Eu entrevistando eu - IV

_ Bom estamos novamente aqui com o derrotado Enzo, para entrevistá-lo... Enzo, você não se importa que eu te chame de derrotado né?

_ Até que não, se é o que você acha, pode chamar, está no seu direito uai!

_ Então ta derrotado... ah, num vou te chamar assim não, você faz uma cara de triste, vou te chamar de ENZÃO! O que acha?

_ Legal, acho que vou me sentir melhor!

_ O ENZÃO, como está sua vida?

_ Faz uma pergunta melhor, por favor, vai me lembrar de coisas ruins, exemplo: que to sozinhozinho no amor, que fiquei internado pela primeira vez e praticamente o tempo todo sozinhozinho, minha cachorra está com câncer e outro dia foi dia dos pais e não tive ninguém que me apoiasse nesse momento que considero difícil pra mim, pois como você sabe, meu ou seu pai já morre...

_ Ta, ta, ta... Chega de falar da sua vida, como diz Renato Russo: _ Que coisa menino!

_ Foi você que pediu.

_ Esqueci que sua vida estava parecendo novela mexicana.

_ Pois é num é, novela repetida do SBT, monótona e idiota.

_ É...

_...

_...

_ Acabou a entrevista?

_ Não, mas estava pensando, será que você não está vendo só o lado ruim da vida não?

_ Pode ser que sim, tenho essa mania.

_ Pois bem, o que de bom tem acontecido?

_ Bom... estou dando aula de história, montei uma banda legal, ia fazer o festival fogo na mente, mas ta difícil...

_ Cara, faz o fogo na mente!

_ Não sei, porque estou sem tempo, sabe... Aí fica difícil... Dizem que o tempo é agente que faz, que agente cria prioridade para as coisas, de certa maneira até é, mas ando pensando, até que ponto eu sou manipulado e preso por todos os costumes, conceitos e coisas do tipo que existem na sociedade, eu posso falar o que quero?

_ ... Continue, estou gostando...

_ Posso fazer o que quero? Será que posso mesmo? A consciência que tenho das conseqüências que virão, não me deixam livre. Se eu quiser largar tudo eu não posso, prendem discretamente minha liberdade no momento em que falam que eu vou morrer de fome se eu largar tudo que tenho e sair por aí, então de certa maneira eu não sou livre, porque me prenderam à necessidade biológica que tenho, que é comer.

_ É, mas você é livre para querer isso uai!

_ Mas deixa de ser tolo, quem vai querer morrer de fome?

_ Não me chama de tolo, seu idiota! Eu sou você e você é eu, não se esqueça!

_ Cara vai estragar o assunto se continuarmos discutindo assim, o negócio é que eu não tenho liberdade nem pra "ME", ou "TE", chamar de tolo entendeu? Estou cercado por todos os lados, tenho que parar a entrevista agora e ir dormir, sabe por que? Porque estou preso à necessidade de trabalhar que só é necessária porque temos a necessidade biológica que não podemos nos desprender, pelo medo de morrer esfomeado, medo de morrer! AHHHHHHHHH! Estou preso aqui!

_ Bom gente, nosso entrevistado, o ENZÃO, saiu desvairadamente louco em direção ao quarto para dormir e tentar acordar ás seis e meia da matina, acho que ele não vai precisar acordar né, porque só acorda quem dorme e este aí, depois desse assunto complexo, não vai dormir tão cedo, pior é que ele tem a necessidade biológica de dormir, eim! Arrarrá! Então, até a próxima entrevista, se é que vocês terão paciência de ouvir esse idiota falando besteiras. Fique agora com a nossa próxima atração, a novela Cargas Opostas! Entenderam? Fiz um trocadilho com "atração" e "cargas opostas". Ai nossa! Olha como eu sou engraçado, ererererre, como sou engraça...

Uma voz do fundo do estudio grita:

_ Corta! Corta!..

Enzo Pinho
Enviado por Enzo Pinho em 15/08/2007
Reeditado em 02/11/2008
Código do texto: T609138