Doutor Luis Fábio (Hematologista)

Hoje temos a honra de entrevistar um dos melhores hematologistas de João Pessoa-PB, doutor Luis Fábio.

Gostaria de iniciar, antes de tudo, agradecendo a oportunidade de poder responder estas perguntas.

Vamos as perguntas:

1- Primeiramente doutor, gostaria de saber qual foi a maior dificuldade que encontrou para se tornar o médico bem sucedido que é ?

R- Bem sucedido é uma questão de percepção e desde já agradeço a gentileza. Acredito que a maior dificuldade que encontrei foi em mim mesmo. Muitos são os obstáculos que os jovens médicos enfrentam durante sua formação e início de carreira, desde de estruturais, até financeiros. Tive momentos que duvidei se era isso mesmo que queria da vida e, de erta forma, deixei que afetasse minha determinação e duvidasse de mim mesmo. Entretanto, chegou uma hora que percebi o quanto era apaixonado pelo que fazia e isto me trouxe uma auto-confiança que me permitiu ter discerniemnto de seguir adiante, vencendo as adversidades que surgiram.

2- O senhor aceitaria trabalhar em alguma ONG de países em guerra ?

R- Sinceramente não. Acho um trabalho admirável, mas creio que a pessoa tenha que ter perfil e muita resignação para isto. Considero-me uma pessoa boa, mas sou mais útil e necessário de outras maneiras

3- Qual o motivo do senhor ter escolhido a Hematologia ?

R- No início do curso queria ser Cardiologista ( provavelmente por uma visão Hollyudiana que eu tinha da Medicina; sempre vendo em filmes os personagens médicos auscultando,etc). Quando cursei a disciplina de Hematologia ela me despertou interesse e, a isso, somou-se a admiração e orientação da pessoa que considero responsável pela minha escolha, o professor Alexandre Magno Pimentel de Oliveira. Então, em resumo, foi uma área queme despertou interesse e cultivado por uma pessoa uqe me despertou admiração

4- Qual foi o caso que mais lhe comoveu em toda sua história na medicina ? Sem citar nomes.

R- Não saberia dizer, foram muitos. Mas vou escolher o caso de uma menina, jovem, de 21 anos, que, durante minha residência médica em Hematologia, estava internada com leucemia em estado avançado e sem perspectiva de tratamento. Dois dias antes de morrer, disse-me que seu sonho era ver um show de Sandy e Junior que aconteceria neste dia, mas não poderia ir por que estava internada. Eu dei alta, ela foi pro show com amigos, fiquei esperando no Hospital ela retornar para readmitir e posso dizer, sem medo de errar, que vi uma pessoa se despedir desse mundo feliz e sorrindo...um gesto simples, de consequências gigantescas. Foi quando entendi que evitar morrer não é, necessariamente, o maior objetivo. Garantir uma vida maravilhosa, é.

5- A leucemia ainda é uma doença complicada de se tratar? Quais as maiores dificuldades?

R- Existem vários tipos de leucemias o que por si só já dificulta. Para muitas delas, o tratamento não mudou muito em relação aos anos 80. O tratamento exige muito do paciente, da família, do médico e o custo é alto. O SUS oferece o tratamento de forma gratuíta, há poucos leitos especializados no país, bem como estruturas adequadas para diagnóstico e acompanhamento. Entretanto, mesmo com todas essas dificuldades, muitos pacientes se curam.

6- Estamos vivendo em uma época de epidemias, como o senhor tem se preparado para evitar ao máximo um erro de diagnóstico ?

R- A melhor forma de se preparar é estar sempre se capacitando, não só tecnicamente, como humanamente. Não há tecnologia no mundo que substitua uma boa anamnese e exame físico. Saber ouvir o paciente ainda é nossa maior arma.

7- Quais são os tipos de linfoma? Qual o melhor de se tratar ?

R- Existem basicamente dois tipos: O linfoma de Hodgkin e o Linfoma não Hodgkin; entretanto este último abrange mais de 30 tumores diferentes e com comportamento distintos. Os linfomas de Hodgkin têm alta curabilidade e um tratamento que é relativamente barato e simples, logo, creio que sejam melhores de tratar.

8- Como o senhor avalia a situação da saúde pública no estado da Paraíba ? E no Brasil?

R- Não sou especialista na área, mas sou usuário. A saúde pública é um problema do tipo areia movediça: Quão mais você tenta escapar, mais você afunda. É inegável que o brasil tem um Sistema de saúde que permite um acesso universal da população, mas a falta de financiamento, a má gestão pública, o custo alto dos novos exames e tratamentos caminham, ineroxavelmente, para um colapso generalizado. Eu costumo dizer que mesmo que não houvesse um desvio sequer de dinheiro, seria inviável sustentar a saúde integral da população. É preciso rever o papel do Estado e seus limites e, óbvio, punir com rigor qualquer forma de corrupção que afete diretamente a Saúde.

9- Qual seu maior sonho?

R- Já realizei. Ser professor da UFPB.

10-Vivemos em um mundo de intolerância para muitos, como você vê os diversos tipos de preconceito, como o de cor, raça, classe social, homofobia, etc... ?

R- Acho que qualquer forma de preconceito é um câncer que deve ser combatido agressivamente. Acho interessante que evoluímos do ponto de vista científico, tecnológico, intelectual e, aparentemente, estamos regredindo no quesito amor ao próximo.

11-O médico tem que ser um pouco psicólogo?

R- Sim. Aliás, todos somos um pouco psicólogos, sejam com nossos amigos, familiares, pacientes. O que não podemos é querer substituir o psicólogo quando este é necessário.

12-Como tratar um paciente hipocondríaco? Dificulta mais um diagnóstico por ele exagerar nos sintomas ?

R- Acho que não tem uma receita de bolo para isso. Mas, se é algo que aprendi, é que paciência e empatia nunca vão atrapalhar

13-Para quem você tiraria o chapéu?

R- Para minha mãe que divorciada soube cuidar muito bem de seus 3 filhos com quase nenhum apoio de meu pai. Ser médico é fácil, educar e criar filhos nos dias atuais, é tarefa complicada

14-Tem admiração por alguma personalidade ? Se sim, quem ?

R- Sim. Embora não seja católico dos mais praticantes, o papa Francisco realmente me transmite uma paz de espírito. Como líder maior da Igreja Católica, ele, finalmente, tá forçando a reforma de ideologia tão necessária, pregando tolerância, criticando os maus padres e, antes de tudo, com humildade

15-Existe muito no seu meio, certas preferências a pacientes com melhor situação financeira ? Você já viu algum caso ? Se sim, como foi ?

R- Acho que em toda categoria profissional, existirão aqueles que são apenas parasitas. Já vi sim, e não foram poucas vezes. Lembro de uma vez que o(a) colega, atendendo num serviço público, passou uma paciente empresária na frente de 6 pacientes que estavam desde ás 4h da manhã esperando. Um deles um idoso do interior. A paciente empresária acabara de chegar e se fez anunciar. A secretária informou que ela teria que esperar os outros serem atendidos. A empresária pegou o celular, ligou para o(a) colega e imediatamente foi atendida. A secretária ainda levou uma bronca por não ter passado a paciente empresária na frente.

Agradeço de coração a entrevista doutor.

Boa noite a todos

Helládio Holanda
Enviado por Helládio Holanda em 21/06/2016
Código do texto: T5674401
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