PROJETO DIVULGA ESCRITOR: Entrevista sobre o livro “Refugiados em Busca de um Mundo sem Fronteiras”.
1. Escritor Ricardo Roberto Brown, é um prazer contarmos com sua participação no Projeto Divulga Escritor. A respeito do livro “Refugiados em Busca de um Mundo sem Fronteiras”, o que o motivou a produzi-lo?
Inicialmente foi uma proposta de minha companheira que trabalhava na Cáritas Arquidiocesana de São Paulo, para que eu escrevesse um livro sobre os refugiados já que se trataria de algo inédito voltado para o público infantojuvenil, seria uma forma de eles terem uma visão mais adequada e sem preconceitos sobre as diferenças.
Para quem não sabe a Cáritas realiza um lindo e necessário trabalho humanitário há mais de trinta anos em prol de estrangeiros que precisam sair de seus países para preservar suas vidas e ter seus direitos básicos preservados. Foi algo delicioso, apesar de ser sobre um assunto tão dramático, criar personagens baseados em relatos das experiências que os refugiados tiveram antes e depois de conseguirem o apoio da Cáritas Arquidiocesana de São Paulo.
2. Como organizou a estrutura do livro?
O enredo foi baseado, como mencionei, ouvindo as emocionantes e sofridas histórias que relatavam a angústia dos refugiados de terem que abandonar seus países de origem. Mas, na verdade, em termos de estrutura física do livro, a gerente editorial da Larousse na época, (2005), gostou dos originais que lhe enviei e, como a editora já tinha uma coleção com o nome “Ninguém Merece” (inspirada na gíria que se usava na ocasião) e que tratava de assuntos como o preconceito, racismo, etc;., resolveu apostar em meu livro e incluí-lo nessa coleção. Eles mesmos se encarregaram de fazer toda a estrutura dentro do padrão editorial Larousse. Eu pouco palpitei a respeito, gostei da finalização e aprovei. Claro que opinei sobre os agradecimentos, a apresentação inicial e me adequei também ao número de páginas que correspondia ao padrão utilizado para a coleção.
3. Qual a dificuldade que os garotos Pablo e Jeremmy, enfrentaram, quando aportaram no Brasil?
Como eles fugiam de seus países em busca de dias melhores, aportando em uma terra em que mal sabiam falar o seu idioma, esta foi uma das principais barreiras. Porém, a dificuldade que lhes trouxe maiores aborrecimentos e constrangimentos foi a discriminação causada por seus companheiros de classe. O fato de terem trejeitos característicos de suas origens, além do sotaque, cor de pele e dificuldade em entender uma língua totalmente nova para eles, despertaram em alguns maliciosos colegas de classe, a prática do bullying.
4. A escolha de dois refugiados com afinidades linguísticas foi proposital?
Na verdade não, eu os coloquei em meu livro, porque na época se falava muito de refugiados de Serra Leoa e também dos problemas que as FARCs trazia para a Colômbia. E isso acabou sendo o que mais me motivou a escolhê-los. Eu só retratei o que estava em evidência na mídia, naquela ocasião.
5. Qual a influência da personagem Lili na aculturação dos dois refugiados, o colombiano Pablo, e o leonês Jeremmy?
A aculturação nesse caso foi mais a emocional e afetiva do que propriamente a territorial. É claro que a influência dela em lhes mostrar os locais para passearem e o próprio diálogo em si, fez com que houvesse uma maior aproximação e integração entre eles e o País que escolheram forçosamente viver.
Porém, o que eles necessitavam mesmo naquele momento era de alguém que lhes acolhesse sem julgamento e preconceito e isso a Lili soube fazer muito bem. Aliás, esse encontro dos refugiados com a Lili é que dá todo o sabor da emocionante história que realmente vale a pena ser lida.
6. Nossa equipe foi informada de que o seu livro foi adotado como material escolar. Como foi apresentá-lo à Diretoria dos Colégios?
Quando conversei a respeito da ideia com a Larousse, eles acharam ótimo porque seria interessante ter uma abordagem, mesmo que paradidática sobre assuntos como preconceito e o bullying, coisa que na ocasião, nem se falava muito e tão pouco sobre os refugiados. Ter a possibilidade de abordar o tema na escola que é o berço formador de opinião e de aprendizado, e tratar de um assunto tão polêmico e real, foi desafiador e maravilhoso. Claro que eu e os divulgadores da Larousse tivemos que trabalhar bem até conseguir introduzir o livro em algumas escolas como o Colégio Polilogos, por exemplo, que é uma instituição em que a sua grande maioria de alunos são coreanos. E tive ainda a sorte da professora ter tido o interesse de trabalhar com os seus alunos, o tema sobre o preconceito e a diversidade. Isso foi importante porque ela adotou o livro para várias turmas e, dessa forma, todo ano eu era convidado a visitar os alunos como autor e eles me recebiam com muito carinho fazendo a maior festa. Isso sim é muito gratificante para um autor! É ai que ele consegue mensurar quanto e como o seu livro está alcançando o público desejado.
7. Na elaboração do livro, conte-nos, como foi a contribuição dos Centros de apoio aos refugiados?
Eles contribuíram muito me convidando para uma reunião com os refugiados, isso possibilitou que eu os conhecesse e conseguisse captar um pouco da vida sofrida que tiveram tentando fugir em busca de um pouco de dignidade.
E até por esse motivo, para não se tornar um livro muito denso já que é dirigido ao público infantojuvenil, resolvi criar uma ficção com personagens que se encontraram dentro do ambiente escolar para que ali eu pudesse transmitir e traçar um paralelo entre, a relação e convívio dos alunos das nossas escolas, com o tratamento que se dá aos refugiados, aos migrantes e imigrantes pelo mundo afora. E isso se deu em meu livro, de uma forma leve e lúdica e, claro, com o devido respeito às histórias desses refugiados.
A Caritas e o ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) tiveram papel fundamental em minha pesquisa sobre o tema. E, além disso, essa minha atividade de escrita me proporcionou conhecer Instituições que ocupam espaço de fundamental importância na aplicação de políticas públicas, serviço social, psicológico e jurídico para os refugiados.
8 O assunto deste livro possui alguma relação com Bullying, temática de seus livros anteriores?
Sim, com certeza. Essa relação é inevitável, já que quando falamos de desrespeito às diferenças, especialmente em sala de aula, está implícito o problema do bullying, termo tão usado nos dias de hoje. Quando escrevi o livro em 2005, esse termo não era usual, mas, no entanto, os problemas de desconsideração, humilhação, preconceito e descaso com o próximo, inclusive de forma rotineira, infelizmente são comuns já há muito tempo.
Por isso, é difícil nesse caso, dissociar o tema refugiados do tema bullying.
Os livros que escrevi posteriormente sobre bullying, também são destinados ao público infantojuvenil e adotados em algumas escolas. E, sem dúvida o que me motivou e me inspirou a também escrevê-los, foi a primeira experiência que tive quando escrevi o livro refugiados pensando nas salas de aula. Já que é ali, nas escolas, que grande parte desses problemas de bullying, acontece.
9 Onde nossos leitores poderão comprar o seu livro?
Ele está disponível em geral, nos sites como: Livraria Cultura; Lojas Americanas; Saraiva; Estante Virtual entre outros grandes sites e é claro também na editora Escala que agora é do mesmo grupo Lafonte e Larousse. É só dar um Google e encontrará meu livro. Gostaria de aproveitar e fazer um adendo sobre o nome que aparece na capa de meu livro, ou melhor, de meu sobrenome Brown. Em meu livro está escrito como “BOWN” sem a letra “r” e foi proposital, utilizei a numerologia cabalística naquele período de minha vida e por isso a mudança no sobrenome, o que de certa forma ficou como um pseudônimo. Porém nos outros livros que escrevi voltei a utilizar o “Brown” normalmente, foi apenas uma experiência.
10 Nossa equipe agradece sua participação. Qual o seu recado aos nossos leitores e a nossos cidadãos sensíveis às questões internacionais?
Gostaria em primeiro lugar de agradecer a oportunidade de tal entrevista e também deixar claro que, o que mais assola o convívio humano são a intolerância e desrespeito ao próximo.
A diversidade humana sempre existirá e, portanto, é inadmissível que a imbecilidade humana chegue a tal ponto de classificar, rotular e desrespeitar o outro que pertence a mesma raça humana que a sua, só porque tem a cor, a religião ou ideais políticos diferentes dos seus. O ser humano evoluiu tanto na tecnologia, mas infelizmente nos aspectos mais importantes de sua existência que é o do convívio social e geográfico, e, que, por isso mesmo necessita de respeito mútuo para que haja uma convivência pacifica, se apresente muitas vezes tão atrasado ...
Acho que já passou da hora da humanidade acordar para a necessidade de repensar seus valores e suas relações interpessoais de qualquer natureza, do contrário, dificilmente haverá compreensão de que somos semelhantes, independentemente da cultura, do sexo, da cor, da religião e das crenças políticas. Sinceramente não acredito que haja sociedade saudável que se mantenha sem essa consciência!!
Obrigado,