ENTREVISTA COM O PRÍNCIPE DA LIBERDADE (Fugindo da pele do hábito)
As pessoas talvez esqueceram ou nunca aprenderam que o espírito do que chamam de bruxaria é a Liberdade. O conhecimento é contínuo, e todos carregam fragmentos dessas verdades.
(Serpente Angel)
Racionalizar a comunicação para mim seria pedir a pena de morte, há quem diga que eu seja um liquidificador, eu digo que sou dadaísta, eu misturo tudo e vejo o que é que dá. Pois bem, vamos ver o que é que sai.
O entrevistado é um poeta que tem liberdade em seu nome, então a liberdade me concede a licença poética de perguntar como eu quiser e espero naturalmente que ele responda livre como penso, seja a sua mente.
Esse poeta que não exausta de comunicação e destino, é quase um desatino passar sem dizê-lo.
O que vou partilhar é um rascunho de simplicidade, porque eu nada sei dizer, como saberia perguntar. Não é um teatro poético, nem eu seria a misteriosa menina má distribuindo por ai maçãs envenenadas a mando de algum satã. Eu tentei elencar, encontrar a essência desse deus-menino em perguntas que fogem desse escapismo marasmo, quis algo fora desse tédio de frases de livros prontos e rasos, eu sei, sou um erro crasso, mas não gosto da sufocante inutilidade da poesia vazia, das matracas e métricas, O que sei deste poeta é que ele é uma metafisica dos sentidos, uma filosofia hermenêutica, um amor pelas letras. Não é um poeta só de interpretações. E não, não é benevolência dessa maldosa menina misteriosa ou maldade boazinha má, são resquícios de pétalas o que sinto, um livro livre para me saber, se eu quero saber, penso que vocês também gostarão de sabê-lo. Creio, não vai haver desentendimento poético na era da comunicação, no infinito limite da criança literária, a epiderme foge à escures do espelho, vamos deixar transparente o enigma, à carne e às vísceras do poeta, vamos unir o versejar e entender o que há por trás das suas letras. Com vocês, O PRÍNCIPE DA LIBERDADE. Degustem-o, sem moderação.
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SOBRE A ORIGEM DO PRÍNCIPE DA LIBERDADE:
Qual é a origem do Príncipe da Liberdade, onde nasceu, qual o seu berço?
Nasci na Itália do Norte cerca de sete anos após o fim da Segunda Guerra Mundial. Meu pai, ex combatente e parcialmente inválido, trabalhava como office-boy e minha mãe, do lar, era filha de um operário das Ferrovias. Em suma, uma família pobre numa nação devastada por uma longa guerra e terríveis bombardeios. Devido a escassez, o meu primeiro vestido de nenê foi obtido cortando e costurando as sobras dum pára-quedas americano e, como berço, nada mais que o gavetão de uma cômoda. Devido o pára-quedas ser de seda e eu ter nascido no começo do inverno, imagine o frio. Num de meus poemas autobiográficos aparecem esses versos:
“Teu primeiro vestido um assopro
de vidro, e um terno exausto sorriso”.
Acho que o que mais incomodou a minha vida de criança e adolescente foi o frio, por isso sempre sonhei com terras tropicais, como o Brasil.
Onde vive, viveu e o que motivou-o para a escrita, desde quando?
Vivo na Itália, mas também vivi e trabalhei no Brasil.
Os meus professores diziam que sabia escrever bem e sempre tirava boas notas em italiano. Em torno dos 25 anos de idade participei de uns concursos literários locais e fui premiado. No entanto, sempre gostei de prosa e a poesia só começou a me apetecer cerca de quinze anos atrás, quando me atrevi a escrever os primeiros poemas em português.
SOBRE FORMAÇÃO:
Qual é a formação educacional do Príncipe da Liberdade. Você possui formação artística ou é autodidata. E além da escrita, possui outras habilidades e quais seriam?
Após ter terminado o ensino fundamental, entrei numa escola técnica (aqui duram cinco anos) recebendo um diploma tipo um bacharel. Em seguida obtive o meu título de “dotó” em Física e dediquei o resto da vida à pesquisa cietífica. Minhas “habilidades” se resumem à escrita, mas gosto de pequenos trabalhos manuais, tirar fotos e andar de bicicleta. Detesto ficar parado sem fazer nada, sempre arrumo alguma coisa pra fazer.
SOBRE A IMAGEM e a DESCRIÇÃO DO PERFIL:
Tem um rato ou hamster na imagem do seu perfil aqui no Recanto. Ele é um mascote que existe ou somente uma imagem aleatória. Tem alguma simbologia especial que o ligue a imagem do roedor?
Não é um rato, é a porquinha da Índia de meu filho. Ele adora roedores e eu também. Quando ele era menino criamos um camundongo albino.
Na mensagem inicial da sua escrivaninha tem uma breve citação de Ezra Pound. “O paganismo nunca teve medo do saber. Teve medo da ignorância e, debaixo do dilúvio da ignorância, foi expulso de seus templos”. Sobre ele: há alguma influência pessoal na sua escrita para estar na sua porta de entrada. Anexo à sequência uma citação de Lutero”. O maior inimigo da fé é a razão. A fé deve esmagar a razão debaixo dos seus pés”. Deixa entrever por uma fresta uma profunda e incomoda adequação. Nesse basilar espiritual, onde alinhar o Príncipe da Liberdade ou ele está entre ambas ou em nenhuma?
O aforismo de Ezra Pound reflete um lado importante da minha personalidade: o amor pela Verdade e pela Liberdade. O Cristianismo sufocou a liberdade e a racionalidade dos Antigos e a frase de Lutero mostra como o bom cristão deve esmagar a razão debaixo de seus pés. Nesse sentido Ezra Pound fica no antípoda de Lutero o qual é tido como exemplo e mestre pelos Protestantes. Não é por acaso que ainda hoje cerca de 50% dos Americanos negam o Evolucionismo e acreditam no Criacionismo. Obviamente a citação de Lutero é polêmica, mas, como pode gerar incerteza no leitor, vou deletá-la.
SOBRE LIBERDADE
Fale-nos sobre a Liberdade, liberdade que tem no seu nome, qual é o motivo e a razão, porquê de existir, inclusive no seu nome. Liberdade é ser contra os padrões ou dependendo deles. A liberdade total, vivida e pensada. Conceitue como pensa ser e como vive a sua liberdade?
O meu nome anterior era Príncipe da Soledade, bonito do ponto de vista poético, mas inadequado para expressar o meu caráter. Como dizia Dante na Divina Comédia, a liberdade é o bem supremo, mais importante que a própria vida:
“Digna-te, pois, bení’no ser com ele:
a liberdade anela, que é tão cara:
sabe-o bem quem por ela a vida expele.”
(Purgatório, I)
Nunca houve progresso sem a liberdade. E, quando falo em liberdade, me refiro primeiramente à liberdade política e, em segundo lugar, à liberdade de pensamento. Portanto, liberdade de religião, de opinião, liberdade sexual, liberdade da burocracia asfixiante, liberdade de escolher as terapias, etc. Os condicionamentos sociais e culturais são imensos e para mim, que me criei numa cidade pequena, não foi espontâneo conquistar a liberdade de dizer que não sou cristão sem sentir um certo constrangimento perante os outros.
SOBRE O REFÚGIO PARTICULAR:
Como é o seu habitat, o seu refúgio particular, aquele que pula a janela para dentro. Uma cama, um sofá, um gato vira-lata, andar pelado pela casa e um monte de livros antigos e modernos misturados. Ou uma casa ampla, trabalho burocrático, livros na estante que desconhece a autoria e um caro vinho americano de paletó e gravata enquanto planeja as férias à Paris?
O meu refúgio é a minha casa, os meus livros, os meus poemas, os meus amigos, o Recanto das Letras. Faz mais de doze anos que não tenho TV e não sinto a menor falta. Nada me agrada mais do que um bom livro.
ESTILO POÉTICO, INFLUÊNCIA e OBRAS:
Você tem um estilo poético, criação poética, livro editado. Conte-nos um pouco sobre e quais são as fontes que bebeu ou bebe, influencias das suas letras?
Quem mais influenciou o meu estilo foram, no início, os poetas do hermetismo italiano do século passado: Ungaretti, Montale e Quasimodo. Em seguida comecei a apreciar Cecília Meireles, Emily Dickinson, Garcia Lorca e Zila Mamede. Publiquei poemas em várias antologias brasileiras e tenho um livro editado. Mas, confesso, me reputo um poeta medíocre.
SOBRE O RECANTO e OUTROS:
Você chegou ao Recanto quando e através de que e porque, posta suas letras somente aqui ou ainda que não seja o caso de divulgarmos outros espaços, uma vez que a política do site não nos permite, mas poderia nos dizer se tem trabalhos em outros nichos literários?
Comecei a publicar no RL em 2007; descobri o site por acaso. Publico também no famoso Deviant Art, principalmente fotos, mas também textos e poemas, naturalmente em inglês, que é o idioma oficial do site.
SOBRE O PROPÓSITO DA ESCRITA:
Você é membro de uma organização Secreta Demoníaca Mundial e está tentando arrebanhar seguidores com a sua escrita. Qual o propósito da sua escrita. São letras idealistas de concretizar pensamentos ou está ante a impossibilidade disto ou nada disto?
Embora colabore com uma importante revista da Maçonaria italiana, não pertenço à organização alguma. Escrevo na esperança que pelo menos uns leiam os meus textos e reflitam sobre a influência nefasta do radicalismo religioso e de certas ideologias políticas sobre a sociedade moderna. Quanto aos poemas, eles representam apenas uma forma de exteriorizar os meus medos, as minhas mágoas e o meu pessimismo existencial.
SOBRE POLÍTICA e MITOS
A questão política no mundo é alvo de discussões, vivemos um tumultuado de informações e que de fato, estamos remexendo em tumbas e ruínas, o que por um lado é benéfico, por outro tende a ser perigoso. Vieram à tona nomes adorados por alguns e odiados por outros, recentemente no Brasil vivemos uma negação de valores (ou talvez nunca o tivemos), é conturbada essa questão, também no mundo e mais recentemente na Turquia, inclusive postei algo sobre Erdogan e que foi motivo de enes críticas, inclusive suas, poderia nos falar um pouco sobre: Lenin, Stalin, Erdogan, Marx, Hitler e outros que a história tem arquivado, conhecidos e que também desconhecemos, por falta de Educação mesmo. Seria interessante um olhar diferente neste momento mundial, que parecem ruir as fronteiras dos discursos inflamados, deixar em segredo personalidades que estavam guardadas, seus mitos, seus castelos políticos construídos e que ora desmoronam-se diante de discussões dispares, olhos e tiros para todos os lados (de defesa e ataques) não me parece uma boa solução, poderia discorrer brevemente sobre cada um deles?
Mesmo falando “brevemente” sobre os personagens que acabou de citar, seria necessário escrever dúzias e dúzias de páginas e duvido que o leitor iria aguentar até o fim. Deixando de lado Marx, que foi apenas um economista, o que posso dizer é que todos os sujeitos citados têm um denominador comum, que é a ambição, a cobiça pelo poder, o desrespeito pelo indivíduo e seus direitos fundamentais, e que estão (ou estiveram) dispostos a matar inúmeros inocentes para alcançar suas metas de domínio. Quem estiver interessado em aprofundar mais a minha opinião política, leia os meus artigos: “Os Horrores do Comunismo” e “Fascismo e Totalitarismo”.
IDEOLOGIA e TENDÊNCIA POLÍTICA:
É nacionalista, patriótico, reacionário sobre política e ideologias. O seu pensar alinha-se com direita, esquerda, ou é para a frente independente de lado? Seria bom lembrar que há direitas e direitas, esquerdas e esquerdas, esquerdas e direitas sanguinárias, reacionárias, ditatoriais e democráticas. Há direitas e esquerdas inclusivas e também excludentes e nisso igualam-se. Só para esclarecer.
Essa é uma pergunta bem interessante que me permite expressar melhor certas opiniões.
Apesar de, na juventude, ter sido um fervente marxista-leninista, atualmente não me enquadro em ideologia alguma, aliás, detesto essa palavra. Digamos que tornei-me um idealista sem ideologia, um pragmatista. Todos temos ideais. Todos, por exemplo, queremos a paz no mundo. Mas enquanto o ideal representa uma alta aspiração estética, moral ou prática, e nada mais do que isso, a ideologia pretende dar a receita para realizar esse ideal. A História demonstrou que essas “receitas”, além de serem ineficazes, acabaram produzindo regimes totalitários, guerras e dezenas de milhões de mortos. Isso aconteceu devido as ideologias não terem o menor fundamento científico: cada ideologia, tal qual a religião, tem seus alicerces na fé e não na experiência objetiva!
Sobre direita e esquerda, respondo citando uma famosa canção do cantor italiano progressista Giorgio Gaber (1939-2003). O título é cativante: “Direita-Esquerda”. No texto ele se pergunta qual a diferença entre esses dois lados opostos e as respostas são do tipo: “Se o chocolate suíço é de direita, a Nutella inda é de esquerda” ou “Tomar banho na banheira é de direita, no chuveiro decerto é de esquerda”. Esse gênio da música italiana, já em 1994 havia entendido que direita e esquerda nada são se não rótulos impostos por espertalhões que usam máscaras ideológicas visando obter o poder mas, quando estão no governo, se comportam todos da mesma forma.
Durante esses últimos anos, na Itália assistimos ao paradoxo que as medidas mais absurdas e impopulares foram tomadas por governos de “esquerda” enquanto a “direita” é quem atualmente mais defende as instâncias das camadas mais pobres da sociedade. Mas nem sempre foi assim, tudo faz parte do jogo, da politicagem.
SOBRE LIBERALISMO/RADICALISMO: A DEMOCRACIA DA FÉ:
Conte-nos sobre essa ética espiritual moralizante, o niilismo, o ateísmo, o equilíbrio oriental, sobre as crenças ou a total descrença, fale-nos um pouco sobre a simbologia, a espiritualidade, o radicalismo que persegue e exclui, a paz ou a explicação. O que é cada uma delas e o que representam. Existe uma explicação da ciência para a fé de cada um, e o que você espera alcançar falando sobre o simbolismo delas em seus textos?
Não sou nem cristão e nem ateu: sou Deísta. Acredito numa forma de Inteligência superior que organizou a matéria, mas desconheço como essa Inteligência funciona, quais os seus atributos, se é um ser consciente ou algo mais parecido com um programa de computador. Obviamente queria que a vida não terminasse com a morte, que houvesse uma justiça superior e novas experiências no além, mas esse é apenas um desejo ético, não uma verdade comprovada. Quem afirma conhecer o destino final dos seres humanos mente, pois só vale o que pode ser demonstrado e, pelo que sei, até agora ninguém voltou para nos contar o que há do outro lado.
A simbologia dos meus textos é coerente com a minha posição filosófica: parece que a “Inteligência” deixou rastos, indícios da sua ação, e esses rastos podem ser encontrados na Geometria, tida como arte sagrada por filósofos como Pitágoras e Platão. Atualmente continuo trabalhando com assuntos ligados à Geometria e à Física e, em breve, pretendo publicar mais um artigo.
SOBRE A POLÊMICA DA SUA ESCRITA:
Você com as suas escritas tem escrito e metido a mão na cumbuca sobre textos sagrados desde a suposta (ou) criação do mundo, para quem acredita na criação a sua maneira (textos rompidos e corrompidos), essa outra ótica tem irrompido uma discussão nessa cegueira à moda Branca, como diria Saramago, isso de palavras, verdades e mentiras, morte e vida, o que pode ser o maior fracasso de qualquer escritor, mas você não parece se importar muito com isso. Seu destino é naufrago em alto mar, tem um destino ou é só um eu para eu mesmo? Você acredita em Deus? Não me diga que seria mais um desses insanos pentecostais que andam vendendo vassouras magicas e sabões lavandeiros para miseráveis explorados pela fé, ou ainda quem sabe faça parte de alguma organização secreta mundial. Qual o porquê da Escrita do Poeta da Liberdade causar tanta polêmica?
Sobre a minha posição espiritual acabei de responder: considero-me um Deísta que acredita na honestidade como valor absoluto. Ao mesmo tempo, como todo Deísta, recuso as religiões reveladas, os milagres e os dogmas. A meu ver o Cristianismo não passa de uma mitologia na qual uma figura real e histórica, Jesus, foi rapidamente transformada antes num Messias universal e, enfim, nada menos que no Filho de Deus. No entanto, uma leitura atenta, crítica e não dogmática do Novo Testamento, nos mostra que ele foi, basicamente, um patriota antiromano, um profundo conhecedor da lei de Moisés. Foi Paulo de Tarso que, no intento de divulgar um novo credo no Império Romano, inventou um Cristo transcendente, divinizado e pacifista.
Infelizmente, a grande maioria dos cristãos nem de longe aceita que certas “verdades” possam ser questionadas. Por isso os meus textos sobre a religião geram tanta polêmica.
SOBRE A VERDADE:
O que é a verdade. A verdade é descoberta e no momento da descoberta da verdade cai o véu da ignorância e surge a ilusão do conhecimento?
A verdade é a conformidade com o real, é o que pode ser comprovado cientificamente e objetivamente. Dizem que na minha terra, milhares e milhares de anos atrás, o povo tinha certeza absoluta que a Lua, redonda e amarelada, fosse um queijo. Todos acreditavam nisso e os céticos eram tidos como pessoas blasfemas. Mas a verdade é algo de objetivo que não depende do que a maioria das pessoas pensa ou acredita.
Sabe por que no Brasil a grandíssima maioria das pessoas é cristã? Porque foram criados nessa cultura e, desde crianças, certas perguntas não eram permitidas: era obrigatório acreditar sem questionar. Se essas mesmas pessoas tivessem nascido no Egito seriam muçulmanas, se tivessem nascido na Índia seriam induístas, e assim por diante.
SOBRE DEMÔNIOS, DIABO, SERPENTE, PECADOS e MAÇÃS:
(risos) essa pergunta é de um interesse muito pessoal, (risos) rindo aqui, porque não deve ser segredo para muitos que “acham” deduzem que a serpente seja o demônio, ou o representante direto de satã, a Lilith que convida ao pecado. Eu tenho meu conceito, também posso justificar o porquê da afinidade Luciférica com a maçã, a serpente, a luz e a escuridão, mas confesso que estou curiosa para saber a sua sincera opinião. Sem meias palavras, por favor. Fale sobre o que pensa sobre o Diabo?
Não acredito no Diabo! Anjos e Demônios são o fruto da superstição e da ignorância dos humanos.
Quanto às serpentes, são criaturas interessantes e bonitas; às vezes perigosas…
SOBRE ROSAS NEGRAS E UM JARDIM:
Quais cores você cultiva ou cultivaria no seu jardim. Uma breve analogia sobre a influência das suas letras, e o que isso reflete em você?
Não tenho jardim e nunca cultivei flores, mas se tivesse que comprar um carro zero, iria optar pelo vermelho escuro, ou melhor, um grená. Não gosto de preto, é a negação de todas as cores. Todavia, as cores nunca influenciaram os meus poemas. Toda cor tem o seu fascínio.
SOBRE MISTURAR ESTADO E RELIGIÃO:
O que poderia nos dizer sobre a idade das trevas e sobre a Inquisição da Santa Igreja Católica?
Conforme escrevi nos meus artigos: “Cristianismo vs Paganismo” e “Os absurdos do Cristianismo”, o fim do mundo pagão marcou o começo da Idade Média. Enquanto o paganismo foi tolerante, despido de dogmas, pluralista e pragmático, o Cristianismo foi inimigo da Ciência, da Medicina e da Razão. O antigo pagão não vivia no terror do além e seus heróis foram as pessoas que trouxeram benefícios para o Estado ou para a humanidade em geral. Já para o cristão, o paradigma correto era o santo sujo e maltrapilho, que se humilhava e se flagelava recusando tudo o que havia de positivo e construtivo na vida.
A Inquisição foi o instrumento do totalitarismo religioso, da teocracia. Ainda hoje várias nações do Oriente Médio são dominadas por regimes teocráticos. Você gostaria de morar lá?
SOBRE ARQUITETURA e DESIGNERS DA ESTRUTURA QUE ESCREVE:
Você se considera uma simplicidade complexa, uma parada sensata, uma ostra oca, um universo em dois, um espiral, uma amnésia zen, um óculos de Drummond, excesso de poesia, uma parada secreta ou é só um poeta ambicioso ou ainda quem sabe um adorável aliem de dor e prazer?
Considero-me apenas uma pessoa que gosta de escrever, mas tenho consciência que jamais irei entrar no Olimpo dos poetas de nomeada.
SOBRE ATIRAR PEDRAS:
Você recebe muitas pedras em seu castelo de letras. Lá tem pedras que até eu atirei. Todos nós temos telhado de vidro, enquanto uns estão com as fragilidades expostas outros estão protegidos com seus telhados invisíveis. Vamos falar por aqui sobre a questão do heterônimo nas postagens (que eu também sou um) e sobre os comentários fechados: Porque essa proteção heterônimo e comentários fechados?
Fechei os comentários por dois motivos. Antes de tudo, como trato assuntos bastante polémicos, não quero me envolver em discussões que iriam me desgastar e seriam bastante “time-consuming”. Também, tendo que cuidar de uma pessoa idosa e inválida, não posso me dar ao luxo de perder tempo em polémicas estéreis. Quanto ao heterônimo, digamos que gosto de privacidade. Por outro lado, o meu nome de verdade já aparece no Google como autor de trabalhos científicos e artigos ligados ao esoterismo.
SOBRE COMENTÁRIOS:
Comenta-se para fazer propaganda de si mesmo ou troca de favores, inventividade poética ou mero penduricalho ou ainda quem sabe, nada disso seja importante, não escreve para ser lido e como reage as críticas recebidas via e-mail ou em comentários quando expostos?
Escrevo para ser lido, para divulgar as minhas idéias. Não pertenço aquele grupo de autores que deixa seus textos engavetados na esperança que alguém os descubra cem anos depois. Ser lido é a minha única vaidade. Recebi críticas pelo e-mail, que foram bem aceitas. Recebi também ofensas e não gostei.
SOBRE OPOSTOS:
Eles se repelem ou não preciso do meu oposto porque o meu oposto é meu. Não preciso do meu oposto ou ele é a contradição desse oposto que te faz por inteiro ou nada disso?
Os opostos somente se atraem no mundo da Física: pode acreditar!
SOBRE A MEDIOCRIDADE:
Amado, odiado ou uma caverna particular. Considera-se melhor que a maioria ou olha para si e enxerga ela própria (a mediocridade) e desesperadamente aponta a própria apontando para a sujeira do tapete alheio. Sintetize o que é medíocre, mediocridade, quem ou o que?
Quer saber o que é a mediocridade? Olhe para mim e saberá. Fui cientista, mas nada de espetacular, sou poeta e escritor, mas o meu nível é mediano. Quem me acha um gênio fica decepcionado, quem me considera um pateta, ele mesmo o é. O poeta romano Horácio tornou-se famoso por ter inventado a locução “Aurea mediocritas”. Portanto assumo a minha mediocridade: se não for propriamente de ouro, pelo menos que seja de prata. Tento escrever de forma simples para que todos me entendam, mas a poesia tem suas regras e a mensagem, como ensinava o poeta Eugenio Montale, não pode ser gritada aos quatro ventos.
SOBRE A MULHER, A BELEZA, EDUCAÇÃO, COMPORTAMENTO E O SEXO:
Você acha que toda mulher precisa ser bonita para se sentir sexualmente atraído por ela ou esse negócio de beleza não importa e o que importa mesmo é a essência em desfavor da aparência e que esse negócio de beleza é bobagem, conte-nos, que, ou qual beleza é fundamental?
Beleza não é bobagem! Mas o que é bonito no meu conceito, pode ser considerado feio por outra pessoa.
UMA MULHER TE ATRAI:
Pelo olfato, tato, cheiro, olhar ou pelo pensamento?
Os fatores são inúmeros e, entre eles, o pensamento é um dos mais importantes.
AINDA SOBRE MULHER (do ponto de vista de um homem), SEXO, AMOR, FETICHES, TESÃO:
Falamos sobre Deus e Diabo, falamos sobre serpente, maçã e pecado, falamos sobre amor e sexo. Há quem diga que amor é Deus, que sexo não é religião, e que ousar algumas práticas para o prazer dentro de um relacionamento ou fora dele, a quatro paredes ou nenhuma, seja e esteja condenado ao inferno ardente do fogo eterno para os que se dizem cristãos. Como você vê, sente e vive isso dentro de um relacionamento? Vamos falar sobre fetiches, tesão, amor e sexo: Domina, é dominado, ou dois são um e um em dois não é pecado? Como você vê essa questão de lidar com o prazer em todas as suas formas do livre ser?
Amor é uma coisa, paixão é outra. Difícil haver ainda paixão depois de 30 anos de casamento; o que resta é o amor. Quanto aos fetiches são importantes e cada qual deve ter a liberdade de escolher o que mais lhe agradar, desde que seja de forma segura e consensual. No mundo contemporâneo ninguém, justamente, se escandaliza mais diante de um relacionamento gay, mas diga que gosta de algemas e chicotes e a maioria dirá que você é um(a) pervertido(a) sexual!
SOBRE MÚSICA:
Gostaríamos de conhecer um pouco do seu gosto musical…
Desde a adolescência sempre gostei de música sinfônica. Mas me agrada também a MPB, Luiz Gonzaga e canções de autores italianos dos anos ’70 e ’80. Confesso que não sou muito atualizado em termos musicais.
SOBRE LITERATURA DE CABECEIRA:
Sobre a empatia de letras, você poderia nos partilhar quais são os seus autores preferidos ou que tenha afinidade que alinhe o seu pensar?
Sou fã de Voltaire, de Hannah Arendt, e dos historiadores Robert Conquest e Edward Luttwak.
VOLTANDO NO TEMPO:
Algum arrependimento, faria algo diferente, e o que faria, caso pudesse voltar atrás?
Ninguém pode voltar atrás. Mas se fosse possível, voltaria levando no bolso os números da mega-sena! Ahahahah
FUTURO:
Você faz ou tem planos na gaveta, ou o futuro é um ir e deixar seguir, beber e contornar, abraçar o que vier e viver, ou tudo é planejado minuciosamente, nada fora da peneira?
Não tenho muitos planos para o futuro, já estou na terceira idade! Bons planos gostaria que os tivesse meu filho! Os meus planos são que ele se realize e seja feliz.
ESPELHO, ESPELHO, ESPELHO MEU, QUEM SOU EU?
Quem é o Príncipe da Liberdade pelo Príncipe da Liberdade, ele é o cúmplice da máscara de dentro (sem máscaras) ou ele reflete os olhos dos outros em nós sendo esse mesmo que vemos?
Os antigos Gregos diziam: “Conhece a ti mesmo”. Como ainda não consegui me auto-desvendar totalmente, não tenho como responder a essa pergunta.
A arte em todos os sentidos, ela tem amor por tudo que faz, tem o toque delicado que acaricia as flores, que tenta tocar as estrelas, que tenta tocar o infinito. (Serpente Angel)
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As pessoas talvez esqueceram ou nunca aprenderam que o espírito do que chamam de bruxaria é a Liberdade. O conhecimento é contínuo, e todos carregam fragmentos dessas verdades.
(Serpente Angel)
Racionalizar a comunicação para mim seria pedir a pena de morte, há quem diga que eu seja um liquidificador, eu digo que sou dadaísta, eu misturo tudo e vejo o que é que dá. Pois bem, vamos ver o que é que sai.
O entrevistado é um poeta que tem liberdade em seu nome, então a liberdade me concede a licença poética de perguntar como eu quiser e espero naturalmente que ele responda livre como penso, seja a sua mente.
Esse poeta que não exausta de comunicação e destino, é quase um desatino passar sem dizê-lo.
O que vou partilhar é um rascunho de simplicidade, porque eu nada sei dizer, como saberia perguntar. Não é um teatro poético, nem eu seria a misteriosa menina má distribuindo por ai maçãs envenenadas a mando de algum satã. Eu tentei elencar, encontrar a essência desse deus-menino em perguntas que fogem desse escapismo marasmo, quis algo fora desse tédio de frases de livros prontos e rasos, eu sei, sou um erro crasso, mas não gosto da sufocante inutilidade da poesia vazia, das matracas e métricas, O que sei deste poeta é que ele é uma metafisica dos sentidos, uma filosofia hermenêutica, um amor pelas letras. Não é um poeta só de interpretações. E não, não é benevolência dessa maldosa menina misteriosa ou maldade boazinha má, são resquícios de pétalas o que sinto, um livro livre para me saber, se eu quero saber, penso que vocês também gostarão de sabê-lo. Creio, não vai haver desentendimento poético na era da comunicação, no infinito limite da criança literária, a epiderme foge à escures do espelho, vamos deixar transparente o enigma, à carne e às vísceras do poeta, vamos unir o versejar e entender o que há por trás das suas letras. Com vocês, O PRÍNCIPE DA LIBERDADE. Degustem-o, sem moderação.
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SOBRE A ORIGEM DO PRÍNCIPE DA LIBERDADE:
Qual é a origem do Príncipe da Liberdade, onde nasceu, qual o seu berço?
Nasci na Itália do Norte cerca de sete anos após o fim da Segunda Guerra Mundial. Meu pai, ex combatente e parcialmente inválido, trabalhava como office-boy e minha mãe, do lar, era filha de um operário das Ferrovias. Em suma, uma família pobre numa nação devastada por uma longa guerra e terríveis bombardeios. Devido a escassez, o meu primeiro vestido de nenê foi obtido cortando e costurando as sobras dum pára-quedas americano e, como berço, nada mais que o gavetão de uma cômoda. Devido o pára-quedas ser de seda e eu ter nascido no começo do inverno, imagine o frio. Num de meus poemas autobiográficos aparecem esses versos:
“Teu primeiro vestido um assopro
de vidro, e um terno exausto sorriso”.
Acho que o que mais incomodou a minha vida de criança e adolescente foi o frio, por isso sempre sonhei com terras tropicais, como o Brasil.
Onde vive, viveu e o que motivou-o para a escrita, desde quando?
Vivo na Itália, mas também vivi e trabalhei no Brasil.
Os meus professores diziam que sabia escrever bem e sempre tirava boas notas em italiano. Em torno dos 25 anos de idade participei de uns concursos literários locais e fui premiado. No entanto, sempre gostei de prosa e a poesia só começou a me apetecer cerca de quinze anos atrás, quando me atrevi a escrever os primeiros poemas em português.
SOBRE FORMAÇÃO:
Qual é a formação educacional do Príncipe da Liberdade. Você possui formação artística ou é autodidata. E além da escrita, possui outras habilidades e quais seriam?
Após ter terminado o ensino fundamental, entrei numa escola técnica (aqui duram cinco anos) recebendo um diploma tipo um bacharel. Em seguida obtive o meu título de “dotó” em Física e dediquei o resto da vida à pesquisa cietífica. Minhas “habilidades” se resumem à escrita, mas gosto de pequenos trabalhos manuais, tirar fotos e andar de bicicleta. Detesto ficar parado sem fazer nada, sempre arrumo alguma coisa pra fazer.
SOBRE A IMAGEM e a DESCRIÇÃO DO PERFIL:
Tem um rato ou hamster na imagem do seu perfil aqui no Recanto. Ele é um mascote que existe ou somente uma imagem aleatória. Tem alguma simbologia especial que o ligue a imagem do roedor?
Não é um rato, é a porquinha da Índia de meu filho. Ele adora roedores e eu também. Quando ele era menino criamos um camundongo albino.
Na mensagem inicial da sua escrivaninha tem uma breve citação de Ezra Pound. “O paganismo nunca teve medo do saber. Teve medo da ignorância e, debaixo do dilúvio da ignorância, foi expulso de seus templos”. Sobre ele: há alguma influência pessoal na sua escrita para estar na sua porta de entrada. Anexo à sequência uma citação de Lutero”. O maior inimigo da fé é a razão. A fé deve esmagar a razão debaixo dos seus pés”. Deixa entrever por uma fresta uma profunda e incomoda adequação. Nesse basilar espiritual, onde alinhar o Príncipe da Liberdade ou ele está entre ambas ou em nenhuma?
O aforismo de Ezra Pound reflete um lado importante da minha personalidade: o amor pela Verdade e pela Liberdade. O Cristianismo sufocou a liberdade e a racionalidade dos Antigos e a frase de Lutero mostra como o bom cristão deve esmagar a razão debaixo de seus pés. Nesse sentido Ezra Pound fica no antípoda de Lutero o qual é tido como exemplo e mestre pelos Protestantes. Não é por acaso que ainda hoje cerca de 50% dos Americanos negam o Evolucionismo e acreditam no Criacionismo. Obviamente a citação de Lutero é polêmica, mas, como pode gerar incerteza no leitor, vou deletá-la.
SOBRE LIBERDADE
Fale-nos sobre a Liberdade, liberdade que tem no seu nome, qual é o motivo e a razão, porquê de existir, inclusive no seu nome. Liberdade é ser contra os padrões ou dependendo deles. A liberdade total, vivida e pensada. Conceitue como pensa ser e como vive a sua liberdade?
O meu nome anterior era Príncipe da Soledade, bonito do ponto de vista poético, mas inadequado para expressar o meu caráter. Como dizia Dante na Divina Comédia, a liberdade é o bem supremo, mais importante que a própria vida:
“Digna-te, pois, bení’no ser com ele:
a liberdade anela, que é tão cara:
sabe-o bem quem por ela a vida expele.”
(Purgatório, I)
Nunca houve progresso sem a liberdade. E, quando falo em liberdade, me refiro primeiramente à liberdade política e, em segundo lugar, à liberdade de pensamento. Portanto, liberdade de religião, de opinião, liberdade sexual, liberdade da burocracia asfixiante, liberdade de escolher as terapias, etc. Os condicionamentos sociais e culturais são imensos e para mim, que me criei numa cidade pequena, não foi espontâneo conquistar a liberdade de dizer que não sou cristão sem sentir um certo constrangimento perante os outros.
SOBRE O REFÚGIO PARTICULAR:
Como é o seu habitat, o seu refúgio particular, aquele que pula a janela para dentro. Uma cama, um sofá, um gato vira-lata, andar pelado pela casa e um monte de livros antigos e modernos misturados. Ou uma casa ampla, trabalho burocrático, livros na estante que desconhece a autoria e um caro vinho americano de paletó e gravata enquanto planeja as férias à Paris?
O meu refúgio é a minha casa, os meus livros, os meus poemas, os meus amigos, o Recanto das Letras. Faz mais de doze anos que não tenho TV e não sinto a menor falta. Nada me agrada mais do que um bom livro.
ESTILO POÉTICO, INFLUÊNCIA e OBRAS:
Você tem um estilo poético, criação poética, livro editado. Conte-nos um pouco sobre e quais são as fontes que bebeu ou bebe, influencias das suas letras?
Quem mais influenciou o meu estilo foram, no início, os poetas do hermetismo italiano do século passado: Ungaretti, Montale e Quasimodo. Em seguida comecei a apreciar Cecília Meireles, Emily Dickinson, Garcia Lorca e Zila Mamede. Publiquei poemas em várias antologias brasileiras e tenho um livro editado. Mas, confesso, me reputo um poeta medíocre.
SOBRE O RECANTO e OUTROS:
Você chegou ao Recanto quando e através de que e porque, posta suas letras somente aqui ou ainda que não seja o caso de divulgarmos outros espaços, uma vez que a política do site não nos permite, mas poderia nos dizer se tem trabalhos em outros nichos literários?
Comecei a publicar no RL em 2007; descobri o site por acaso. Publico também no famoso Deviant Art, principalmente fotos, mas também textos e poemas, naturalmente em inglês, que é o idioma oficial do site.
SOBRE O PROPÓSITO DA ESCRITA:
Você é membro de uma organização Secreta Demoníaca Mundial e está tentando arrebanhar seguidores com a sua escrita. Qual o propósito da sua escrita. São letras idealistas de concretizar pensamentos ou está ante a impossibilidade disto ou nada disto?
Embora colabore com uma importante revista da Maçonaria italiana, não pertenço à organização alguma. Escrevo na esperança que pelo menos uns leiam os meus textos e reflitam sobre a influência nefasta do radicalismo religioso e de certas ideologias políticas sobre a sociedade moderna. Quanto aos poemas, eles representam apenas uma forma de exteriorizar os meus medos, as minhas mágoas e o meu pessimismo existencial.
SOBRE POLÍTICA e MITOS
A questão política no mundo é alvo de discussões, vivemos um tumultuado de informações e que de fato, estamos remexendo em tumbas e ruínas, o que por um lado é benéfico, por outro tende a ser perigoso. Vieram à tona nomes adorados por alguns e odiados por outros, recentemente no Brasil vivemos uma negação de valores (ou talvez nunca o tivemos), é conturbada essa questão, também no mundo e mais recentemente na Turquia, inclusive postei algo sobre Erdogan e que foi motivo de enes críticas, inclusive suas, poderia nos falar um pouco sobre: Lenin, Stalin, Erdogan, Marx, Hitler e outros que a história tem arquivado, conhecidos e que também desconhecemos, por falta de Educação mesmo. Seria interessante um olhar diferente neste momento mundial, que parecem ruir as fronteiras dos discursos inflamados, deixar em segredo personalidades que estavam guardadas, seus mitos, seus castelos políticos construídos e que ora desmoronam-se diante de discussões dispares, olhos e tiros para todos os lados (de defesa e ataques) não me parece uma boa solução, poderia discorrer brevemente sobre cada um deles?
Mesmo falando “brevemente” sobre os personagens que acabou de citar, seria necessário escrever dúzias e dúzias de páginas e duvido que o leitor iria aguentar até o fim. Deixando de lado Marx, que foi apenas um economista, o que posso dizer é que todos os sujeitos citados têm um denominador comum, que é a ambição, a cobiça pelo poder, o desrespeito pelo indivíduo e seus direitos fundamentais, e que estão (ou estiveram) dispostos a matar inúmeros inocentes para alcançar suas metas de domínio. Quem estiver interessado em aprofundar mais a minha opinião política, leia os meus artigos: “Os Horrores do Comunismo” e “Fascismo e Totalitarismo”.
IDEOLOGIA e TENDÊNCIA POLÍTICA:
É nacionalista, patriótico, reacionário sobre política e ideologias. O seu pensar alinha-se com direita, esquerda, ou é para a frente independente de lado? Seria bom lembrar que há direitas e direitas, esquerdas e esquerdas, esquerdas e direitas sanguinárias, reacionárias, ditatoriais e democráticas. Há direitas e esquerdas inclusivas e também excludentes e nisso igualam-se. Só para esclarecer.
Essa é uma pergunta bem interessante que me permite expressar melhor certas opiniões.
Apesar de, na juventude, ter sido um fervente marxista-leninista, atualmente não me enquadro em ideologia alguma, aliás, detesto essa palavra. Digamos que tornei-me um idealista sem ideologia, um pragmatista. Todos temos ideais. Todos, por exemplo, queremos a paz no mundo. Mas enquanto o ideal representa uma alta aspiração estética, moral ou prática, e nada mais do que isso, a ideologia pretende dar a receita para realizar esse ideal. A História demonstrou que essas “receitas”, além de serem ineficazes, acabaram produzindo regimes totalitários, guerras e dezenas de milhões de mortos. Isso aconteceu devido as ideologias não terem o menor fundamento científico: cada ideologia, tal qual a religião, tem seus alicerces na fé e não na experiência objetiva!
Sobre direita e esquerda, respondo citando uma famosa canção do cantor italiano progressista Giorgio Gaber (1939-2003). O título é cativante: “Direita-Esquerda”. No texto ele se pergunta qual a diferença entre esses dois lados opostos e as respostas são do tipo: “Se o chocolate suíço é de direita, a Nutella inda é de esquerda” ou “Tomar banho na banheira é de direita, no chuveiro decerto é de esquerda”. Esse gênio da música italiana, já em 1994 havia entendido que direita e esquerda nada são se não rótulos impostos por espertalhões que usam máscaras ideológicas visando obter o poder mas, quando estão no governo, se comportam todos da mesma forma.
Durante esses últimos anos, na Itália assistimos ao paradoxo que as medidas mais absurdas e impopulares foram tomadas por governos de “esquerda” enquanto a “direita” é quem atualmente mais defende as instâncias das camadas mais pobres da sociedade. Mas nem sempre foi assim, tudo faz parte do jogo, da politicagem.
SOBRE LIBERALISMO/RADICALISMO: A DEMOCRACIA DA FÉ:
Conte-nos sobre essa ética espiritual moralizante, o niilismo, o ateísmo, o equilíbrio oriental, sobre as crenças ou a total descrença, fale-nos um pouco sobre a simbologia, a espiritualidade, o radicalismo que persegue e exclui, a paz ou a explicação. O que é cada uma delas e o que representam. Existe uma explicação da ciência para a fé de cada um, e o que você espera alcançar falando sobre o simbolismo delas em seus textos?
Não sou nem cristão e nem ateu: sou Deísta. Acredito numa forma de Inteligência superior que organizou a matéria, mas desconheço como essa Inteligência funciona, quais os seus atributos, se é um ser consciente ou algo mais parecido com um programa de computador. Obviamente queria que a vida não terminasse com a morte, que houvesse uma justiça superior e novas experiências no além, mas esse é apenas um desejo ético, não uma verdade comprovada. Quem afirma conhecer o destino final dos seres humanos mente, pois só vale o que pode ser demonstrado e, pelo que sei, até agora ninguém voltou para nos contar o que há do outro lado.
A simbologia dos meus textos é coerente com a minha posição filosófica: parece que a “Inteligência” deixou rastos, indícios da sua ação, e esses rastos podem ser encontrados na Geometria, tida como arte sagrada por filósofos como Pitágoras e Platão. Atualmente continuo trabalhando com assuntos ligados à Geometria e à Física e, em breve, pretendo publicar mais um artigo.
SOBRE A POLÊMICA DA SUA ESCRITA:
Você com as suas escritas tem escrito e metido a mão na cumbuca sobre textos sagrados desde a suposta (ou) criação do mundo, para quem acredita na criação a sua maneira (textos rompidos e corrompidos), essa outra ótica tem irrompido uma discussão nessa cegueira à moda Branca, como diria Saramago, isso de palavras, verdades e mentiras, morte e vida, o que pode ser o maior fracasso de qualquer escritor, mas você não parece se importar muito com isso. Seu destino é naufrago em alto mar, tem um destino ou é só um eu para eu mesmo? Você acredita em Deus? Não me diga que seria mais um desses insanos pentecostais que andam vendendo vassouras magicas e sabões lavandeiros para miseráveis explorados pela fé, ou ainda quem sabe faça parte de alguma organização secreta mundial. Qual o porquê da Escrita do Poeta da Liberdade causar tanta polêmica?
Sobre a minha posição espiritual acabei de responder: considero-me um Deísta que acredita na honestidade como valor absoluto. Ao mesmo tempo, como todo Deísta, recuso as religiões reveladas, os milagres e os dogmas. A meu ver o Cristianismo não passa de uma mitologia na qual uma figura real e histórica, Jesus, foi rapidamente transformada antes num Messias universal e, enfim, nada menos que no Filho de Deus. No entanto, uma leitura atenta, crítica e não dogmática do Novo Testamento, nos mostra que ele foi, basicamente, um patriota antiromano, um profundo conhecedor da lei de Moisés. Foi Paulo de Tarso que, no intento de divulgar um novo credo no Império Romano, inventou um Cristo transcendente, divinizado e pacifista.
Infelizmente, a grande maioria dos cristãos nem de longe aceita que certas “verdades” possam ser questionadas. Por isso os meus textos sobre a religião geram tanta polêmica.
SOBRE A VERDADE:
O que é a verdade. A verdade é descoberta e no momento da descoberta da verdade cai o véu da ignorância e surge a ilusão do conhecimento?
A verdade é a conformidade com o real, é o que pode ser comprovado cientificamente e objetivamente. Dizem que na minha terra, milhares e milhares de anos atrás, o povo tinha certeza absoluta que a Lua, redonda e amarelada, fosse um queijo. Todos acreditavam nisso e os céticos eram tidos como pessoas blasfemas. Mas a verdade é algo de objetivo que não depende do que a maioria das pessoas pensa ou acredita.
Sabe por que no Brasil a grandíssima maioria das pessoas é cristã? Porque foram criados nessa cultura e, desde crianças, certas perguntas não eram permitidas: era obrigatório acreditar sem questionar. Se essas mesmas pessoas tivessem nascido no Egito seriam muçulmanas, se tivessem nascido na Índia seriam induístas, e assim por diante.
SOBRE DEMÔNIOS, DIABO, SERPENTE, PECADOS e MAÇÃS:
(risos) essa pergunta é de um interesse muito pessoal, (risos) rindo aqui, porque não deve ser segredo para muitos que “acham” deduzem que a serpente seja o demônio, ou o representante direto de satã, a Lilith que convida ao pecado. Eu tenho meu conceito, também posso justificar o porquê da afinidade Luciférica com a maçã, a serpente, a luz e a escuridão, mas confesso que estou curiosa para saber a sua sincera opinião. Sem meias palavras, por favor. Fale sobre o que pensa sobre o Diabo?
Não acredito no Diabo! Anjos e Demônios são o fruto da superstição e da ignorância dos humanos.
Quanto às serpentes, são criaturas interessantes e bonitas; às vezes perigosas…
SOBRE ROSAS NEGRAS E UM JARDIM:
Quais cores você cultiva ou cultivaria no seu jardim. Uma breve analogia sobre a influência das suas letras, e o que isso reflete em você?
Não tenho jardim e nunca cultivei flores, mas se tivesse que comprar um carro zero, iria optar pelo vermelho escuro, ou melhor, um grená. Não gosto de preto, é a negação de todas as cores. Todavia, as cores nunca influenciaram os meus poemas. Toda cor tem o seu fascínio.
SOBRE MISTURAR ESTADO E RELIGIÃO:
O que poderia nos dizer sobre a idade das trevas e sobre a Inquisição da Santa Igreja Católica?
Conforme escrevi nos meus artigos: “Cristianismo vs Paganismo” e “Os absurdos do Cristianismo”, o fim do mundo pagão marcou o começo da Idade Média. Enquanto o paganismo foi tolerante, despido de dogmas, pluralista e pragmático, o Cristianismo foi inimigo da Ciência, da Medicina e da Razão. O antigo pagão não vivia no terror do além e seus heróis foram as pessoas que trouxeram benefícios para o Estado ou para a humanidade em geral. Já para o cristão, o paradigma correto era o santo sujo e maltrapilho, que se humilhava e se flagelava recusando tudo o que havia de positivo e construtivo na vida.
A Inquisição foi o instrumento do totalitarismo religioso, da teocracia. Ainda hoje várias nações do Oriente Médio são dominadas por regimes teocráticos. Você gostaria de morar lá?
SOBRE ARQUITETURA e DESIGNERS DA ESTRUTURA QUE ESCREVE:
Você se considera uma simplicidade complexa, uma parada sensata, uma ostra oca, um universo em dois, um espiral, uma amnésia zen, um óculos de Drummond, excesso de poesia, uma parada secreta ou é só um poeta ambicioso ou ainda quem sabe um adorável aliem de dor e prazer?
Considero-me apenas uma pessoa que gosta de escrever, mas tenho consciência que jamais irei entrar no Olimpo dos poetas de nomeada.
SOBRE ATIRAR PEDRAS:
Você recebe muitas pedras em seu castelo de letras. Lá tem pedras que até eu atirei. Todos nós temos telhado de vidro, enquanto uns estão com as fragilidades expostas outros estão protegidos com seus telhados invisíveis. Vamos falar por aqui sobre a questão do heterônimo nas postagens (que eu também sou um) e sobre os comentários fechados: Porque essa proteção heterônimo e comentários fechados?
Fechei os comentários por dois motivos. Antes de tudo, como trato assuntos bastante polémicos, não quero me envolver em discussões que iriam me desgastar e seriam bastante “time-consuming”. Também, tendo que cuidar de uma pessoa idosa e inválida, não posso me dar ao luxo de perder tempo em polémicas estéreis. Quanto ao heterônimo, digamos que gosto de privacidade. Por outro lado, o meu nome de verdade já aparece no Google como autor de trabalhos científicos e artigos ligados ao esoterismo.
SOBRE COMENTÁRIOS:
Comenta-se para fazer propaganda de si mesmo ou troca de favores, inventividade poética ou mero penduricalho ou ainda quem sabe, nada disso seja importante, não escreve para ser lido e como reage as críticas recebidas via e-mail ou em comentários quando expostos?
Escrevo para ser lido, para divulgar as minhas idéias. Não pertenço aquele grupo de autores que deixa seus textos engavetados na esperança que alguém os descubra cem anos depois. Ser lido é a minha única vaidade. Recebi críticas pelo e-mail, que foram bem aceitas. Recebi também ofensas e não gostei.
SOBRE OPOSTOS:
Eles se repelem ou não preciso do meu oposto porque o meu oposto é meu. Não preciso do meu oposto ou ele é a contradição desse oposto que te faz por inteiro ou nada disso?
Os opostos somente se atraem no mundo da Física: pode acreditar!
SOBRE A MEDIOCRIDADE:
Amado, odiado ou uma caverna particular. Considera-se melhor que a maioria ou olha para si e enxerga ela própria (a mediocridade) e desesperadamente aponta a própria apontando para a sujeira do tapete alheio. Sintetize o que é medíocre, mediocridade, quem ou o que?
Quer saber o que é a mediocridade? Olhe para mim e saberá. Fui cientista, mas nada de espetacular, sou poeta e escritor, mas o meu nível é mediano. Quem me acha um gênio fica decepcionado, quem me considera um pateta, ele mesmo o é. O poeta romano Horácio tornou-se famoso por ter inventado a locução “Aurea mediocritas”. Portanto assumo a minha mediocridade: se não for propriamente de ouro, pelo menos que seja de prata. Tento escrever de forma simples para que todos me entendam, mas a poesia tem suas regras e a mensagem, como ensinava o poeta Eugenio Montale, não pode ser gritada aos quatro ventos.
SOBRE A MULHER, A BELEZA, EDUCAÇÃO, COMPORTAMENTO E O SEXO:
Você acha que toda mulher precisa ser bonita para se sentir sexualmente atraído por ela ou esse negócio de beleza não importa e o que importa mesmo é a essência em desfavor da aparência e que esse negócio de beleza é bobagem, conte-nos, que, ou qual beleza é fundamental?
Beleza não é bobagem! Mas o que é bonito no meu conceito, pode ser considerado feio por outra pessoa.
UMA MULHER TE ATRAI:
Pelo olfato, tato, cheiro, olhar ou pelo pensamento?
Os fatores são inúmeros e, entre eles, o pensamento é um dos mais importantes.
AINDA SOBRE MULHER (do ponto de vista de um homem), SEXO, AMOR, FETICHES, TESÃO:
Falamos sobre Deus e Diabo, falamos sobre serpente, maçã e pecado, falamos sobre amor e sexo. Há quem diga que amor é Deus, que sexo não é religião, e que ousar algumas práticas para o prazer dentro de um relacionamento ou fora dele, a quatro paredes ou nenhuma, seja e esteja condenado ao inferno ardente do fogo eterno para os que se dizem cristãos. Como você vê, sente e vive isso dentro de um relacionamento? Vamos falar sobre fetiches, tesão, amor e sexo: Domina, é dominado, ou dois são um e um em dois não é pecado? Como você vê essa questão de lidar com o prazer em todas as suas formas do livre ser?
Amor é uma coisa, paixão é outra. Difícil haver ainda paixão depois de 30 anos de casamento; o que resta é o amor. Quanto aos fetiches são importantes e cada qual deve ter a liberdade de escolher o que mais lhe agradar, desde que seja de forma segura e consensual. No mundo contemporâneo ninguém, justamente, se escandaliza mais diante de um relacionamento gay, mas diga que gosta de algemas e chicotes e a maioria dirá que você é um(a) pervertido(a) sexual!
SOBRE MÚSICA:
Gostaríamos de conhecer um pouco do seu gosto musical…
Desde a adolescência sempre gostei de música sinfônica. Mas me agrada também a MPB, Luiz Gonzaga e canções de autores italianos dos anos ’70 e ’80. Confesso que não sou muito atualizado em termos musicais.
SOBRE LITERATURA DE CABECEIRA:
Sobre a empatia de letras, você poderia nos partilhar quais são os seus autores preferidos ou que tenha afinidade que alinhe o seu pensar?
Sou fã de Voltaire, de Hannah Arendt, e dos historiadores Robert Conquest e Edward Luttwak.
VOLTANDO NO TEMPO:
Algum arrependimento, faria algo diferente, e o que faria, caso pudesse voltar atrás?
Ninguém pode voltar atrás. Mas se fosse possível, voltaria levando no bolso os números da mega-sena! Ahahahah
FUTURO:
Você faz ou tem planos na gaveta, ou o futuro é um ir e deixar seguir, beber e contornar, abraçar o que vier e viver, ou tudo é planejado minuciosamente, nada fora da peneira?
Não tenho muitos planos para o futuro, já estou na terceira idade! Bons planos gostaria que os tivesse meu filho! Os meus planos são que ele se realize e seja feliz.
ESPELHO, ESPELHO, ESPELHO MEU, QUEM SOU EU?
Quem é o Príncipe da Liberdade pelo Príncipe da Liberdade, ele é o cúmplice da máscara de dentro (sem máscaras) ou ele reflete os olhos dos outros em nós sendo esse mesmo que vemos?
Os antigos Gregos diziam: “Conhece a ti mesmo”. Como ainda não consegui me auto-desvendar totalmente, não tenho como responder a essa pergunta.
A arte em todos os sentidos, ela tem amor por tudo que faz, tem o toque delicado que acaricia as flores, que tenta tocar as estrelas, que tenta tocar o infinito. (Serpente Angel)
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Finalizando gostaria de agradecer ao poeta pela saborosa entrevista, espero que vocês curtam porque eu adorei. Por ora satisfaz o “bicho do querer saber mais”, mas só por hora, atiça-me muito mais o que resta do saber mais, e do tanto que ainda fica por não saber, mas que pergunto em depois, eu prometo.
Um olhar mais atento para as letras do poeta teria desvendado o céu do véu no enigma. Adorei todas as respostas e acho realmente que não poderia ter perguntado de outra maneira.
Um grande abraço e obrigada.
Serpente Angel
Nota:
O avatar é uma imagem colhida na internet.
Aqui o link para as letras do PRÍNCIPE DA LIBERDADE: http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=24224