MESA REDONDA I – DEUS, VIDA E MORTE


Bom dia a todos.

Começa hoje a primeira Mesa Redonda virtual do Recanto das Letras.
O tema escolhido é atual e importante e os convidados terão que responder à pergunta seguinte:

“A vida pertence a Deus ou aos seres humanos? Qual a sua opinião a respeito da eutanásia?”

As respostas, todas de recantistas, serão apresentadas respeitando a ordem alfabética.




Abá Morena

Primeiro ponto, é preciso entender o seguinte: O homem sempre quis o lugar de Deus, desde o jardim. Foi assim na medicina, na filosofia, na religião, na agricultura.... não seria diferente no caso da vida, como percebemos a fertilização in vitro e o clone. Sabemos que Deus é o dono da sabedoria e ele dá a quem quer. Aprouve Deus conceber as possibilidades ao homem de tudo isso que vemos agora, por motivos que não nos foram totalmente revelados.
Ou seja, o ser humano está cheio de mal em si, por isso não poderia fazer a melhor escolha jamais, nem em relação à sua própria vida, quanto mais à vida dos outros. No entanto tudo coopera para que a perfeita vontade de Deus prevaleça, ainda que por meios à nós "tortuosos". É difícil pensar assim, porque somos homens, e como homens limitados, nunca teremos o conhecimento da mente de um Deus.
Augusto Cury diz á esse respeito o seguinte: "Aqueles que anseiam a morte, na verdade o que mais desejam é viver". Acontece muito com pessoas em um grau gigantesco de depressão. Elas têm tanto desejo de viver uma vida "feliz" que por não encontrarem este padrão escolhem morrer. Acho que se encaixa no caso desses pacientes terminais. A morte parece dar fim no sofrimento. Eu entendo que todo sofrimento na terra é melhor que o inferno (porque se eu creio em Deus e tenho a Bíblia como livro de regras, eu devo acreditar que há inferno e assim como existe o bem sobrenatural, existe o mal).

Segundo Ponto: A gente tende a pensar que Deus perdeu o controle da vida, quando nos deu o respiro. Mas Ele ainda é o dono de tudo. O dono da vida e da morte e jamais perdeu o controle sobre todas as coisas.
Por exemplo: Deus deu à mulher capacidade de gerar filhos, mas a mulher não quer filhos e decide usar métodos anticoncepcionais, ou até mesmo fazer uma laqueadura. Se Deus quiser que ela tenha filho, algum desses métodos irá funcionar? Não, claro que não. Eu mesmo conheço uma pessoa bem próxima, de bastante confiança que teve 3 filhos e seu esposo decidiu fazer vasectomia. Dois anos depois ela engravidou dele. Resolveram fazer vários exames e atestaram que ele não poderia ser pai pois a cirurgia esta ainda perfeita, a gravidez seria algo milagroso. Depois disso ele não teve mais filhos. O engraçado de tudo é que ela já sabia que teria o quarto filho pois, segundo ela, Deus a teria visitado e dito isto a ela, antes mesmo do segundo filho nascer.
Voltando ao assunto, o homem pode fazer seus planos, mas só Deus dará a resposta final.
Eu não sou contra o trabalho da ciência. Sou à favor da lei. Se é proibido, então deve ter algum motivo. Eu voto sempre a favor da vida, até porque uma pessoa passando por tamanho grau de sofrimento, não tem capacidade mental plena para decidir se vai ou não viver. Até onde eu sei a medicina existe para promover a vida e não destruí-la.
Ficou um pouco sentimental minha resposta mas é isso mesmo. É uma questão de humanidade. Porém se alguém decidir pela eutanásia, não cabe a mim julgar.


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Maria Cândida Vieira

Creio que Deus criou a vida mas, já que temos o livre-arbítrio, cabe a nós decidirmos o que fazer com ela. Entretanto, como somos livres para tomar nossas decisões, somos responsáveis para aguentar as consequências e temos que responder pelo que fazemos.
Não sou a favor da eutanásia. Penso que o que temos que fazer é deixar que a vida siga seu curso natural. Deixemos que a pessoa morra naturalmente, dando-lhe o máximo de conforto em seus tempos finais.

Tudo bem, mas quando os sofrimentos se tornam insuportáveis? Não são raros os casos de pessoas que, mesmo cristãs, acabam se suicidando. A seu ver, nesses casos, é legítimo o suicídio assistido por um profissional?

Então, nestes casos, a pessoa terá o direito de decidir se suicidar. Eu não estou no lugar de ninguém para criticar a decisão pessoal de quem está sofrendo dores de uma doença terminal então, a pessoa é livre para tomar sua decisão e será assistida por um profissional.


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MCSobrinho

Não sei quem é deus, como é, onde está, o que faz; no entanto não acredito que o universo seja obra do acaso. Alguma força superior há de tê-lo criado com todas as condições de se manter organizado tal como é e com condições de gerar vida. Essa força criadora, que pode ser chamada de deus, todavia, não deve corresponder a um velho barbudo, bonachão, em algum lugar lá em cima, de onde controla tudo, sempre distribuindo prêmios e castigos, mas acredito que deva estar, ao mesmo tempo, em todos os lugares e em tudo.
De acordo com o exposto, a vida que nos foi dada, é nossa, somos livres, portanto, para fazermos dela o quem bem entendermos, conscientes de que as consequências também ficam por nossa conta.
Não posso acreditar que minha vida termine algum dia e nada mais reste. Que todas as lutas por que passei, os estudos aos quais me dediquei apaixonadamente; que todas as minhas experiências desaparecerão para sempre sem deixar rastro. Porque, se fosse assim, os primeiros fracassos frente as grandes dificuldades, deveriam, logicamente, marcar o fim de minha trajetória.

Dessa forma, penso que a vida é sempre uma continuidade e que, em cada segmento, traz sempre uma bagagem e assim se perpetua. E se uma nova vida traz uma bagagem, como marca de crescimento, ou a falta dele, cada segundo de vida, no prazer ou no sofrimento, é significativo. Nessa perspectiva, a eutanásia representa uma interferência indevida e negativamente impactante para o crescimento espiritual.

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Paulo Nieri

Como não acredito em Deus, acredito que a vida pertence ao ser humano. O nosso corpo, a vida e o que fazemos dela é de nossa responsabilidade. Pensar assim exige uma certa ética, moral e responsabilidade. Meu corpo me pertence, minha vida me pertence. Digo meu corpo, minha vida, aos outros cabe a cada um resolver o que fazer. Para mim nenhum deus ou divindade é dona ou possui qualquer influencia nas vontades humanas. Tenho como ética respeitar opiniões diferentes e dou liberdade de cada um expressar sua fé ou crenças, mas minha vida e corpo me pertencem até que se prove o contrário. Cada povo tem sua legislação, regras ou conjunto de valores morais ou crenças que impedem muitos de pensar assim. Não sou a favor da coletividade do pensar, cada um deveria pensar como quisesse sobre isso.

Eu sou a favor da eutanásia, se a pessoa manifestar sua vontade de que não seja mantida viva diante de um sofrimento que ela não queira passar sou favorável que ela seja ajudada com isso e o sofrimento termine através da eutanásia. A Boa Morte como podemos traduzir a palavra Eutanásia deveria ser um direito de todos em todos os lugares do mundo. A Suíça é famosa em relação a isso, muitas pessoas se dirigem a esse país para serem beneficiados com a antecipação da morte para se livrarem dos sofrimentos do corpo. Como acredito que meu corpo e minha vida me pertencem, cabe a mim decidir quando partir. Vou mais longe, por mim a eutanásia poderia ser um direito a qualquer pessoa,mesmo não estando doente ou sofrendo de forma cruel com alguma doença terminal. Mesmo se a pessoa não manifestar seu desejo e já se encontro em estado vegetativo, acredito que também deveria ser um direito dela já garantido por lei de ter sua morte sem dor garantida. Por mim, se o individuo entender que não quer mais viver, já poderia ser beneficiado com o direito a Eutanásia. Desumano meu pensamento? Não ligo para os julgamentos e se alguém não consegue ser convencido a viver, que faça como achar melhor. Se com essa forma de pensar muitos dirão que sou a favor da cultura do suicídio, tudo bem.

Você citou o caso da Suíça onde qualquer doente pode solicitar a "doce morte" pagando €8.000,00 que não é pouco por um simples comprimido de Pentothal. Isso no caso que os médicos constatem se tratar de doença incurável, mesmo que o paciente não sinta dores. Acha ético tudo isso?

O valor é um pouco alto realmente por um comprimido, mas para quem quer se livrar do inevitável, da dor que se aproxima, parece não ser nada. Claro que na minha opinião tal morte ainda não é nada democrática. Acho ético sim, eu iria mais longe, reafirmo que qualquer um que não deseja mais viver, mesmo que "saudável", se depois de constatar que nada o convence a continuar vivo, então ele não tem porque realmente viver. É complexo isso, mas conheci pessoas que escolheram a morte pelo simples fato de perderem os sonhos. Chegar nesse nível de compreensão e permitir que uma pessoa morra por falta de expectativas sei que é complexo, mas a falta de sonhos e esperanças, torna muita gente já morta ainda em vida. Ser ético consigo mesmo, para poder ser ético com o mundo e não é nada ético, não respeitar uma individualidade, um final desejado apesar do imenso apego que temos por nossas vidas.

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Paulo Sergio Lopes Costa

Deus, embora muitos o reconheçam como um ser mitológico, de alguma forma é fato, devido a força dinâmica que existe e que mantém a ordem de tudo o que há para além de nossa compreensão. A vida, como sendo uma das obras deste ser Todo-poderoso, não pertence ao individuo, mas sim, pertence a Deus; sendo assim, cabe aos seres humanos ter a capacidade e a competência de administrá-la, de modo que possam manter-se vivos até que seus corpos pereçam.

Muitas pessoas sofrem por diversos motivos, dentre os quais, frustração por ter sido abandonado, rejeitado, ou porque sofreu abuso, ou porque perdeu o que considerava ser tudo para para sua vida. Porém, acreditando que a vida não pertence aos seres humanos, pois fora concedida, e sabendo que o sofrimento é consequência de algum ato ou situação inesperada e imprevista, não sou a favor da eutanásia. Ninguém tem o direito de colocar fim à vida de outros, nem tem o direito de devolver a vida para o lugar de onde veio.

Entendi. Então quem sofre dores insuportáveis não tem o direito de por fim a seus sofrimentos? É isso que você quer dizer?

Sim! Visto que a vida não pertence a pessoa, ela não pode colocar fim. A vida, embora tenha sido dada às pessoas, é como um presente muito valioso, que, mesmo quando velho, o valor pessoal que possui, a pessoa não pensa em jogar fora. Assim sendo, as dores são consequências de algo, seja, por causa de implicações exteriores, ou mesmo, por suas próprias ações. Por isso, a dor insuportável não é motivo para que a pessoa queira por fim a vida que recebera.


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Príncipe da Liberdade

A Igreja ensina que a vida pertence a Deus, mas eu, que sou Deísta e profundamente humanista, acredito que pertença ao ser humano. Foi durante a Idade Média que Deus tornou-se o motor de todas as ações: no nome de Deus eram movidas guerras, exterminadas populações, queimadas pessoas, negada a Ciência. Hoje isso acontece nas teocracias do Oriente Médio onde uns clérigos pisoteiam a liberdade alegando interpretar a vontade de Deus.

No que diz respeito à eutanásia, sou obviamente favorável, desde que tenha uma forte motivação como uma dor insuportável (é falso afirmar que os medicamentos acabam com qualquer tipo de dor). Já vi católicos praticantes suplicarem os médicos para que lhe tirassem a vida e, não sendo atendidos, se matarem pulando de uma janela de hospital. Quem afirma que a dor, como fazia Madre Teresa, é uma prova do amor de Jesus significa que nunca testou a verdadeira dor oncológica: experimente um câncer no pâncreas antes de afirmar que Deus nos dá a força para aguentar o sofrimento! Todo ser humano tem o direito de viver e morrer com dignidade, mas que diabo de dignidade seria quando certos pacientes gritam de dor ininterruptamente invocando a morte por dias e noites sem parar?

Então seria justo desligar as máquinas que mantêm vivas pessoas em estado vegetativo?

Absolutamente não! Embora os neurologistas afirmem que esses pacientes não tenham consciência do ambiente que os cerca e que sair do coma depois de um ano é praticamente impossível, uns poucos que conseguiram se recuperar testemunharam que, apesar não reagirem a nenhum estímulo, sentiam tudo o que os outros diziam, apenas não conseguiam responder. Inclusive, durante o coma, não se sente dor alguma. Os pacientes em estado vegetativo tem o direito de continuar vivendo.


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Sua Bruxinha

Quando dou algo para alguém esse algo é dele, então partindo do princípio que Ele me deu a vida, ela é minha. A vida pertence aos seres humanos.
Acredito num ciclo, numa encarnação de provas e expiações onde deve ser finalizada naturalmente como foi previsto em minha programação reencarnadora, então não concordo com a antecipação desse ciclo, não concordo com eutanásia.

E o que faria se não aguentasse a dor provocada por certas doenças terríveis?

Nada, certamente quando alguém não aguenta a dor, ela entra em óbito, por isso dizemos, ela não aguentou e morreu. Antes disso tem muitos recursos(principalmente para quem tem recursos financeiros) na medicina para atenuar a dor, com isso não quer dizer que as pessoas não sofram com dores terríveis.


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Yamânu

Ateu convicto. Não fiquei aborrecido com deus por ele não ter salvo a vida de alguém ou coisa parecida, essas coisas que a gente vê em filmes. O personagem acredita em seu deus, mas passa a duvidar de sua existência porque seu amado deus deixou sua mãezinha morrer de câncer. Não acredito na existência de deus. Para ser pessoa honrada e do bem não necessitamos de deuses. A história da humanidade tem milhares de páginas banhadas com sangue derramado em nome de deus. Qualquer dúvida consultem os primogênitos egípcios em cuja verga das portas não havia sangue de ovelhas.

Sou a favor da pena de morte para assassinos, estupradores e molestadores de crianças. No entanto, sei que dezenas de inocentes seriam condenados a morte por incompetência das nossas autoridades policiais e judiciária. Lembra do caso da Escola de Base lá em São Paulo? Pessoas inocentes, donos e funcionário de uma escola, foram acusados de abusarem de crianças do recinto escolar. Este caso é tão terrível nos detalhes dos acontecimentos que parece obra de ficção. A esposa do dono da escola foi torturada e seviciada na delegacia por policiais, enfiaram um rato em sua vagina. Eu puxaria a alavanca do cadafalso para esses monstros. No fim do caso ficou comprovado que não houve abuso algum para com as crianças.

Sou a favor da eutanásia. Se minha filha tivesse saído do ventre materno sem saber se era gente, uma esponja, uma beterraba eu a mataria. Nenhuma criança deveria ser condenada a viver uma existência num arremedo de vida. Sou a favor da eutanásia. Toda pessoa tem que ter direitos sobre si mesmas. Se ela não quiser viver seja pelo motivo que for tem o direito de por fim a sua vida. Pessoas sofrem às vezes por anos por causa de alguma doença que nunca será curada, isso é vida?

Quer dizer que você teria matado sua filha se ela tivesse tido algum defeito grave, né isso? Mas esse não era também o programa de Hitler: eliminar os alemães doentes no intento de aliviar os sofrimentos a criar uma raça melhor?

Há doenças e doenças, não considero um recém nascido acéfalo apenas doente. Hitler tinha tanto direito de matar aquelas pessoas "doentes" quanto eu de matar pessoas doentes parentes de outra pessoa, ou seja? Nenhum. A minha filha eu mataria.



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Bom, termina aqui a primeira Mesa Redonda virtual.
Eu, sendo a moderadora, além de agradecer a todos os participantes, nada teria a comentar, pois essas são as regras que, de norma, regulam os debates na TV.
Mas como essa não é a Globo e sim a minha escrivaninha, também vou dizer o que penso.

Não vou entrar na questão da existência ou não de Deus, de um criador e sua natureza.
Mas acredito que a iluminação é conquistada pela remoção das impurezas e ilusões e reconciliação com o todo e que promoverá o florescimento e o bem-estar de si próprio e dos outros.

Com relação a vida, não acredito que tenha uma separação entre vida humana e outras formas de vida. Num sentido amplo, esta concepção de vida engloba também os animais e plantas.

Para a vida da carne o grande ênfase é dado ao estado de consciência e paz no momento da morte. A morte é entendida como sendo a dissolução da mente e do corpo. Contudo, a definição comum de morte é a morte de todo o corpo. A “morte” é causada pelo “cortar a respiração de um ser vivente”.

Existe uma “regra de ouro” poderia opor-se a uma crua ética de resultados que não é ética nenhuma; também não precisaria ser entendida como pura ética de intenções, que não percebe a realidade. Poderia, sim, ser o centro de uma ética de responsabilidade que sempre leva em consideração as conseqüências de nosso agir e omitir.

Com relação á eutanásia: Não existe uma oposição ferrenha à eutanásia ativa e passiva, que podem ser aplicadas em determinadas circunstâncias. Sou a favor, dependendo do contexto e das condições, principalmente se essa for a vontade última do doente. Para evitar um longo período de dor ou de sofrimento. Sempre, todavia, que não exista outro recurso e isso acabe com o sofrimento daquela vida. Portanto sou a favor, em particular se o motivo for a compaixão.

Quem quiser dizer a sua, pode deixar um comentário, inclusive informando se deseja fazer parte de uma das próximas Mesas Redondas.

Um grandíssimo abraço a todos!

Serpente Angel
Serpente Angel
Enviado por Serpente Angel em 01/08/2016
Reeditado em 12/09/2016
Código do texto: T5715399
Classificação de conteúdo: seguro
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