DJAVAN

"Ô, Maceió, é três mulé prum home só...", essa a introdução de uma das canções belíssimas desse grande nome da música brasileira, "Alagoas", seguindo os versos de amor por sua terra natal: "(...) Eu fui batizado na capela do Farol, matriz de Santa Rita, Maceió...", verdade, cidade bela esta, praias lindas, pacata, lugar inclusive que escolhi para morar e viver. Seria paradisíaca plenamente se não fosse a praga que assola o Brasil de cabo a rabo: política nojenta que impera, conduzida por pessoas menores que seu próprio tamanho. Mas, mesmo assim, parafraseando Dorival Caymi, é doce viver em Maceió e desfrutar dessa maravilha de litoral que começa a partir da divisa com Pernambuco, até se encontrar com o São Francisco, em Penedo, onde "(...) me deu liberdade prá meu destino escolher e quando sentir saudade poder chorar por você!...".

Pois bem, quando entrei no salão do hotel, acompanhado por Ozi dos Palmares e Claudete Richieri, lá estava uma trupe de jornalistas e repórteres de diversas rádios, TVs e jornais, todos dispostos para ouvir sua palavra.

Djavan chegou mansamente, aboletou-se na cadeira disponível ao meu lado e saiu respondendo uma a uma das inquirições formuladas, falando do show, do disco, de Alagoas, da brasilidade, das canções e do futuro. Todos já estavam embevecidos com "Meu bem querer", "Faltando um pedaço", "Pétala", "Cigano", "Lilás", "Nem um dia", "Mal de mim", "Topásio", "Samurai", "Sina", "Açaí", "Se...", "Oceano", ou ouvido sua participação cantando com outras vozes, como Ivan Lins, "Somos todos iguais nesta noite"; ou na memorável canção do Beto Guedes, "Amor de Índio"; ou com Chico Buarque, "A Rosa" ou "Tanta Saudade"; ou mesmo com a turma do Casseta & Planeta, cantando um "Tributo a Bob Marley", entre outras tantas participações recentes com Jorge Vercilo, Cássia Eller, dentre outros.

Ao final da entrevista bateu um papo rápido comigo e com o Ozi, e me convidou para conversar mais, ao que, meio que desconcertado com o convite, chutei um local qualquer. Saí de lá mais nas nuvens que antes. Larguei Ozi e Claudete no hotel e rumei para o centro do Recife, para fechar alguma coisa que não lembro. Retornando, eis que dois automóveis seguiram-me até que encostei no inesquecível Bar do Guaiamum, no Pina. Lá, desci e constatei os dois carros me acompanhando no estacionamento. Segui e fui saudando os garçons que logo me atenderam num pedido pro jantar. Notei que havia umas mesas que se reuniam no centro do recinto mas me aboletei numa outra. O bar não estava cheio e fui convidado a sentar-me nas mesas reunidas. Assenti. Daqui a pouco, eis Djavan, banda e acompanhantes. Bebericamos, trocamos conversa até tarde da noite já madrugada quando rumei direto para a emissora para editar a entrevista coletiva e jogar na programação. Esta mesma entrevista fiz constar numa edição do jornal Nascente - Publicação Lítero-Cultural, anos depois.

Para o programa radiofônico, confesso, foi uma seleção difícil vez que este se prolongava por uma hora e meia, entre músicas e entrevista, ficando fechado em duas horas de duração. Resultado: audiência topada e sucesso garantido para felicidade minha e dos patrocinadores.

Hoje selecionar um repertório de Djavan é ainda muito difícil, principalmente depois de "Malásia" e "Bicho Solto", os ao vivo e "Milagreiro", este último que eu e a minha musa/amada Vaninha, curtimos adoidado. Mais ainda: com o "Milagreiro", aí é dificulta mesmo. O disco começa com um xote estilizado "Farinha", muito legal, com uma frase muito interessante: "Você não sabe o que é farinha boa, farinha é a que a mãe me manda lá de Alagoas...", passando pela bela "Om" - "(...) não sou nada indelével, sou instável como a cidade...", e fechando com a "Cair em si", além de contar com a participação especial de sua filha, Flávia Virgínia, em "Infinitude", da Cássia Eller (grande lembrança!) na faixa título do álbum, do Lulu Santos em "Sílaba" e de canções outras interessantíssimas.

O que me chama mais atenção é o seu rico universo musical ampliado pela poética arraigada em algumas frases magistrais soltas nas canções, tais como "(...) quer me ver sonhar? Traz a tua vida mais para perto de mim", em "Beiral"; ou "(...) nem que eu bebesse o mar encheria o que tenho de fundo", em "Seduzir"; ou "(...) tudo é viável prá quem faz com prazer...", em "Outono"; ou a decantada geral "Só eu sei as esquinas porque passei..." em "Esquinas", entre outras páginas da rica linguagem djavaneada. E olhe que se brinca que ele é a síntese de Caetano Emanoel Viana Teles Veloso, só no nome, claro, que alterava o neologismo verbal na letra da música "Sina": "(...) como querer djavanear o que há de bom". Ele, pois, é Djavan Caetano Viana, ou só Djavan, uma personalidade ímpar no cenário da música brasileira e do planeta. Vale a pena degustar de sua canção que traz o sabor do amor e da natureza alagoana, a alma afro-brasileira e o timbre de poeta dos sons múltiplos de uma vida daqui e de qualquer lugar. Salve Djavan! E vamos ao "Milagreiro" gente! Vale a pena mesmo. Reiterando Caetano: "(...) como querer djavanear o que há de bom". Bié, bié, glup, glup.

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LUIZ ALBERTO MACHADO
Enviado por LUIZ ALBERTO MACHADO em 30/08/2007
Código do texto: T631125
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