesse.

EU: O senhor conhece um ator chamado J. W. Booth?

AL: Oh, sim, eu o assisti uma vez em 1963, no teatro Ford. Ele estava na peça "The Heart Marble", e me pareceu espetacular no papel. Enviei um convite certa vez para ele vir até a Casa Branca, mas acredito que não tenha chegado até ele.

Naquele momento, tive vontade de dizer-lhe que não deveria ir ao teatro naquela noite, talvez até implorar que permanecesse em casa. Mas eu não podia intervir no destino. Estava fora do meu alcance.

Me despedi dele com outro aperto de mão. Ele me acompanhou até a porta e Crook me olhou desconfiado.

Sai pela rua e vi John F. Parker indo para um bar. Ele chegaria 3 horas atrasado para render Crook aquele dia e deixaria a porta do camarote presidencial para ir beber novamente aquela noite. Meu estomago embrulhou.

Permaneci sentado ali, olhando as pessoas anônimas que em poucas horas iriam estar lotando as ruas em busca de alguma informação sobre o presidente.

Finalmente tomei coragem para ir embora. Eu não poderia estar ali, no momento em que as coisas acontecessem, pois eu não pertencia aquele lugar, nem mesmo aquela época.

Quando subi no meu trem para partir, notei que eram dez horas e sete minutos da noite. Algumas lágrimas nasceram nos meus olhos.

Quando o trem partia devagar pelos trilhos, mesmo que ninguém mais tivesse escutado, eu juro que pude ouvir um som seco como um pequeno saco de papel estourando e dois minutos depois o som de cascos de um cavalo em disparada.

Voltei ao nosso tempo. Nada havia mudado.

A história jamais mudaria, mesmo que nós desejássemos fervorosamente.

Nunca mais eu veria o senhor Abraham Lincoln.

Em vida.

Pois com certeza, quando todos nós houvermos atravessado aquele velho rio e encontrado com nosso Senhor JESUS CRISTO, eu teria prazer em visitar o senhor e a senhora Lincoln.

Se assim me for permitido.