A Magia de Educar no Século XXI
A Magia de Educar no Século XXI
João Beauclair - 13/8/2007
Prof. João Beauclair é conferencista e palestrante sobre temas educacionais e psicopedagógicos em diversos congressos, eventos e fóruns nacionais e internacionais. Arte-educador, Psicopedagogo, Mestre em Educação. Colunista do site www.aprendaki.com.br Autor de Psicopedagogia: trabalhando competências, criando habilidades e Para Entender Psicopedagogia: perspectivas atuais, desafios futuros, publicados pela Editora WAK, Rio de Janeiro, e de Incluir, um verbo/ação necessário à Inclusão, publicado pela Pulso Editorial. Para conhecer mais sobre o Professor João Beauclair, acesse www.profjoaobeauclair.net
Aprendaki – Qual é a principal proposta de sua palestra?
João Beauclair – Escolhi o titulo “Saber aprender e ensinar no século XXI: o permanente desafio de construir a escola ética e cidadã” para a palestra e o artigo especialmente produzido para este evento por dois motivos principais. O primeiro porque penso e sinto que saber aprender e ensinar no século XXI é um imenso desafio a ser enfrentado no cotidiano escolar se desejamos vivenciar as dimensões humanas da Ética e da Cidadania Ativa. Vivemos num tempo complexo e muitas são as revisões de paradigmas que podemos observar no Conhecimento, na Ciência e na Tecnologia. O segundo motivo é por considerar que a Psicopedagogia pode, e muito, nos auxiliar no enfrentamento do desafio aqui citado, visto que em suas ações, propõem estratégias e movimentos facilitadores aos processos de aprender, ensinar e conviver nos espaços e tempos institucionais e educativos. Será uma palestra reflexiva e propositiva.
Aprendaki – Porque é um desafio aprender e ensinar no século XXI?
João Beauclair – Porque aprender, e ensinar no século XXI, é viver a dimensão do presente com maior ênfase. Num novo projeto editorial que estou produzindo, denominado Ensinantes do presente, amplio esta questão de modo significativo. Serão cinco volumes: Ensinantes do presente volume I Ensinar é acreditar; Ensinantes do presente Volume II: Ensinar é aprender. Ensinantes do presente Volume III: Ensinar é compartilhar utopias. Ensinantes do presente Volume IV: Ensinar numa perspectiva humanística. Ensinantes do presente Volume V: Ensinar é ter um projeto de vida. Este projeto foi criado com o intuito de contribuir para o pensar sobre o presente, focar nossas energias, atenções e ações para o momento presente de nossa realidade educacional. Fala-se muito do educador do futuro, do professor do futuro, mas é no hoje, no aqui e no agora que estamos vivendo uma série de dilemas que necessitam de ações e intervenções imediatas. Acredito que aprender, e ensinar no século XXI, é imenso desafio por uma série de fatores, mas o principal deles é a própria complexidade de nosso tempo, com todas as questões sociais presentes. É necessário superar modelos de percepção de mundo que não conseguem mais encontrar alternativas possíveis para os dilemas de nossa época. Aprender e ensinar no século XXI exige novas competências e habilidades cognitivas, exige movimento de desejo de aprender, de ensinar, exige discernimento, postura ética e política, exige humanismo e inclusão numa perspectiva mais ampla do que tão somente pensarmos em colocar nas escolas pessoas portadoras de necessidades educativas especiais. Aprender, e ensinar no século XXI, é lutar por políticas públicas significativas que atendam ao direito universal de todos terem acesso a educação ao longo de sua vida, independente de faixa etária, nível socioeconômico, religião, etnia. Aprender, e ensinar no século XXI, é fazermos, cada um a nosso modo e jeito, a nossa parte, para a construção de um novo tempo, onde possamos ver e viver dias melhores, percebendo que o essencial é a relação humana e os vínculos que criamos com as pessoas e instituições, vínculos estes que devem ser os mais positivos possíveis, pois facilitam processos de aprendizagens significativas.
Aprendaki – Quais as características do ensino do século XXI?
João Beauclair – O ensino do século XXI precisa ser dinâmico, movimentado, reflexivo, investigador, dialógico, facilitador, transdisciplinar, expressivo, significativo, conceitual, instrumental e que promova não somente a autonomia do sujeito (percebida com gestão de si mesmo), mas também sua ontonomia (a gestão do ser), focando nos valores e nos direitos humanos universais. O ensino do século XXI deve fomentar novos sentidos as palavras realidade, poder, desejo e sonho, irmanadas com a amorosidade, para fazer nascer o pensamento. Com Rubem Alves aprendi que “o nascimento do pensamento é igual ao nascimento de uma criança: tudo começa com um ato de amor. Uma semente há de ser depositada no ventre vazio. E a semente do pensamento é o sonho”. Aposto numa pedagogia dos sonhos, com dimensões mais amorosas, solidárias, humanísticas. Meu trabalho é plantar sementes em corações que germinem novos projetos educativos que coloquem o ser humano como ponto central.
Aprendaki – Quais estratégias podem contribuir para a melhoria da aprendizagem?
João Beauclair – Uma das minhas apostas é incentivar que os sistemas escolares incluam equipes psicopedagógicas em seus estabelecimentos de ensino. Não existem receitas prontas que sejam adotadas e, com isso, tudo fique perfeito. Cada configuração institucional é única porque forma grupos únicos de pessoas, com uma gama imensa de diversidades de interesses, motivos, modos de ver a vida, crenças e valores. Com a presença de equipes psicopedagógicas pode-se fazer diferentes trabalhos de prevenção e de intervenção que sejam elementos facilitadores dos processos de ensinagens e aprendências significativas, como sempre gosto de falar e escrever. Bons profissionais da Psicopedagogia agregam excelente valor ao trabalho educativo, pois colaboram sobremaneira para a construção de novos olhares sobre a aprendizagem nos espaços educativos, inclusive validando o percurso de cada instituição e apontando não erros, mas sim caminhos já trilhados que podem ser resgatados e ressignificados, construindo técnicas e estratégias que sejam mediadoras nos possíveis conflitos, quase sempre presentes nas diferenças. No meu novo livro “Educação e Psicopedagogia: aprender e ensinar nos movimentos de autoria”, a ser publicado em breve pela Pulso Editorial, procuro demonstrar como o trabalho psicopedagógico pode auxiliar em todo este processo.
Aprendaki – O que falta no ensino para um viver ético e cidadão?
João Beauclair – Professores e escolas ainda podem ser vistos como pessoas e espaços institucionais onde se luta cotidianamente para a construção da ética e da cidadania em nosso país. Vivemos um momento histórico sem precedentes, que a é o alargamento da impunidade: infelizmente nosso modelo político está longe de ser ético e cidadão no sentido maior dessas palavras. Com os salários e plano de cargos existentes, com a complexa realidade para a formação inicial e continuada de educadores, com as imensas dificuldades de sobrevivência que a maioria dos professores vivencia no Brasil, a falta de ética e cidadania está nos poderes que fazem a gestão dos recursos destinados a melhoria de qualidade de vida de todos. E com tudo isso, por muitas vezes, não reagimos, como se estivéssemos anestesiados. Em muitos momentos, falta-nos a necessária indignação e coragem.
Aprendaki – Qual a sua opinião sobre ensino a distância?
João Beauclair – No ano passado, ao participar do Congresso Internacional de Psicopedagogia da ABPp Associação Brasileira de Psicopedagogia, lancei o livro “Para entender Psicopedagogia: perspectivas atuais, desafios futuros”, publicado pela WAK Editora, do Rio de Janeiro. Neste trabalho, afirmei o seguinte: “o ensino a distancia é, de fato, um avanço no que concerne à democratização do acesso ao conhecimento e ao saber, mas, em se tratando de formação inicial, tenha lá as minhas resistências. Questão polêmica, não?” Como apaixonado que sou por aprendizagem e educação, acredito que cursos de formação continuada, capacitação e de atualização podem e devem ser oferecidos por esta modalidade sim. Como mediador já faz alguns anos que uso novas tecnologias em informação e comunicação, por exemplo, com a Plataforma Moodle nos fóruns de discussão que participo em cursos de pós-graduação por mim ministrados pelo Brasil e como tutor em cursos de atualização educacional e psicopedagógica. É uma realidade em nosso contexto e devemos ser efetivamente ensinantes do presente, fazendo uso dos avanços de nosso tempo. A questão sobre a formação inicial com esta modalidade é que ainda não consegui ver com bons olhos, pois acredito que a presença do mediador, no contexto sala de aula como conhecemos, ainda é essencial para a formação das bases sobre as quais erguemos nossos modos de estar atuando em educação.
Aprendaki – Como o senhor visualiza o futuro os educadores brasileiros?
João Beauclair – O amanhã é fruto do hoje. Como respondi acima, penso que nossa urgência maior é com o hoje, com o nosso presente enquanto povo e nação em busca de melhores condições para todos. Para o futuro dos educadores brasileiros é preciso agir no aqui e no agora, mudando significativamente as rotinas, a formação, os rituais, a empáfia de muitos que, ao estarem em níveis mais avançados de formação acadêmica, menosprezam ou olham com desdém os que estão atuando na educação básica.
Aprendaki – Enquanto Psicopedagogo, como o senhor os avalia em sala de aula?
João Beauclair – Heróis anônimos. Esta é a melhor expressão, não para avaliar, pois isso é mais complexo por depender de uma série de fatores, mas sim para designar. São heróis anônimos que, em suas rotinas, buscam continuadamente ampliar suas possibilidades de ação, fazendo esforços significativos para melhorar suas práticas e ações. A questão educacional do Brasil não é isolada: é uma questão social, ampla e que não se resolve com alguns planos mirabolantes. Dignidade, respeito, salários justos e condições de trabalho adequadas são essenciais. Em meu trabalho como palestrante, ensinante em mini-cursos, em cursos de capacitação e atualização de professores em diversos estados do Brasil observo o quanto os educadores brasileiros estão trabalhando, em projetos fantásticos de inclusão, de aprendizagem, de busca de alternativas para as dificuldades encontradas.
Aprendaki – O senhor utiliza a expressão “todos envolvidos na magia de educar”. Educar tem magia? Como é isso?
João Beauclair – Quando a aprendizagem é significativa, ela é vivenciada com intensidade e a alegria de aprender e de ensinar. Somos seres viventes porque somos aprendentes. A magia de educar existe quando nossas capacidades humanas de aprender e de ensinar dão sentidos e significados às nossas próprias experiências com o mundo, com o saber, com o conhecimento, com os outros e conosco mesmo. Somos humanos porque podemos aprender e ensinar: educar tem magia sim e todo ensinante de verdade sabe disso quando consegue, num momento especial, fazer os olhos dos seus aprendentes brilharem.
* Entrevista realizada pela jornalista colaboradora do Portal Educacional Aprendaki, Renata Del Vechio
Por Aprendaki.com.br
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